Atrapalhar a vida de 120 mil pessoas pega mal para drones e preocupa setor
Stefan Nicola e Jeremy Kahn
23/12/2018 14h03
O segundo aeroporto mais movimentado do Reino Unido, o Gatwick, em Londres, recorreu ao Exército nesta semana porque a polícia não conseguiu impedir as incursões de drones ilegais que voaram sobre a instalação por quase 24 horas, atrapalhando viagens de mais de 120.000 pessoas.
Agora, analistas e executivos temem que uma reação política possa impedir o rápido crescimento da indústria de drones.
Incidentes de segurança importantes como o que paralisou Gatwick "tendem a causar nos políticos a reação intempestiva de regular e restringir o desenvolvimento", disse Kumardev Chatterjee, executivo-chefe da Unmanned Life, uma startup europeia de software para drones. Em vez disso, as autoridades devem gerenciar melhor o setor para permitir que inovação continue, disse.
O mercado mundial de drones comerciais deverá crescer em média 36 por cento ao ano e chegar a US$ 14,7 bilhões em 2022, segundo relatório da firma de pesquisa de mercado Technavio publicado no começo do ano. Algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo estão ansiosas para aproveitar a oportunidade e demonstrar os benefícios para as autoridades.
Em Cambridge, a cerca de 100 km de Londres, a Amazon está testando seus serviços de entregas com drones. O executivo-chefe Jeff Bezos anunciou os planos com drones da empresa em 2013 como forma de entregar determinados itens aos clientes em até 30 minutos.
Em julho, a Alphabet anunciou que o Wing, outro sistema de entregas de produtos baseado em drones, se formaria no laboratório de inovações de sua subsidiária Google e se transformaria em um negócio independente dentro da unidade "Other Bets", que inclui por exemplo a Waymo, um empreendimento de carros autônomos. Ela deve ser lançada na Finlândia na primavera (Hemisfério Norte) de 2019, primeira presença europeia da divisão Wing.
Dezenas de outras empresas, como Qualcomm, FedEx, Uber e Facebook, mostraram interesse em participar do desenvolvimento futuro de drones - a Uber para alimentos, as demais para inspeções de aviões.
No entanto, os crimes envolvendo drones, como o de Gatwick, só aumentarão o escrutínio dos governos e do público ao uso desses veículos por gigantes da tecnologia. Chris Fleming, executivo-chefe da Cyberhawk, que opera drones para inspeção de equipamentos de petróleo e gás, turbinas eólicas e instalações industriais, disse que ficou triste com os eventos no Gatwick.
"Isso coloca o uso do drone sob o microscópio e apresenta a tecnologia de forma negativa", disse Fleming, em entrevista. "E é uma representação equivocada dos aparelhos, porque eles são uma ferramenta para o bem."
Mas o incidente no Gatwick também pode ser positivo para o setor de drones, porque pode acelerar a criação de regras para implementação de sistemas mais complexos de gerenciamento de drones.
"O episódio do Gatwick servirá como uma espécie de alerta para as autoridades de todo o mundo", disse Aapo Markkanen, analista da empresa de pesquisas Gartner. "As novas regulações provavelmente restringirão o uso de drones pelos consumidores, mas ao mesmo tempo tornarão o ambiente operacional mais fácil e mais certo para as empresas e as organizações do setor público."
Com a colaboração de Natalia Drozdiak e Nate Lanxon.