OPINIÃO
UFC 4 tenta, mas não aguenta cinco minutos no octógono sem perder a amizade
Bruno Araujo
Colaboração para o START
05/09/2020 04h00
UFC 4 é o jogo mais completo de MMA atualmente no mercado, um privilégio que ele sustenta por também ser o único. No soar do gongo, porém, fica aquele gostinho de decepção com o que poderia ser mais que um mero produto licenciado, como um jogo de Toy Story pra acompanhar o novo filme.
Para testar as reais capacidades do jogo, o START levou o UFC 4 ao octógono para um treininho, sem perder a amizade. São só três rounds, já que o MMA da EA ainda não está pronto para cinco assaltos e a disputa de cinturão.
Primeiro round: Medindo a distância
Toda luta de MMA começa em pé, mas grande parte termina no chão.
Então, por mais que seu jogo seja no solo, manter a guarda alta, dominar o espaço entre você e seu adversário e não levar uma trauletada é obrigatório pra não voltar mais cedo pro vestiário.
Felizmente, UFC 4 está em casa nesse quesito.
O jogo lapida mais um pouquinho a sua trocação e prefiro destacar que a natureza imprevisível do MMA, uma de suas maiores preciosidades, recebeu certo investimento em UFC 4.
E digo isso apesar dos lutadores ainda serem nocauteados sempre com as mãos erguidas, no caso do ground and pound, e expressão de dor de barriga, no combate em pé.
Durante meu tempo com o jogo, realizei knockdowns e nocautes relâmpago com diretos, socos giratórios, joelhadas, chutes baixos e até aquele chute da garça do Karate Kid, coisa que não era comum nos games anteriores.
Além de diversificar o desfecho das lutas — chega de só bater no oponente até ele sentir a mão pesada e você fechar a disputa no chão — essa noção de poder visceral que pode entrar em ebulição a qualquer momento é uma das coisas que mais aproximam o game do MMA real.
O fim repentino de uma luta nas artes marciais mistas é o que prende o espectador na ponta do sofá.
E não tem como não abrir um sorrisão depois de ver seu adversário desmoronar com um golpe contundente ao invés de cair em câmera lenta, como antigamente.
É a satisfação no lugar da vergonha alheia, e esse tipo de detalhe é imprescindível pra tornar o UFC da EA mais verossímil.
É isso, e não uma captura facial aprimorada, que mostra que o confronto está se adaptando a cada ponto do octógono, às características de cada lutador, e ao próprio MMA.
As artes marciais mistas são um esporte muito dinâmico e versátil. E os games precisam acompanhar esse movimento caso queiram reproduzir suas emoções.
Segundo round: Impondo nosso jogo
Feito o reconhecimento, é hora de levar a luta para onde se tem mais chances de vencer. E veja só, na horizontal todo mundo tem o mesmo tamanho.
O problema é que no caso do UFC da EA, você sempre vai ser a lona, com dois lutadores suados deitando e rolando por cima.
O elefante na sala (ou, nesse caso, no octógono) não é tanto o nível de dificuldade ou se essa enorme dimensão do MMA é representada fielmente dentro de um jogo.
Levar a luta para o chão, buscar a finalização e consequentemente tentar se defender, continuam sendo algumas das tarefas mais chatas e imprecisas que já experimentei em minha vida.
A disputa no chão é de uma lentidão enorme que se estende por muito mais tempo do que devia.
Um atleta avança no ataque, depois recua porque o oponente se defendeu, só para avançar novamente em seguida, até que um desfecho que parece muito mais resultado de sorte, do que atenção a timing ou habilidade, acontece.
É um lenga-lenga que geralmente termina quando sua barra de estamina fica perigosamente baixa e você simplesmente prefere se levantar -- e isso se o adversário tiver o mesmo nível que você, pois do contrário nem se erguer com facilidade será possível.
A não ser que você tenha uma inclinação sádica (e nada contra!), a luta no chão é uma área que você buscará evitar em UFC 4.
E sei lá, me soa 100% contra intuitivo que uma atividade tão importante do MMA tenha de ser ignorada pra não passar tédio — ou raiva.
Terceiro round: Lembre-se do seu treinamento
Subir no octógono é só o desfecho de semanas ou até meses de treinamento. E organizar seu camp de maneira efetiva é meio caminho andado para a vitória no grande dia.
Em UFC 4, a prática sofreu algumas mudanças. O Ultimate Team, que emulava o modo homônimo de FIFA com cartas, personalizações e várias micro transações, foi ceifado.
O motivo, segundo a EA, foi a própria falta de interesse dos jogadores. E faz sentido, já que o MMA é um esporte individual, e não de time.
Mas a verdade é que o online do UFC nunca engatou tanto quanto os outros jogos de esporte da EA -- fruto do seu próprio descompasso competitivo entre luta em pé e no chão.
E é irônico que o modo mais divertido de UFC 4 seja o renovado Nocaute, que agora pode se transformar num game de O Grande Dragão Branco ou Desafio Mortal, dois dos grandes filmes clássicos de Jean-Claude Van Damme envolvendo torneios de artes marciais.
Em Nocaute, os atletas de MMA têm barras de vida e só podem usar socos e chutes pra vencer.
As porradas ganham efeitos sonoros de Mortal Kombat, enquanto o octógono é substituído por uma arena com um gongo, cordas no lugar de luvas e tochas por todos os lados.
Só faltou um Chris Duboi, um Frank Dux, um Chong Li e um Ray Jackson pra festa ficar completa.
Decisão dos juízes
O MMA se baseia em uma pergunta simples: quem é o melhor? Mas não o melhor em uma área ou gênero. Não é um Marvel contra DC.
É o melhor de tudo e de todos, de forma absoluta. Não faz sentido perguntar se a Copa do Mundo é superior à Olimpíada, mas o MMA permite algo do tipo: quem foi melhor, boxe ou jiu-jitsu? Muay thai ou luta greco-romana?
E é por isso que é uma pena que a EA ainda não tenha conseguido produzir um game que reflita o confronto de estilos que é o MMA.
A evolução existe, e UFC 4 é o primeiro jogo dessa nova safra que, de fato, me dá vontade de chamar os amigos pra jogar.
UFC 4
Dá pra se divertir soltando uns sopapos e fazendo suas lutas dos sonhos. E o modo Nocaute é ainda melhor para aquela partidinha antes de encerrar o expediente.
Mas depois de quatro jogos e 6 anos de desenvolvimento, ainda é muito frustrante ver um jogo de 2012, o inesquecível (e ainda muito superior) UFC Undisputed 3 ser mais fiel, melhor e, principalmente, mais divertido que um de 2020.
Ser saudoso é um saco, mas esse MMA moderno não dá.
Lançamento: 14/08/2020
Plataforma: PS4 e Xbox One
Preço sugerido: R$ 299,99
Classificação indicativa: 14 anos (Violência)
Desenvolvimento: EA Vancouver
Publicação: Electronic Arts
Jogue também: UFC Undisputed 3, Fight Night
SIGA O START NAS REDES SOCIAIS
Twitter: https://twitter.com/start_uol
Instagram: https://www.instagram.com/start_uol/
Facebook: https://www.facebook.com/startuol/
TikTok: http://vm.tiktok.com/Rqwe2g/
Twitch: https://www.twitch.tv/start_uol