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Free Fire 4 Anos: como a streamer trans Bryanna Nasck está virando o jogo

Bryanna Nasck, streamer e influenciadora trans não-binária - Reprodução/Arquivo pessoal
Bryanna Nasck, streamer e influenciadora trans não-binária Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Por Edilana Damasceno, do data_labe

Colaboração para o START

23/08/2021 04h00

Games fazem parte da vida da criadora de conteúdo Bryanna Nasck, 27 anos, desde que o irmão a colocou na frente de um computador, aos 4 anos de idade. Mas eles não são apenas uma paixão: eles foram uma ferramenta essencial de autoconhecimento.

"Nos MMORPGs, um tipo de jogo onde você se torna um personagem e vive em um mundo aberto, eu sempre escolhi personagens femininos. Sempre gostei de criar essas personagens. E foi aí que eu comecei a explorar a minha identidade", conta.

Bryanna se identifica como uma pessoa trans não-binária - "alguém que não se vê necessariamente nem apenas como homem ou como mulher", como ela mesma explica ("ela" é o pronome de tratamento que a própria Bryanna escolheu).

"Eu me identifico enquanto Bryanna Nasck", resume. E essa identificação poderosa é reverberada pelo seu público cada vez maior. Hoje, a influenciadora tem quase 35 mil seguidores no Insta, 42 mil no Twitter e 135 mil em seu canal no YouTube.

Free Fire cada vez mais diverso

Bryanna também é conhecida por jogar o battle royale Free Fire, trazendo uma dose extremamente necessária de diversidade numa comunidade ainda dominada por homens cisgêneros e heterossexuais.

Para Bryanna, porém, o diálogo vem se abrindo. Especialmente por causa da popularidade de Free Fire com o público mais jovem.

"As pessoas ridículas geralmente são as mais velhas", avalia. "Para a criança, é tudo diversão. Eu tô lá fazendo palhaçada, a gente tá rindo, brincando. Eles ficam me adicionando, querendo jogar comigo de novo, enquanto o adulto às vezes vem querer fazer graça e ser preconceituoso".

Outro sinal positivo de mudança (ainda que agridoce) ocorreu em junho, quando os pro players Buxexa e El Racha foram demitidos da equipe Fluxo após fazerem um comentário transfóbico durante uma live. Os dois também foram banidos da Booyah, a plataforma de streaming pertencente à Garena, publisher do jogo.

"Foi revolucionário [as empresas] tomarem uma decisão tão incisiva e imediata", afirma. "Isso nunca tinha acontecido antes. Fui jogadora de League of Legends por muitos anos e nunca vi a empresa tomar uma atitude dessas."

Games como perspectiva de futuro - e de mudança

Nascida no interior do estado de São Paulo, Bryanna ressalta que não sofreu preconceito dentro de casa, mas sempre foi difícil lidar com sua existência não-binária no "mundo real".

"É difícil conseguir explicar em palavras a sensação de você fechar os olhos, pensar no futuro e não conseguir imaginar um futuro onde você possa viver, ser feliz, se desenvolver, conquistar coisas", desabafa.

Não é por menos. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transsexuais), o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo. A expectativa de vida de uma pessoa trans no país é de menos de 35 anos, e cerca de 90% delas sobrevive por meio da prostituição.

Bryanna Nasck, streamer e influenciadora trans não-binária - Divulgação/Epic Digitais - Divulgação/Epic Digitais
Imagem: Divulgação/Epic Digitais

Sem perspectiva de futuro, foram os jogos que a ajudaram a criar um novo presente. Bryanna passou a projetar a vida que desejava ter em seus personagens do universo virtual. "Eu amava aquilo! Eu tinha meus amigos, colegas e namoradinhos dentro daquele universo. Sem limites, sem barreiras, sem imposições. Foi no videogame que eu pude começar a descobrir quem era Bryanna e me tornar a pessoa que sou hoje."

Hoje, esse mesmo universo é uma de suas ferramentas de comunicação - mas não a única. Bryanna atualmente encanta pelo jeito didático e direto com o qual apresenta seu mundo ao seu público. Formada no ensino médio através do EJA (Educação de Jovens e Adultos), a criadora de conteúdo diz que se sentia "muito burra" por não conseguir acompanhar as discussões sobre identidade de gênero. "Eu não gostava do quão academicista eram esses pequenos nichos de debate", resume.

Daí a criação de seu canal no YouTube, em 2011. O objetivo, em suas próprias palavras, era que até uma "senhorinha" pudesse entender seus vídeos sobre conceitos como "cis", "trans", "não-binário". De lá para cá, foram quase 7 milhões de visualizações. Deu tão certo que agora ela também discute estes e outros tópicos no podcast Garotrans, feito em parceria com Cup e Isabel Brandão, também trans.

"Lá em 2011, quando fiz um vídeo pro meu canal às 2 horas da manhã, com uma amiga minha, falando sobre café, eu não imaginei que estaria aqui hoje. Não imagine que seria o início de tudo o que eu tenho hoje. Então é bola pra frente e continuar lutando porque enquanto há vida, há esperança!", conclui.

Confira mais conteúdo especial sobre os 4 anos de Free Fire

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