Marrocos detém feminista envolvida em campanha a favor do aborto
A feminista marroquina Ibtissam Lachgar, uma das mais conhecidas no país pela defesa das liberdades individuais, foi detida pela polícia em Rabat, segundo denunciou nesta sexta-feira em comunicado o Movimento Alternativo pelas Liberdades Individuais (Mali, associação da qual é cofundadora e porta-voz).
A ONG denunciou que Lachgar foi detida após uma campanha que o movimento lançou recentemente para sensibilizar as mulheres sobre as pílulas abortivas, e acrescentou que as autoridades acusam a ativista de "causar distúrbios na ordem pública por embriaguez".
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"O Mali expressa com veemência sua inquietação (...) reivindicamos sua libertação o mais rápido possível, se isto não acontecer, continuaremos nossa ação até conseguirmos sua liberdade", ressaltou a ONG na nota publicada em sua conta no Facebook.
Nenhuma fonte oficial se pronunciou até o momento sobre o caso.
A campanha lançada pelo Mali consiste em oferecer uma série de propostas às mulheres que querem interromper uma gravidez não desejada, mediante a mobilização de uma linha telefônica para atender essas mulheres e oferecer de graça soluções de abortos farmacológicos.
O governo marroquino aprovou em 2016 uma reforma que legalizou pela primeira vez o aborto no país, mas o limitou a três casos: incesto, estupro e má-formação do feto.
A prática do aborto nos casos não contemplados por lei é penalizada com penas de até cinco anos de prisão para o médico que realizá-lo. As condenações também se estendem às pessoas que ajudam o médico.
Tanto o Mali como outras ONGs feministas denunciaram frequentemente o perigo que os abortos clandestinos praticados no Marrocos (entre 600 e 800 diários) representam para a vida das mães.
O Mali é conhecido por suas iniciativas audaciosas para defender as liberdades públicas no Marrocos: em 2009, os membros do movimento foram detidos pela polícia quando tentaram romper publicamente o jejum do mês sagrado do ramadã em frente a uma estação de trem e em pleno dia, uma prática punida por lei no país.
Em 2012, a ONG convidou ao país o navio-hospital da organização holandesa pró-aborto "Women on Waves" para dar informações sobre métodos abortivos, mas as autoridades marroquinas impediram então a embarcação de entrar em suas águas territoriais.