Review: Xbox Series X

Novo videogame da Microsoft é o mais potente no mercado, mas será que ele aproveita todo esse poder?

Bruno Izidro Do START, em São Paulo Arte/UOL

Quanto mais eu testava o Xbox Series X, o novo videogame da Microsoft lançado em 10 de novembro no Brasil, mais lembrava do fogão quatro bocas que tinha comprado anos antes.

Não, o fogão não parecia um monólito preto e elegante. O paralelo, na verdade, estava no desperdício de algo tão bom.

Nos primeiros dias, eu não tinha nenhum ingrediente para fazer comida no fogão. Então, usei todo aquele poder de fogo, capaz de produzir as mais diversas iguarias, para cozinhar miojo e, no máximo, um ovo frito.

Foi assim que me senti com Xbox Series X: uma máquina que faz coisas incríveis com games que já existem, só que não há quase nada que possa demonstrar o verdadeiro potencial dele. Quase nada. E é nesse detalhe que está o vislumbre do que o aparelho pode significar para o futuro dos jogos.

A unidade do Xbox Series X para análise foi enviada pela Microsoft Brasil ao START.

Mariana Pekin/UOL

É TUDO XBOX

Xbox One X, Xbox Series X, Xbox Series S. Nomes parecidos para videogames que são bem diferentes. O importante é saber que o Series X é o mais poderoso deles, e será o padrão para a nova geração de consoles da Microsoft.

A confusão é causada pela estratégia da empresa em encarar o Xbox como um único produto, que vai se aperfeiçoando conforme novos modelos são lançados, da mesma forma que um novo iPhone. Até por isso, pelo menos nesse início de ciclo, Series X e Xbox One ainda receberão os mesmos jogos.

Seguindo o mesmo raciocínio, o sistema operacional é igual para todos os Xbox. Se você tem o primeiro modelo de Xbox One, então tem a mesma "dashboard" do Xbox Series X, com a mesma interface e as funções idênticas: desde mapeamento do controle até saber o que seus amigos estão jogando.

Até mesmo o som que o Series X faz ao ser ligado é idêntico ao do Xbox One X, como se a Microsoft só tivesse colocado o mesmo videogame em uma "caixa" diferente

O ponto positivo dessa filosofia é que a mudança de geração, para o consumidor que decidir seguir com a Microsoft, fica muito mais cômoda.

A facilidade inclui aproveitar todos os jogos de Xbox One, rodando sem problemas no Series X por causa da retrocompatibilidade, até os acessórios, como controles, que funcionam sem necessidades de gambiarras ou adaptadores.

Quem já joga Xbox vai estar mais do que familiarizado com tudo do Series X, com a vantagem de os games estarem mais bonitos e com melhor desempenho

O lado ruim é que não há aquela sensação de se descobrir algo novo, como seria esperado de uma "nova geração".

No fundo, a minha empolgação por estar com um novo videogame foi anestesiada pela leve decepção de acabar com o "mais do mesmo" de menus e funções já conhecidas.

O HARDWARE

Divulgação/Microsoft

O Xbox Series X foi projetado para ser o console de videogame mais poderoso já lançado, com tecnologia que ainda nem está disponível no mercado de PC —pelo menos em seu lançamento.

Em especial, ele tem a GPU (a placa gráfica) com a inédita arquitetura RDNA 2, da AMD. Além do avanço em CPU e memória, outra grande novidade no aparelho é o armazenamento em SSD, e não mais em disco rígido.

Tudo isso possibilita um salto no desempenho dos games, seja em taxa de quadros estáveis em 60 fps e até 120 fps, tempo de loading (carregamento) reduzido, melhorias visuais e outras vantagens.

Como dono de um Xbox One X, testar o Series X foi como fazer aquele upgrade poderoso em um PC topo de linha

Por exemplo, games que já eram rápidos para iniciar no One X, com cerca de 30 a 40 segundos, agora carregam a impressionantes 10 segundos no Series X —não dá nem tempo de pegar o celular para checar as redes sociais.

Já títulos que, mesmo no One X, sofriam com desempenho, no Series X estão perfeitos. É hora de, finalmente, ver Control, um dos melhores jogos de 2019, rodar sem engasgos em um console.

Além disso, jogar Gears 5 no Series X é o equivalente a ter a versão de PC rodando com todas as configurações na qualidade Ultra.

Bruno Izidro/START Bruno Izidro/START

Todo o poder do Xbox Series X significa também que ele é robusto.

Um "monólito" de 30 cm de altura que se destaca ao lado de qualquer outro aparelho da casa, em pé ou deitado —ele pode ser usado nas duas posições. Há sérios riscos de sua estante ou rack nem aceitarem algo tão grande assim.

Por falar em tamanho, apesar de a caixa do Xbox Series X indicar que ele tem 1TB de espaço para armazenamento interno, o espaço útil é de 800GB, já que 200GB ficam reservados, obrigatoriamente, para o sistema operacional.

