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Energizar a vagina? Repórter usou yoni egg por 10 dias e conta como foi

Yoni egg é usada por mulheres para lidar com questões emocionais e físicas; escolhi a de quartzo fumê Imagem: Arquivo pessoal/UOL

Camila Brandalise

De Universa

11/10/2021 04h00

Como se estivesse segurando o xixi, fazia força para segurar no meu canal vaginal um cristal em formato de ovo de cerca de 50g enquanto caminhava de casa para o trabalho. Havia introduzido a pedra 20 minutos antes, deitada na cama.

Chamada de yoni egg —yoni significa "vagina" em sânscrito, idioma antigo da Índia, e egg é "ovo" em inglês—, é usada como terapia alternativa por mulheres com objetivos que vão de fortalecimento do assoalho pélvico a mais prazer no sexo, e indicada por alguns terapeutas corporais e sexuais.

Meu medo ao andar na rua era que escorregasse para fora, o que às vezes sentia começar a acontecer. Para mim, que não uso nem absorvente interno porque tenho aflição de qualquer coisa lá dentro, era como se carregasse uma bolinha de gude de 1 kg dentro de mim.

Os benefícios da yoni egg não têm comprovação científica na área da ginecologia tradicional. Há diversos artigos em inglês afirmando, inclusive, que você deve evitar usá-las, sob risco de infecções ou lesões. Pedi um posicionamento à Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) sobre o assunto, afinal, a terapia com as pedras tem se disseminado cada vez mais. Mas nenhum médico da entidade quis falar porque precisariam "fazer uma boa revisão de literatura para comentar o assunto".

Diante da falta de informações aqui no Brasil, falei com duas ginecologistas, uma natural e outra tradicional, e ambas disseram não ver problema no uso se eu fosse bem orientada. Decidi testar porque, além de ter acompanhamento de uma especialista, gostei do que a terapia propõe em essência: consciência corporal. Como o órgão sexual de mulheres cisgênero é, em sua maior parte, interno, pode acontecer de nos esquecermos dele, diferentemente do pênis. Soma-se a isso o fato de eu ter crescido ouvindo "tira a mão daí" e "fecha essas pernas", que vagina é feia e que mulheres que se interessavam por sexo e pela própria sexualidade valiam menos. Queria sentir que minha vagina existia e topei o desafio. Aqui, conto minha experiência usando uma yoni egg por 10 dias.

Primeiro passo: escolher a pedra

A curiosidade veio depois de fazer um ritual chamado de reconsagração do ventre, conduzido pela sexóloga especialista em saúde íntima feminina Roberta Struzani. Comecei meio cética, com um pé na crença e outro na desconfiança. Mas como ritual de meditação, a reconsagração me ajudou a pensar na minha vida, nas dores que carrego comigo e em como poderia deixá-las para trás, mudando a maneira como me relaciono afetivamente e sexualmente com outras pessoas. Foi ótimo e quis continuar na mesma linha. Aí veio a ideia de usar as yoni eggs.

Pioneira no Brasil na terapia com as pedras, Roberta me explicou como funciona o curso para usá-las e pediu que eu escolhesse um cristal de acordo com meus anseios. Quartzo rosa age na área do amor. Vermelho, da libido. Fumê alivia o estresse, melhora o poder de comunicação e trabalha a prosperidade. A obsidiana, considerada a mais forte, traz as questões emocionais mais profundas à tona. Escolhi a fumê.

'Não vou ter coragem de colocar isso em mim'

Quando a pedra chegou, me assustei com o tamanho e o peso. Achei que fosse menor e mais leve. "Nunca vou ter coragem de colocar isso em mim". Protelei o uso por dois meses.

Acordei em uma segunda-feira de setembro decidida. "É hoje", pensei. Já tinha assistido o curso da Roberta, que consiste em videoaulas sobre as pedras, mas vi de novo as que falavam sobre esterilização e ensinavam a introduzir. Esquentei água para esterilizar e adicionei barbatimão, planta medicinal utilizada pela ginecologia natural para resolver alguns problemas da vulva e da vagina. Como parte de uma "limpeza energética", mantive a pedra embaixo de água corrente por alguns segundos. Depois, a orientação é lavar com água e sabão após cada uso.

Tinha medo de tentar colocar a pedra e ela não entrar, e então descobrir, por exemplo, que tenho alguma questão emocional que me impede de viver uma vida sexual plena, que alguma tensão muscular poderia trazer um trauma à tona.

Só use sob orientação adequada

Pausa no meu relato para um alerta: para quem nunca usou yoni egg, é importante escolher uma que venha com um fio, como um absorvente interno, para poder retirar mais facilmente. Além disso, há técnicas tanto para inserir quanto para retirar. "Nesses momentos, se não seguir algumas orientações, a mulher pode acabar causando uma lesão na área", explica Roberta.

