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Dia Mundial Sem Tabaco: Médico explica a diferença entre vício e dependência

Cristina Almeida<br>Especial para o UOL Ciência e Saúde

30/05/2008 22h25

Assim como fumar saiu de moda, o termo "vício" já não é o mais correto quando se trata de largar o cigarro. É o que defende o professor de tabacologia da Universidade La Sapienza, de Roma, Giacomo Mangiaracina. "O oposto de vício é virtude. Se a questão dependesse de ser virtuoso ou não, o especialista competente para a solução desse mal seria um religioso", ironiza o médico, autor de "Curare il Fumo" (Edup Editore, ainda sem tradução no Brasil).

Com o surgimento da adictologia, ciência que estuda dependências de todo o tipo, hoje a abordagem com o paciente deve envolver uma análise da relação complexa existente entre a pessoa e determinado tipo de comportamento, ou seja, é preciso verificar porque um indivíduo repete atitudes que sabe serem nocivas para si. Segundo o especialista, o objeto de compulsão não é tão importante. "Uma pessoa pode ser dependente do trabalho, do jogo ou das compras".

"O problema requer solução guiada por novas competências profissionais e não existe uma receita única para parar de fumar", diz Mangiaracina. "As pessoas devem ficar atentas com receitas prontas para esse fim", completa. Para ele, não se trata simplesmente de largar o cigarro, mas realizar uma mudança pessoal mais ampla.

Para o psiquiatra Flávio Gikovate, parar de fumar foi uma das coisas mais difíceis que conseguiu fazer por si mesmo e, por isso, é também sua maior fonte de orgulho, talvez mais importante do que os resultados obtidos pelo reconhecimento profissional. Sua experiência é relatada no livro "Fumar, um adeus possível" (MG Editores).

O psiquiatra conta que estabeleceu uma idade limite para se decidir: 50 anos. Foi mais ou menos nessa época que a batalha começou, não sem a preocupação de que um possível infarto seria mais rápido do que ele. "O desafio aparecia como um terrível obstáculo a vencer. Não tinha vontade de enfrentá-lo, mas a partir do momento que o fiz, tive que continuar. Aí, sim, fui ficando cada vez mais orgulhoso com minhas conquistas".

Ele montou uma estratégia temporal para se desligar da nicotina: um ano era o seu prazo para consumar o processo. Primeiro vieram os intervalos de 12 horas a cada cigarro; depois a escolha de não fumar no carro, na ruas. O passo seguinte foi a troca periódica da marca do produto. "Contando desde o início do procedimento, penso que a dependência química nos prende por poucas semanas".

O problema, segundo ele, foi superar a dependência psicológica. Ele experimentou a manifestação daquilo que os viciados chamam de "fissura". "O mais interessante foi observar que essa sensação se desfazia em poucos instantes e desaparecia. A partir daí, as coisas começam a ficar mais fáceis", testemunha.

"Só quem passou por todo esse processo sabe o quanto é deprimente a sensação de depender do cigarro: sair correndo do cinema ou de um aeroporto, apenas para inalar uma fumaça sem graça e sem gosto".