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Penélope Cruz diz que foi adotada por bebê em novo filme com Wagner Moura

Penélope Cruz no Festival de Veneza Imagem: Getty Images

Flavia Guerra

Colaboração para Universa, de Veneza

06/09/2019 04h00

A passagem de Penélope Cruz pelo Festival de Veneza, nesta semana, já vinha carimbada como uma das mais aguardadas. Para aumentar o frisson em torno da participação da atriz espanhola na première mundial do filme "Wasp Network", de Olivier Assayas, que concorre ao Leão de Ouro 2019, ela era a única mulher em meio a uma trupe de homens que fazem orgulho ao cinema latino: o mexicano Gael Garcia Bernal, o brasileiro Wagner Moura, o venezuelano Edgar Ramirez e o argentino Leonardo Sbaraglia, além do produtor brasileiro Rodrigo Teixeira.

Em meio a essa babel latina, Penélope é a mulher de destaque não só em meio ao casting mas também em uma trama que, mais que repetir os clichês de filmes de espiões, trata da questão humana e familiar das vidas dos que escolhem ser agentes duplos. O filme é inspirado no livro "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", de Fernando Morais, sobre a história real de agentes secretos cubanos infiltrados em organizações dos Estados Unidos. Na trama, que se passa nos anos 1990, Penélope é Olga, mãe, mulher e operária que se vê sozinha depois que o marido René (Edgar Ramirez), piloto, voa para Miami e nunca mais volta.

Em meio ao clima tenso, ela tem de decidir se abandona seu país para reencontrar o marido ou se o perdoa. Mas tudo é ambíguo em "Wasp Network". E é justamente a relação de Olga com René que dá a dimensão aos espectadores não só do que as famílias passaram, mas também as mulheres.

"Na vida real, o marido de Olga passou mais de dez anos na prisão. Ela passou somente um mês, mas poderia ter sido muito mais. E ficou um bom tempo separada de suas filhas. Tudo isso, além do fato de nunca poder falar sobre o que lhe ocorria, fez parte de quem ela era", diz Penélope, em entrevista a Universa, no festival.

'Ela me chamava de mamãe'

Para viver Olga, a atriz não só teve um professor que lhe ajudou a trabalhar por meses o sotaque cubano como também procurou entender a vida das mulheres de Cuba. "A Olga se viu obrigada a escolher passar um tempo longe das filhas, tanto da filha mais velha quanto da filha bebê. Ela teve de mostrar muita força. E as cubanas são mulheres fortíssimas", diz ela, que contracenou com uma bebê que praticamente a adotou.

"Aconteceu algo mágico com essa menina. Ela me chamava de mamãe. Estava totalmente envolvida e nem ao menos sabia falar. Se a gente tivesse explicado a história, ela não teria entendido. Mas ela entendeu tudo, de um lugar muito mais profundo."

A atriz se disse impactada pela atuação da criança. "Diziam ação e ela me beijava na cena. Quando eu ia embora, ela chorava. Ficamos muito impressionados. Quando filmamos na prisão com o Edgar, ela beijava o vidro. Eu, que sou mãe, fiquei muito encantada com a nossa relação", conta a atriz, que tem na maternidade sua maior prioridade.

Quando questionada na conversa com a imprensa de Veneza sobre quais eram seus maiores medos, citou a tecnologia e seu efeito sobre as crianças. "Minha relação com a tecnologia é complicada. Queria que a gente tivesse vivido nos anos 1990 por um pouco mais de tempo. Certamente, por questões de saúde mental, teria ajudado muito."

Ansiedade generalizada

Penélope diz que faz questão que seus dois filhos, Leonardo e Luna, tenham uma infância conectada ao mundo real. E não se sente preparada para a rapidez com que tudo ocorre no mundo hoje. "Posso estar sendo exagerada, mas estou convencida de que a gente tem uma relação difícil com a tecnologia."

"Adolescentes e crianças estão em contato com a tecnologia por tempo demais. E leva tempo para que as crianças aprendam a se comunicar, a brincar, a sentar-se à mesa para o jantar, a falar com seus pais, seus amigos, a ter coragem, algo que é muito importante de aprender."

A atriz, que ganhou o mundo nos filmes do cineasta espanhol Pedro Almodóvar e foi reconhecida com o Oscar de atriz coadjuvante, em 2008, por "Vicky Cristina Barcelona", também vê com preocupação o excesso de exposição dos adultos no mundo virtual. "Em todos nós isso está causando um estado de ansiedade generalizada. Se a gente continuar assim, nossos cérebros vão explodir."

Frequentadora de Noronha

Ainda assim, a atriz diz torcer por pessoas que ofereçam alternativas a esse estado de vida acelerado. "Eu espero que as pessoas que querem viver de uma forma alternativa façam algum movimento que nos desperte mais consciência e nos leve para outro tema que me preocupa muito: a questão do meio ambiente, que é nosso problema principal."

Ao conversar sobre meio ambiente com Universa, Penélope se lembra do Brasil e, claro, do lugar para onde vai quando quer se refugiar desse excesso de exposição e tecnologia: Fernando de Noronha. "Falo só um pouquinho de português, mas Noronha é um dos lugares mais lindos do mundo."

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