Antes de tudo, fiz a massagem nas paredes do canal vaginal, com o dedo, como ela havia explicado. Com a parte maior da pedra, alisei a vulva para, só então, inseri-la. Para tirar, também tem um truque. "Se você só puxar o fio, vai virar um cabo de guerra, porque a musculatura vai forçar a pedra para que fique lá. Então é preciso fazer um esforço como se estivesse 'expulsando'. Tensiona e expulsa, e aí puxa o fio", diz Roberta.

Ela ainda ensina exercícios de pompoarismo, voltados para o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico. Mas essa já é uma segunda etapa do uso, que ainda não atingi.

Outro aviso é sobre quem não pode usar, e a lista é grande. "Uma mulher que acabou de passar por cirurgia da região pélvica; a gestante, porque já está lidando com uma situação muito intensa; alguém com infecção urinária; uma mulher em um episódio de candidíase; e quem tem prolapso genital, popularmente conhecido como 'queda da bexiga'", explica Roberta. O uso também não é recomendado durante a menstruação.

Minha vagina sugou a pedra

Para minha surpresa, na hora em que coloquei a yoni egg na entrada da vagina, o canal a "sugou". Roberta sugere que nessa primeira experiência deixemos três minutos para depois retirar. A ideia é perceber como é fácil, se seguir tudo que ela fala, e usar o cristal sem medo.

Fiquei tão tranquila quando a pedra entrou em mim que passei seis horas do dia com ela —o tempo recomendado, em geral. Foi divertido. Fazia alguns movimentos com a musculatura da região ao lembrar que o ovo estava lá. Segundo Roberta, a área dos órgãos sexuais e reprodutivos é onde guardamos lembranças, traumas, é um centro de autoconhecimento e de poder feminino. Por isso, estimular essa parte do corpo poderia mexer com minhas emoções. Até agora, porém, não senti nada fora do comum em relação a isso.

Tenho usado à noite, para dormir. Tive muitos sonhos sobre questões profissionais, em cenas com homens e mulheres e normalmente envolvendo machismo. Algumas vezes, me via em uma situação em que eu não conseguia me expressar. Ainda estou tentando desvendar a relação entre o propósito da pedra, de melhorar a comunicação, e esses sonhos.

Não tive uma experiência sexual depois de começar a usar para dizer se aumenta o prazer. Mas uma coisa senti com muita força: depois dos primeiros dias usando a yoni egg, ao tensionar a região —aquele movimento de segurar o xixi—, uma microonda de bem-estar subia pelo meu corpo, vindo até o peito, por uns três segundos.

Conheci uma mulher que usou as yoni eggs e percebeu que, depois de começar a introduzi-las, passou a ter mais lubrificação. "Usei por um ano, não regularmente, mas realmente senti essa mudança na produção de lubrificante natural do meu corpo", disse a cientista social Lina Lessa Lucas, 26.

Saldo final: vou usar de novo, mas só parada

No dia em que andei na rua com a yoni egg, estava indo para a primeira reunião presencial de trabalho desde o início da pandemia. Essa é outra indicação de uso: uma situação específica que vai te exigir, por exemplo, eloquência, concentração, calma. Não sei dizer se foi por causa da pedra, mas, quando precisei, tudo isso estava lá comigo.

Contei para as colegas que estava com o cristal e fiz piada do medo de que caísse. Falei da rotina de uso para olhares atentos e curiosos. Foi interessante conversar com elas, todas mulheres, sobre como a gente realmente esquece que tem um órgão tão poderoso dentro de nós. E é por ter me despertado para isso que pretendo continuar usando o ovo.

Mas depois de conversar com uma fisioterapeuta especializada em assoalho pélvico, a Laura Della Negra, vou usar só em casa. "Quando se usa a yoni egg por um tempo e em movimento, vai fazer o assoalho pélvico ficar ativado o tempo inteiro, numa contração constante. Desse jeito, a área é hiperestimulada. É como se você tivesse fazendo uma contração do bíceps, no braço, por oito horas seguidas. Não é saudável", explica.

Além disso, ela diz que muitas mulheres precisam relaxar a região, e não fortalecer, como acredita o senso comum. "Para saber qual é o seu caso, só fazendo uma avaliação", complementa. "Mas para usar deitada, se quiser trazer uma boa energia, não fará mal."

A indicação de Roberta é fazer um "tratamento" por três meses. Mas diz que tem percebido resultados muito mais rápidos das pacientes. Então, me explicou, é possível que em 20 dias eu já perceba mudanças maiores. Mesmo que nada mais aconteça, acho que já valeu a experiência. Conhecer mais o meu corpo e a minha sexualidade, mesmo depois de anos aprendendo que era melhor não dar atenção para essa parte, foi uma maneira de me divertir com quem sou e de ficar feliz por ter nascido mulher.

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