Topo

OPINIÃO

Em Carrion, o monstro disforme que há em mim saúda o monstro que há em você

Quem é o verdadeiro monstro aqui Imagem: Divulgação/Devolver Digital

Makson Lima

Colaboração para o START

25/07/2020 04h00

Há quem diga que todos temos um monstro interior, e é na natureza das aberrações onde reside Carrion, game em que controlamos uma biomassa disforme em fuga de seu cativeiro, lançado para Xbox One (disponível no Game Pass), PC (Steam) e Nintendo Switch. Eu só penso em dois nomes para criar obra tão nefasta e mirabolante: Devolver Digital e Phobia Game Studio.

O monstro do jogo precisa escapar. E é o monstro que há em você quem vai ajudar. Antes, eu só peço que ouça o relato a seguir.

Dia zero: gênese

Pode parecer um tanto estranho escapar de um tubo de laboratório e pedir por domínio no controle de meus vastos tentáculos. Mas é fácil. Tão fácil, que é quase natural, uma extensão de seus dedos, ansiando destruição.

Como um títere de carne e ventosas, eu os projeto para todos os lados. A força descomunal abre espaço para a liberdade de movimentos. Sinto-me livre, e pela primeira vez desde que saí de uma hibernação de séculos. Talvez de milhares de anos.

Imagem: Makson Lima/Reprodução

Mesmo sem qualquer tipo de compaixão para quem me confinou, para quem fez de mim estudo e experimento, ainda consigo manter conexões mentais com aquele ou aquilo que me despertou. Curiosamente, compartilham a mesma espécie e mesmo lugar na cadeia alimentar. Para saber até onde vou, preciso saber de onde vim. E porque faço o que faço.

Gritos de desespero ecoam por onde me projeto, pedaços de corpos pavimentam meu caminho, com sangue servindo de via e vísceras, de fio condutor. A fome é quase insaciável, mas você, como parte do meu ser, sabe muito bem disso e não vai me deixar padecer.

Dia 19: os sentimentos de um monstro

Uma obra de arte de carne, dentes e tentáculos Imagem: Makson Lima/Reprodução

Obstáculos diversos me separam de meus objetivos. É hora de usar os experimentos dos cientistas contra eles próprios. Crio ninhos, deixo a minha marca, de dentes, garras e carne, e comunico-me. Somos todos um, e sem a menor compaixão pelos bípedes com quem cruzo, sejam bolsas de sangue ambulantes, sejam mecânicos e frios.

A realidade aqui é uma selvagem. Mas é bem pior para quem não é monstro. Quando encorpo, destruo paredes metálicas, quando definho, arremesso teias pegajosas. Crio formas de interagir com o mundo deles, para alcançar os meus próprios fins. Comer e fugir.

Dia 451: evolução e putrefação

Sem espaço para excessos, minhas idas e vindas acabam limitadas ao meu único objetivo naquele exato momento. Agora, sei das minhas capacidades, porém, ainda não é fácil controlar a mente complexa dos bípedes verborrágicos.

Suas capacidades são complexas e grotescas Imagem: Makson Lima/Reprodução

Sei que não sobrevivem muito tempo submersos, sei também que fazem uso de outros corpos (ou seriam exoesqueletos?) para protegerem a si mesmos, além dos patéticos projéteis de metal e pólvora que insistem em depositar em minha biomassa pulsante, sempre sedenta por sangue.

Tiro suas vidas como quem tira pétalas de flores, mas eles também são um exército. E estão ficando raivosos.

Não tenho mais tempo para brincar com suas carcaças, pois suas formas de defesa pedem por artimanhas mais e mais difíceis de executar. E, por mais absurdo que soe, quanto mais descubro sobre minhas origens, mais tenho dúvidas sobre o futuro. Sobre o meu real papel nisso tudo.

Dia ???: apocalipse

Os ninhos da criatura é onde o jogo salva o progresso Imagem: Makson Lima/Reprodução

Quando as cordas, tão estridentes quanto belas, e que serviram de orquestra para o meu caminho de destruição, param de súbito, também paro e reflito. O amanhã está em minhas mãos e minha escapatória inevitável será uma nova e caótica alvorada.

De lá até aqui, sinto que me refestelei na hipocrisia de toda uma indústria, que alterei muito mais que a forma de meu próprio corpo, mas o propósito em estender a si mesmo a fim de agradar quem tateia na escuridão de um contentamento sem propósito.

Meus tentáculos e dentes afiados causaram pânico e pavor, sim, em tudo aquilo que fez de mim experimento e cobaia, e muito mais ainda em tudo aquilo que nega e retrocede minha própria existência.

A semente foi incubada e germinada. Nasceu, cresceu e morreu um monstro.

Carrion

Lançamento: 23/07/2020
Plataforma: PC, Xbox One, Nintendo Switch
Preço sugerido: R$ 37,99 (Steam)
Classificação indicativa: 16 anos (Violência Extrema, Violência, Medo)
Desenvolvimento: Phobia Game Studio
Publicação: Devolver Digital

*A cópia do jogo para o texto foi cedida ao START pela Devolver Digital

SIGA O START NAS REDES SOCIAIS

Twitter: https://twitter.com/start_uol
Instagram: https://www.instagram.com/start_uol/
Facebook: https://www.facebook.com/startuol/
TikTok: http://vm.tiktok.com/Rqwe2g/
Twitch: https://www.twitch.tv/start_uol

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Em Carrion, o monstro disforme que há em mim saúda o monstro que há em você - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Primeira Pessoa