Há um ponto de convergência entre as opiniões dos fãs e dos haters de Manu Gavassi: ela é uma das protagonistas da maior edição em 18 anos de Big Brother Brasil. No começo desta edição do programa, porém, ao se sentir deslocada em meio ao universo de personagens ao qual ela também pertencia, se retraiu.

Foi ao perder o controle sobre o que tinha programado para si mesma que a grande jogadora nasceu. Manu foi uma das grandes defensoras do feminismo e da sororidade dentro da casa, encarou o quarto branco (e apertou o botão!), estrelou um paredão que entrou para o Guinness com o maior número de votos em um programa de televisão (foram mais de 1,5 bilhão de interações), chamou a atenção da cantora britânica Dua Lipa com sua coreografia de Don't Start Now, virou figurinha de WhatsApp e, ufaaaa, chegou à final no susto, mas com o semblante "leve e de tênis".

Dando uma espiada nas buscas feitas no Google desde que o programa começou, não há dúvidas de que Manu é a que mais desperta interesse nos internautas entre as três finalistas.

Apesar de seu lado zen-feminista já ter sido escarafunchado no programa, quem é a versão real de Manoela Gavassi quando longe das câmeras? Universa conversou com pessoas próximas à artista para entender como ela começou, como se construiu e aonde quer chegar.

Aos 16 anos, Manu entrou para a Galera Capricho, um grupo de leitoras que eram selecionadas todos os anos pela redação da revista adolescente para atuarem como consultoras da marca.

Quem selecionou a ficha de inscrição dela foi Karol Pinheiro, na época estagiária da revista, hoje influenciadora digital e uma das melhores amigas de Manu. "Eu lembro que o que atraiu minha atenção na Manu foi o estilo. Nas fotos que enviou, ela usava roupas coloridas, laços na cabeça e já se vestia de forma diferente das outras meninas da idade dela", conta.

Foi durante uma reunião na editora Abril, que era responsável pela revista, para conhecer as outras meninas do grupo que Manu revelou que cantava. "Na vez da Manu se apresentar, ela pegou um microfone de brinquedo que tínhamos na mesa e fingiu que estava cantando. Foi algo que me marcou muito", conta Karol.

Intrigada por nunca ter visto Manoela soltar a voz de verdade, Karol a incentivou a gravar um vídeo mostrando seu talento. Embora tenha relutado um pouco no começo, Manu pediu ao pai que a filmasse cantando Fearless, da Taylor Swift, na sala do apartamento dele. "Quando saiu no site da Capricho, o vídeo alcançou um número de visualizações muito alto para a época", diz o pai.

Depois do sucesso do primeiro vídeo, Manu pediu aos pais para inscrevê-la em aulas de canto. "Mas quero uma aula de canto séria", pediu. Na Capricho, a redação também ficou impressionada com o talento da menina e logo fez a ponte entre ela e o produtor musical Rick Bonadio.

"Assim que a Manu entrou no estúdio Midas, fiquei apaixonado por ela. De cara vi que era uma garota muito esperta, cheia de estilo e com músicas muito bem compostas", relembra o produtor.

"O principal dom da Manu sempre foi o da comunicação. Ela expressa muito bem seus sentimentos. Era divertido acompanhar as músicas que ela escrevia para os meninos quando era adolescente. Desde cedo ela sabia representar muito bem as garotas da idade dela nas letras e logo dominou a internet e conquistou muitos fãs. Ficou claro para mim que ela era uma grande artista", afirma Bonadio.

Ao longo dos dez anos de carreira, Manu já lançou três álbuns, quatro EPs e um livro, além de ter atuado em duas novelas da Globo ("Em Família" e "Malhação - Sonhos"), na série "Z4", do Disney Channel, e no filme "Socorro, Virei Uma Garota", que chegou aos cinemas no segundo semestre do ano passado.

Nesse meio tempo, ela também estrelou, roteirizou e dirigiu uma websérie chamada "Garota Errada", publicada no YouTube, e elaborou uma série de vídeos com o mesmo nome para subir em seu Instagram enquanto estava dentro do Big Brother Brasil.

Quem conhece Manu a fundo afirma que ela é muito focada e ousada no trabalho. "Ela é uma pessoa absurdamente centrada, disciplinada e determinada", afirma o empresário, Felipe Simas. "Desde que começamos a trabalhar juntos, chamo a Manu de Madonninha, porque a forma como ela entende todos os aspectos de sua carreira me lembra muito a Madonna."

A Manu é muito criativa. Ela pesquisa muito, sempre tem referências debaixo da manga e não precisa de ninguém para colocar seus planos em prática

"Vira e mexe ela me conta alguma ideia mirabolante que teve e eu falo: 'Manoela, desculpa, mas como você vai fazer isso?' e ela dá um jeito e faz", completa Karol. Foi assim com os vídeos que gravou antes de entrar no BBB20.

Quando um produtor de elenco surgiu com a proposta de tê-la na vigésima edição do programa, não levou a sério.

