Humanos transferem racismo a robôs, mostra estudo
Por mais que a inteligência artificial tenha avançado, robôs não chegam nem perto de demonstrar reações humanas como ter empatia por alguém, corar diante de algo constrangedor ou de sentir dor. Algumas características físicas, como cor, aliás, são escolha do fabricante e nada mais. Ainda assim, pesquisadores descobriram que seres humanos transferem para robôs sentimentos racistas. Ou seja, pessoas discriminam máquinas por conta de sua cor.
Um estudo envolveu pesquisadores das universidades de Canterburry (Nova Zelândia), Guizhou (China), Victoria (Austrália) e Bielefeld (Alemanha). A pergunta que eles queriam responder era: humanos podem transmitir a robôs os preconceitos raciais que nutrem por outros humanos?
A resposta foi "sim", mas antes de seguir adiante, é bom esclarecer que os pesquisadores não impuseram a noção de que as máquinas possuem raça. Foram os próprios participantes que afirmaram isso. Após serem expostos a robôs de diferentes cores, eles foram questionados se haviam visto máquinas brancas, negras ou se "não se aplica". Apenas 11% assinalaram essa última opção.
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Os cientistas aplicaram um teste online a um grupos de voluntários. Geralmente, esse teste exibe aos participantes imagens em que pessoas negras e brancas são dispostas ora armadas ora desarmadas. Se essas pessoas estiverem portando armas, os participantes do teste devem "atirar". Caso contrário, devem evitar puxar o gatilho. Em meio a gente de carne e osso, os pesquisadores incluíram robôs pretos e brancos.
Conclusão: o tempo para atirar em negros e robôs pretos era menor do que o para disparar contra caucasianos ou robôs brancos. Além disso, os participantes analisavam mais demoradamente se deveriam atirar ou não quando pintava na tela um caucasiano ou um robô branco.
"Essas descobertas ilustram uma discriminação do atirador tanto contra humanos como contra agentes robôs. Isso é uma clara indicação do racismo contra pessoas negras e contra robôs indicados como negros", afirmou Christop Bartneck, da Universidade de Canterburry, ao site do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônico.
O racismo não está no radar de quase nenhum criador de robôs
Christop Bartneck, pesquisador da Universidade de Canterburry
Bartneck diz que os resultados de sua pesquisa indicam que os fabricantes de robôs deveriam se preocupar com outros aspectos além do lado puramente técnico dessas máquinas.
"Muitos engenheiros estão ocupados trabalhando em implementar as funções básicas de robôs, como permitir que eles andem e naveguem por um ambiente. Isso ocupa muito da atenção deles e a consequência social do trabalho deles não é particularmente alta na lista de prioridades."
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Ele explica que “frequentemente, os robôs são desenhados de dentro para fora” e “somente no fim, alguma cobertura é adicionada”. “A forma como o robô é percebido por seus usuários é nada mais do que uma reflexão tardia (por parte dos seus criadores).”
Na hora de mostrar que os criadores de robôs já preferem o branco em detrimento a qualquer outra cor, os cientistas recorreram ao que muita gente faz na hora de procurar informações: deu um Google.
As imagens apresentadas no resultado de sua pesquisa foram todas de robôs… brancos. Ainda assim, ele listou que há tentativas de ir na contramão. Algumas exceções são o Bina 48, criado para se parecer com uma mulher negra, e os androides construídos pela Universidade de Osaka, feitos à imagem e semelhança de japoneses.
O assunto é ainda mais preocupante, diz Bartneck, porque os robôs estão sendo paulatinamente usados em ocupações cotidianas. “Nós estamos prestes a introduzir na nossa sociedade robôs sociais, desenhados para interagir com humanos. Eles ocuparão papéis de cuidadores, educadores e acompanhantes”, descreve.
Segundo ele, usar apenas robôs brancos nessas funções poderá reforçar o estereótipo de que esse não é o lugar de negros. “Será um problema sério se todas essas posições forem sempre ocupadas por robôs indicados como brancos.”
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