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Polícia que joga Counter Strike? Como funciona patrulha online da Dinamarca

Sisse Birkebæk, chefe da Pop (Patrulha de Polícia Online), da Dinamarca, na estação policial de Ejby, em Copenhague Imagem: Sergei Gapon/AFP

De Tilt, em São Paulo

02/05/2024 04h00Atualizada em 02/05/2024 17h21

A polícia do seu país dança macarena no TikTok e joga Counter Strike? Essas não são atividades comuns exercidas por policiais, mas na Dinamarca, sim. O país tem uma unidade chamada Pop (Poliets Online Patrulje, ou Patrulha Policial Online, em tradução livre), que, em vez de ficar zanzando pelas ruas de Copenhague num carro de polícia, faz lives jogando os games do momento e tem uma presença nas redes sociais que conversa com o público mais jovem.

"Com uma patrulha de carro numa escola, conseguiríamos atingir entre 50 e 100 estudantes. Quando fazemos lives, atingimos milhares de pessoas, entre 3.000 e 4.000 acessos simultâneos", disse a superintendente da Pop, Sisse Birkebæk, em conversa com Tilt.

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Fundada há dois anos, a Pop foi uma iniciativa de legisladores do país de fazer a polícia se aproximar mais do público jovem, que passa boa parte do tempo online. A ideia, então, foi tentar fazer isso de duas formas:

falando com esse público por meio de transmissão online e participação de eventos de e-sport;

estar presente nas redes sociais mais usadas por esse público, como Discord, TikTok, Twitch, Instagram e Reddit.

Policiais da Patrulha Online, da Dinamarca, jogam game de tiro online; divisão tenta se aproximar de público jovem com presença online Imagem: Sergei Gapon/AFP

A equipe tem ao todo dez pessoas, contando com Birkebæk, que chefia a divisão: são sete policiais, recrutados dentro da própria polícia e que tinham conhecimento em jogos online, uma pessoa para criar os conteúdos para as redes sociais e um civil especialista em Osint (técnica que consiste em obter informações de fontes públicas) —essa pessoa, explica a superintendente, ajuda a encontrar dados de pessoas denunciadas.

Como assim patrulha online?

A Pop não é uma delegacia virtual, que registra boletim de ocorrência de crimes online, mas um canal de comunicação com o público que informa e recebe dicas das pessoas.

Tentamos ousar no que as pessoas estão acostumadas a ver a polícia fazer, falando a mesma língua deles quando estamos jogando ou fazendo lives. Mesmo nas nossas transmissões não expulsamos as pessoas do chat. A gente tenta incentivá-las a se comportar bem durante o jogo. Sisse Birkebæk, superintendente da Pop

Quanto tempo os policiais passam jogando? "Menos do que parece, vendo nosso TikTok", afirma Birkebæk, rindo. Especificamente, eles fazem duas lives por mês, com duração de 5 horas cada. Nelas são jogados games da moda na Dinamarca (como Fortnite, Counter Strike, Fifa, Minecraft e Roblox) e são transmitidos via Twitch com o chat aberto.

Perguntam de tudo: como se tornar um policial, se precisa de licença para dirigir patinetes elétricos (na Dinamarca, é necessário para maiores), sobre o que é crime e o que não é, além de buscarem ajuda e darem dicas de possíveis crimes cometidos online.

Antes da nossa presença online, ninguém sabia o que fazer quando se deparava com algo errado. Ninguém vai a uma delegacia após ver um problema online, e as crianças muitas vezes não falam com um adulto o que está acontecendo. Então, se eles veem alguma coisa, nos marcam no Discord ou enviam links para nossas redes sociais. Sisse Birkebæk, superintendente da Pop

O que mudou

Em dois anos, a Pop já ajudou a solucionar 70 casos dos mais diversos tipos, como hackeamento em jogos online, abuso sexual, fraude financeira, venda de drogas, extremismo e radicalização.

Para Birkebæk, o mais grave foi um envolvendo 19 meninos que foram abusados sexualmente por um pedófilo na internet. O homem, no caso, oferecia brindes em jogos ou dinheiro virtual em troca de fotos dos garotos. Ele foi preso após pistas e múltiplos relatos obtidos pela polícia.

Os meninos não disseram aos pais o que estava acontecendo, então nós tivemos que falar e eles ficaram chocados. Por culpa ou vergonha, os garotos acabam não falando para ninguém o que ocorre online.
Sisse Birkebæk, superintendente da Pop

De acordo com superintendente, o crime chamou a atenção, pois casos contra garotas costumam ser bastante reportados por ONGs que atuam nessa área. No entanto, contra garotos parece ser algo menos comum, mas, segundo ela, é bem frequente.

Como quase toda instituição com perfil, a patrulha também é alvo de ódio na internet. Muita gente entra nas redes sociais da polícia dizendo que é perda de dinheiro ter policiais jogando online ou fazer vídeos engraçadinhos no TikTok. "Costumo responder que não custa mais que um carro novo de polícia, com a diferença que conseguimos atingir muito mais gente do que se estivéssemos fazendo patrulha nas ruas", diz a superintendente.

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