Ao comentar sobre o conivte com o empresário, Manu foi surpreendida pela resposta dele. "Eu disse que achava a ideia sensacional e que ela deveria ir", conta Felipe. "Sempre falei para a Manu que queria que as pessoas tivessem a oportunidade de sentar com ela e trocar ideias, porque elas ficariam fascinadas pela pessoa que a Manu é. No BBB, ela poderia fazer isso na TV aberta, no horário nobre da Globo. Ela achou que eu estava louco."

Mariana Madjarof, amiga e assessora da cantora, foi quem a convenceu a repensar a proposta. "Quando a Manu me disse que não ia porque o programa não tinha nada a ver com ela, eu falei: 'realmente, o Big Brother não é para qualquer artista, mas é para você, sim. Essa é a grande oportunidade de o Brasil te conhecer como a gente te conhece'", conta.

A assessora não poupa elogios à finalista. "Por mais que a Manu tenha anos de carreira, as pessoas não sabiam que ela é essa garota engraçada, que é alguém muito inteligente, honesta e leal. Eu tinha certeza de que se ela fosse para um reality show, o público se encantaria por ela."

Ela pensou. Muito. E então decidiu aceitar o desafio de participar da competição. "Ela me ligou e disse que percebeu que estava negando o convite como forma de autoboicote, porque um de seus grandes medos era o de se expor. Ela falou: 'se apareceu essa oportunidade, vou abraçar, porque deve ter algum propósito'. Mas ela estava apavorada antes de entrar, sim, não vou mentir", entrega a amiga.

Manu, porém, impôs uma condição para participar do programa: ela só iria se produzisse antes uma série de vídeos para subirem no Instagram enquanto estivesse dentro da casa. "Gravamos todos os vídeos em dois dias, editamos no terceiro e, no quarto, ela foi para o hotel para ficar confinada. Nesses quatro dias, a Manu trabalhou das 8h até 1h da manhã, sem dormir direito", diz Felipe.

Os que conhecem a cantora afirmam: ela foi 100% ela mesma durante o programa - até ao ficar sem reação ao ver o show virtual de Dua Lipa em uma das festas, conta o pai. "Muita gente ficou inconformada por ela não ter dançado a música na festa, mas eu sabia que isso ia acontecer. Quando a Manoela era adolescente, era muito fã do RBD. Por causa de um amigo do trabalho, consegui levá-la para conhecer o grupo e ela simplesmente travou. A Anahi perguntou o nome dela e ela não conseguiu responder."

As amigas, por sua vez, dizem que lealdade é o forte dela, assim como vimos no programa com Thelma e Rafa Kalimann. "Ela é daquelas pessoas que, mesmo não estando perto, sei que posso contar", diz Karol. Bruna completa: "As amizades dela são sempre bem sinceras. A gente dá risada, chora, pede conselho, dá bronca, toma bronca, manda e recebe textão no mesmo nível, de igual para igual".

Orgulhoso, o pai relembra do dia em que a filha entrou no programa. "Antes de ser levada para a casa do BBB, ela deixou um bilhete no hotel no qual escreveu: 'ela vestiu o coração e foi'. E foi isso mesmo que Manu fez. Ela entrou no programa dizendo 'eu sou assim, eu realmente chego devagar, observo as pessoas, acho esquisito todo mundo pulando, recuo um pouquinho, mas quando vou, vou com meu coração'."

A despedida também marcou o empresário. "A gente se abraçou no apartamento dela, ela olhou nos meus olhos e disse: 'eu vou ganhar esse programa'. Na época, fiquei feliz simplesmente por ela estar confiante, mas não criei grandes expectativas. Hoje, acredito que ela estava certa. Para mim, a Manu é a ganhadora do BBB20", diz Felipe Simas.

Como uma boa capricorniana, Manu deixou uma série de projetos encaminhados para tocar quando saísse do BBB. Entre eles, estão um talk show e uma série de ficção, inspirada nas pílulas "Garota Errada", roteirizados pela própria Manu antes do confinamento.

A turnê "Cute but psycho Experience", iniciada em dezembro e com shows confirmados para junho e julho deste ano, será adiada por causa da pandemia do novo coronavírus e ainda não tem novas datas definidas. Propostas de atuação em séries e filmes também já estão acontecendo. "Quando a Manu sair do BBB, vamos sentar e apresentar tudo para ela decidir o que quer fazer ou não", conta Felipe.

Uma coisa é certa: novas ideias surgiram dentro do reality. "Com a cabeça frutífera que Manu tem, não tenho dúvida de que ela vai voltar cheia de ideias. A maior dor dela ao ir para o BBB era não ter um bloquinho para anotar tudo", diz o empresário.

O pai, Zé Luiz, está ansioso para reencontrar a filha e ver a reação dela a tudo o que aconteceu aqui fora nesses três meses em que estava confinada. "A Manu nem imagina tudo o que rolou. Ao ver a Dua Lipa, acho que ela pensou 'legal, ela viu nossa dança', mas não tem nem ideia de que 'tamborzinho tamborzinho' virou uma brincadeira ou que o programa foi responsável por emplacar "Don't Start Now" entre as músicas mais ouvidas do Brasil, deixando até mesmo a equipe da própria Dua Lipa intrigada".