As três grandes ameaças ao futuro da internet, segundo o criador da rede
Tim Berners-Lee criou a world wide web em 1989, dois anos antes do lançamento do primeiro site; hoje, ele diz ser necessária uma 'correção de caminho' para evitar 'futuro disfuncional' da internet.
O criador da internet, Tim Berners-Lee, diz ser necessária uma ação global para conter "o mergulho (da internet) rumo a um futuro disfuncional". Em entrevista exclusiva à BBC, Berners-Lee falou sobre os 30 anos que se passaram desde que ele apresentou a proposta para criar a world wide web em 1989.
Ele disse que o escândalo envolvendo a empresa britânica Cambridge Analytica - acusada de usar, para fins políticos, informações privadas de 87 milhões de usuários do Facebook - fez com que as pessoas percebessem de forma mais clara como os dados de milhares de usuários podem ser manipulados.
Segundo o criador da internet, é possível encontrar soluções para combater violações de dados, hacking e desinformação.
Em uma carta aberta divulgada na segunda-feira, Berners-Lee reconheceu que muitas pessoas duvidam que a web possa ser uma força do bem.
Ele mesmo reconhece ter inquietações com o futuro da internet. "Estou muito preocupado com a proliferação de desinformação e sordidez", disse ele à BBC.
Mas ele reconhece que as pessoas estão começando a entender melhor os riscos de ser usuário da internet.
"Quando o escândalo da Cambridge Analytica veio à tona, as pessoas perceberam que as eleições foram manipuladas com dados que elas forneceram", afirmou na entrevista.
Berners-Lee diz ainda que nos últimos anos tem sentido que cada vez mais os princípios de uma rede aberta precisam ser salvaguardados. Na carta assinada por ele, estão listadas três áreas específicas de "disfunção" que, segundo o criador da internet, estão prejudicando a web hoje:
- Atividades maliciosas, como hacking e assédio
- Projetos de design duvidoso, como modelos de negócios que recompensam cliques
- Consequências não intencionais, como discussões agressivas ou polarizadas
São problemas que poderiam ser, em parte, combatidos com novas legislações e sistemas que limitem o mau comportamento online. Berners-Lee cita, como exemplo, iniciativas como o projeto Contract for the Web (Contrato para a Rede) que ele ajudou a lançar no ano passado.
Mas iniciativas como essas exigem contribuição de toda a sociedade, de usuários a líderes políticos e empresários.
"Precisamos de defensores da rede aberta dentro do governo - funcionários públicos e autoridades eleitas que tomem providências quando os interesses do setor privado ameaçarem o bem público e se levantem para proteger a internet aberta", escreveu Berners-Lee na carta.
Durante a entrevista que concedeu à BBC, ele exibiu bom humor quando lembrou de como apresentou sua proposta para a web há 30 anos - que foi descrita pelo chefe de Bernes-Lee como "vaga, mas instigante".
Mas nos últimos anos, entretanto, ele se deu conta de que não bastava apenas fazer campanha por uma rede aberta e largar as pessoas cuidando de seus próprios interesses.
Berners-Lee tem um plano. O Contract for the Web almeja colocar as coisas de volta no caminho certo, mas depende da vontade de governos e empresas para conter abusos e também da população, que precisa pressionar para que as coisas mudem.
Na entrevista, a última pergunta foi se, de forma geral, o impacto da internet tem sido bom. Em vez de dar uma resposta otimista, o criador da rede gesticulou indicando primeiro uma curva ascendente e, em seguida, uma curva para baixo. Ele diz que depois de bons 15 anos, as coisas pioraram e que chegou a hora de uma "correção de meio do caminho".
A invenção genial cresceu e agora pode ser encarada como um adolescente problemático. Berners-Lee tem como missão pessoal colocar a internet de volta no rumo certo.
A visão de Berners-Lee é "ao mesmo tempo utópica e realista", disse Jonathan Zittrain, autor do livro The Future of the Internet - and How to Stop It (O Futuro da Internet - E Como Impedi-lo), ainda sem tradução em português.
O criador da rede acredita na ideia de que uma internet livre e aberta capacitaria seus usuários, em vez de reduzi-los a meros consumidores, diz Zittrain.
"Eu vejo a carta de Tim não apenas como um chamado para construir uma internet melhor, mas para nos dedicarmos aos princípios centrais que ela incorpora", disse Zittrain à BBC.
Esses princípios, disse ele, incluem universalidade de acesso e transparência - a capacidade de ver e entender como a internet e suas aplicações funcionam.
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