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Brasil e parceiros latino-americanos pressionam por Fundo Verde na COP-17

Em Durban

07/12/2011 18h31

Brasil, México e representantes da América Central enfatizaram nesta quarta-feira a necessidade de ativar o novo Fundo Verde para o Clima (FVC), um dos assuntos principais das negociações da 17ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-17) da cidade sul-africana de Durban.

O negociador-chefe do Brasil na cúpula, embaixador Luiz Alberto Figueiredo, se mostrou otimista sobre o Fundo e espera que esteja totalmente operacional o mais rápido possível.

"Tenho ouvido que alguns países europeus mostraram intenções de fazer contribuições. É uma boa notícia, de que vão cumprir seus compromissos de financiamento a curto e longo prazo", disse Figueiredo, que representa o país designado facilitador de um acordo entre as partes.

"Devo dizer que estou otimista com os resultados desta cúpula, e acredito que estamos perto de um bom resultado no que diz respeito ao assunto principal desta conferência: o segundo período do Protocolo de Kyoto e os passos necessários para conseguir um acordo global após 2020", destacou o embaixador.

O presidente do México, Felipe Calderón, protagonizou a declaração mais contundente dos países latino-americanos, ao pedir nesta quarta-feira ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que convença Estados Unidos e Arábia Saudita a aprovarem o Fundo.

"O FVC recebeu o beneplácito da maioria dos países, mas há alguns, como EUA e Arábia Saudita, que continuam se opondo", disse o líder mexicano em uma mensagem em vídeo emitida durante um ato realizado na cúpula.

"Como não podemos avançar sem um apoio total, peço ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que construa o consenso necessário, especialmente com essas nações", ressaltou Calderón, que se desculpou por não poder estar presente na COP-17.

O vídeo foi visto, entre outros, pelo próprio Ban Ki-moon, assim como pelos primeiros-ministros da Noruega, Jens Stoltenberg, e Etiópia, Meles Zenawi, que participaram do evento.

O FVC consiste em um instrumento que deverá administrar US$ 100 bilhões anuais comprometidos pelas economias industrializadas, que a partir de 2020 devem ajudar os países mais pobres a adaptarem melhor suas economias à tecnologia verde e ao clima extremo.

O Comitê de Transição, estabelecido por mandato da cúpula de 2010 em Cancún (COP-16) e formado por especialistas de diversas áreas, trabalhou neste ano na elaboração dos mecanismos do FVC.

As diferenças sobre as fontes de financiamento e o acesso aos fundos, entre outras questões, impediram um acordo antes da reunião de Durban, com a rejeição dos EUA e Arábia Saudita.

"Muitos países iniciaram ações significativas, mas devemos fazer mais em nível internacional para conseguir o objetivo que decidimos em Cancún", declarou Calderón, referindo-se ao limite de dois graus centígrados para o aumento da temperatura média do planeta até 2020, considerado pelos cientistas um risco para humanidade.

"A única maneira de conseguir isso é fornecer o financiamento necessário. Os países em desenvolvimento não têm recursos suficientes por si mesmos para agir de maneira efetiva contra a mudança climática", ressaltou o governante mexicano.

Apesar do pedido que Calderón transmitiu a Ban Ki-moon, o enviado especial dos EUA para Mudança Climática, Todd Stern, afirmou nesta quarta-feira que as negociações para ativar o FVC seguem muito bem, mas admitiu que ainda existem algumas divergências.

No entanto, a ONG Oxfam acusou os EUA de colocarem obstáculos na negociação, condenando o Fundo a começar como uma caixa vazia.

Os países do Sistema da Integração Centro-Americana (Sica) defenderam nesta quarta-feira o início das atividades do FVC, para que a região possa se adaptar à meteorologia extrema provocada pela mudança climática.

"Nossos países estão sendo afetados pelo clima extremo. Precisamos de financiamento o mais rápido possível", disse o ministro de Meio ambiente e Recursos Naturais de El Salvador, Herman Rosa, cujo país exerce a Presidência rotativa do Sica.

Em entrevista coletiva de responsáveis ministeriais do Sica, Rosa ressaltou que um dos grandes objetivos do organismo regional é conseguir ativar o Fundo Verde para o Clima, dada a vulnerabilidade da região aos fenômenos climáticos extremos.

"Nos preocupa o fato de que o clima já se alterou de forma muito grave, e que nós estamos pagando os pratos quebrados por uma festa à qual não fomos convidados", criticou Rosa, em alusão às emissões de gases do efeito estufa dos países desenvolvidos.

"Para nós, o assunto crucial é o clima extremo. Nos anos 1960 e 1970, a América Central não era afetada por ciclones tropicais do Pacífico. Agora, os fenômenos mais destrutivos vêm do Pacífico", acrescentou.

Quem também participou da entrevista coletiva foi o vice-ministro de Meio Ambiente da Guatemala, Carlos Moino. Ele alertou para o "efeito negativo multiplicador da mudança climática" que atinge as populações mais pobres. "Milhares de pessoas morreram na América Central. O povo mais vulnerável é o que mais está sofrendo".