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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Advogada ameaçada de morte é mais uma defensora de mulheres violentada

Colunista de Universa

02/03/2023 04h00

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Nesta semana o Brasil ficou sabendo de mais uma mulher sendo ameaçada por defender outras mulheres. Trata-se da advogada e ativista feminista Luanda Pires. Pela sua atuação no movimento Me Too Brasil, ela atua em casos de defesas de vítimas de violência sexual e já atendeu, pelo menos, 250 pessoas. Infelizmente, o ódio contra mulheres atinge todas nós, inclusive aquelas que dedicam suas vidas em defender quem já foi vítima dele.

Antes de mais nada, quero deixar registrado todo meu apoio, amor e parceria para Luanda. Somos amigas e dividimos esse conturbado campo de defesa de direitos humanos de mulheres. Não posso imaginar o que minha amiga está sentindo, mas posso afirmar que, de forma alguma, ela passará por isso sozinha.

No dia 8 de novembro do ano passado, Luanda recebeu um e-mail a alertando que um homem acusado por mulheres atendidas pelo Me Too Brasil estava alardeando por aí que a queria morta e que estava buscando os meios para isso. Pouco tempo depois, um homem, que estava acompanhado por outros dois, invadiu o carro de Luanda de forma sorrateira e rápida e não levou nada de dentro do veículo. Essa movimentação foi registrada por câmeras de segurança.

O carro foi vasculhado e, nele, foi encontrado um dispositivo que, ao que tudo indica, é um rastreador de localização, o qual, obviamente, tem a intenção de indicar onde Luanda está. Felizmente esse dispositivo foi encontrado rapidamente.

O caso da Luanda, infelizmente, não é isolado. Quem é do campo ativista feminista jurídico já ouviu diversos relatos de advogadas que são violentadas pelos agressores de suas clientes. Elas são ofendidas, inclusive, pelos advogados que defendem os agressores, os quais usam os processos para espalharem todo o ódio que sentem contra mulheres em geral.

Quando uma mulher, negra e lésbica, como Luanda, decide que fará o que quiser com a sua vida e que esse desejo consiste em transformar o mundo em lugar mais seguro para meninas e mulheres, a reação defensiva da masculinidade é praticamente instantânea. E, notem, não há qualquer pudor para que essa defesa seja o extermínio da vida alheia.

Da mesma forma que Thiago Schutz não sente nenhum constrangimento em ameaçar mulheres com "processo ou bala" quando sua mediocridade e suas fraquezas são debochadas.

Está mais do que óbvio que a masculinidade dominante e seus agentes, homens héteros, brancos e cis, está incomodadíssima com a nossa existência. Eles têm total convicção de que o mundo é deles e que podem fazer o que e como quiserem.

Essa masculinidade é patética, frouxa, mesquinha e não aguenta nem por um minuto ser alvo de deboche ou questionamentos, ao passo que se permite zoar, ameaçar, agredir, bater e matar quem exponha o tamanho minúsculo que esses homens orgulhosos de serem odiosos têm.

Precisamos articular uma resposta pública e institucional para essa onda avassaladora de misoginia que estamos vender emergir, especialmente nas redes.

Há quem defenda a criminalização da misoginia, do mesmo modo que foi feito com a LGBTfobia. Entendo essa demanda, mas acredito que a resposta não é pelo crime em si, e sim pela esfera civil. Defendo a criação do Marco Civil de Gênero como escrevi na coluna de 10 de fevereiro do ano passado. Uma única lei que regule, de uma vez por todas, a igualdade de gênero, como determinado na Constituição Federal.