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Apoio militar contribui para pesquisas científicas do Chile na Antártida

25/01/2016 06h02

Manuel Fuentes.

Santiago (Chile), 25 jan (EFE).- O apoio das forças armadas do Chile está impulsionando o desenvolvimento da ciência deste país na Antártida, segundo destacam os pesquisadores que integram a expedição que trabalha atualmente na remota Geleira União, uma inóspita paisagem situada a mil quilômetros do polo sul.

"Graças a esta mistura cívico-militar que obtivemos no Chile, conseguimos construir uma ciência poderosa e bem-vista em nível mundial", afirmou o pesquisador do Instituto Antártico (INACH), Jorge Gallardo.

O Chile começou a instalar bases navais no território antártico em 1947 para apoiar sua aspiração defensora da soberania, mas com o transcorrer dos anos elas foram se transformando em instalações científicas que, em muitos casos, compartilham o mesmo espaço que os recintos militares.

A primeira expedição antártica chilena teve como destino as ilhas Shetland do Sul há quase sete décadas com o objetivo de obter informações geológicas, da flora e fauna e da geografia de um território que então começava a ser descoberto.

Hoje em dia o Chile utiliza suas bases na Antártida como plataforma para desenvolver a pesquisa polar, especialmente em lugares que guardam um grande interesse científico.

As maiores instalações são as bases "Professor Julio Escudero" e "Guillermo Mann", ambas do INACH; "Arturo Prat" (da marinha), "Feneral Bernardo O'Higgins" (do exército) e "Gabriel González Videla" (da força aérea).

Elas também apoiam os pesquisadores nas expedições aos lugares mais remotos do continente branco, como a inóspita Geleira União, situada a 79 graus de latitude sul, a 1.080 quilômetros do polo sul e que abriga um extraordinário valor para a ciência.

Organizar uma missão científica à geleira é uma tarefa de grande envergadura que evidencia o avanço da ciência antártica chilena, à altura de potências expedicionárias como China, Grã-Bretanha e Estados Unidos.

"Há muitos países que se aproximam de nós através do Instituto Antártico Chileno para realizar campanhas científicas", destacou Jorge Gallardo, chefe da expedição científica.

A viagem à Geleira União "é ao mesmo tempo um desafio científico e pessoal", considerou este pesquisador, que ressaltou que missões desta envergadura são possíveis "graças ao apoio dos outros operadores antárticos".

Os exploradores do exército, os aviões da força aérea que prestam apoio e o pessoal da marinha que opera na base tornam possível que os grupos de cientistas possam fazer trabalhos de campo durante várias semanas coletando amostras que depois serão analisadas em laboratório.

A Geleira União - para a qual o Chile mandou uma missão pela primeira vez em 2014 - é um lugar inexplorado. "Nos enfrentamos à possibilidade de que aconteça algo e de encontrar coisas que ninguém mais encontrou", comentou Gallardo.

As pesquisas no continente branco podem oferecer soluções a problemas da medicina, da indústria e outras atividades econômicas.

"A Antártida esteve separada do continente americano há quase 30 milhões de anos. Esse isolamento geográfico, junto com condições meteorológicas extremas, originou uma evolução diferente dos organismos que lá vivem", explicou.

"Os lugares aos quais vamos jamais foram visitados. O que pretendemos é encontrar bactérias que possam proporcionar genes resistentes a condições ambientais extremas", acrescentou o chefe da expedição organizada pelo Instituto Antártico Chileno.

A Geleira União é um lugar muito seco, praticamente um deserto. Os micro-organismos que vivem cercados de milhões de toneladas de gelo paradoxalmente podem ajudar a ciência a enfrentar melhor problemas como as prolongadas secas.

A Antártida marinha, essa outra área do continente situada na península e em arquipélagos como as ilhas Shetland do Sul, também é um paraíso para a pesquisa científica.

"Lá encontramos bactérias que produzem antibióticos naturais", detalhou Jorge Gallardo. "Pode haver uma grande diversidade de bactérias que sejam capazes de resolver o problema da resistência aos antibióticos na medicina".

Para os leigos pode ser difícil imaginar que possam existir organismos que vivem a 50 graus abaixo de zero e à revelia total de precipitações. É algo que parece próprio de outro mundo, reconheceu o cientista do INACH.

"Por enquanto não temos nenhum projeto de exobiologia, mas pretendemos que no futuro se incorporem a esta expedição projetos que vejam coisas relativas a como pode ter se originado a vida na Terra ou como a vida pode estar evoluindo em outros planetas", concluiu Gallardo.