Com esse espaço, o Xbox Series X conseguiu armazenar 23 jogos, sendo:

  • Dois jogos do Xbox original
  • Quatro jogos de Xbox 360
  • 14 jogos de Xbox One
  • Três jogos de Series X

E pasmem: para o tamanho e poder que tem, o Xbox Series X é surpreendentemente silencioso. Quase não é possível ouvir o sistema de ventilação, na parte superior —que, por sinal, é uma das faces mais elegantes do design do videogame.

Só é recomendado deixar o Series X na área mais aberta possível, já que ele pode esquentar quando o sistema de resfriamento é mais exigido. Ele chega a soltar ar quente na parte de cima do console, e isso pode prejudicar a circulação de ar em locais mais abafados.

Qual o tamanho do Xbox Series X?

O CONTROLE

O controle do Xbox Series X pouco mudou em relação ao do Xbox One. No fim das contas, isso tem suas vantagens.

Particularmente, eu prefiro o controle de Xbox One ao do PlayStation 4. Com o Series X, a "pegada" nas mãos ficou melhor por causa de uma superfície áspera na parte traseira e, principalmente, nos dois gatilhos, RT e LT. São aquelas pequenas mudanças que fazem bastante diferença para quem já estava acostumado com o controle em mãos todo os dias.

O controle vem com um par de pilhas AA, mas eu já tinha um kit "play and charge" com bateria no controle do Xbox One. Fiquei surpreso ao saber que o acessório funciona perfeitamente no novo controle

Da mesma forma, o controle do Series X também funciona normalmente no Xbox One, algo que não acontece na família PlayStation: o DualSense, do PS5, não conversa com o PS4.

São as praticidades decorrentes de o console parecer mais uma grande evolução a partir do videogame anterior do que uma reformulação feita do zero.

Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL

E então temos o centro das atenções do controle do Series X: o botão de compartilhar, para captura de imagens e vídeos de jogos.

É uma função que já vem tarde, anos depois de o PlayStation 4 ter apostado na ideia. O problema, porém, não é o botão, mas a própria funcionalidade de gravação, que já era limitada no Xbox One e continua, pelo menos por enquanto, no Series X.

Qualquer gravação de jogos em 4K, por exemplo, tem o limite de apenas 30 segundos —mal dá pra gravar aquele golaço sem querer no FIFA. Mesmo na resolução mais baixa para reprodução, 720p, o máximo possível são três minutos.

O videogame mais poderoso do mundo só consegue gravar até 30 segundos de jogo em 4k

São melhorias nesse tipo de recurso que se espera de um videogame tão mais poderoso quanto o Series X. Pode ser que isso mude no futuro, mas, por enquanto, fiquei decepcionado com a limitação.

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OS GAMES

Reprodução/START

Retrocompatibilidade

Para a análise do Xbox Series X, a Microsoft disponibilizou uma assinatura de um ano do Xbox Games Pass Ultimate e uma série de jogos: Yakuza: Like a Dragon, Dirt 5, Gears Tactics e Destiny 2: Além da Luz —este último, o único que ainda não estava disponível na publicação deste review.

Sem um grande título exclusivo no lançamento do console, depois do adiamento de Halo Infinite, o Xbox Series X tem como principal trunfo a retrocompatibilidade, com toda a biblioteca de games do Xbox One, mais alguns bons títulos de Xbox 360 e até do primeiro Xbox: tudo funciona no novo videogame.

Essa é mais uma característica que deixa o Series X com cara de upgrade poderoso de um PC, porque não ignora toda a sua biblioteca de games, seja ela digital ou física, dos Xbox anteriores, o que é ótimo.

E jogar games de Xbox 360 e Xbox original no Series X tem uma diferença bem evidente, principalmente em TVs 4K e com HDR, já que o novo videogame melhora automaticamente boa parte desses jogos antigos com o recurso Auto HDR.

Reprodução/START Reprodução/START

O primeiro Assassin's Creed, por exemplo. Um jogo lançado em 2007 nunca foi tão bonito e rápido de executar como no Series X, com loadings quase instantâneos. Parece magia, mas é a pura tecnologia do SSD presente na máquina poderosa da Microsoft.

Mesmo em jogos de Xbox One, bem mais complexos, o console não faz feio em melhorar o desempenho. Fiquei boquiaberto quando o videogame carregou Read Dead Redemption 2, por exemplo, em menos de 30 segundos, algo que o Xbox One X demora mais de um minuto para fazer.

Ainda assim, tudo isso são pequenos aperitivos do que podemos esperar da nova geração olhando para o passado. Já o futuro acontece a 120 quadros por segundos no Xbox Series X.

120 quadros por segundos

Games a 60 fps (frames per seconds, ou quadros por segundos) serão a norma para a geração que se inicia agora, o que significa ação mais fluida na tela. O Xbox Series X, com todo o poder que possui, executa facilmente essa tarefa em games disponíveis até agora.

Reprodução/START

Já o verdadeiro salto está em rodar jogos a 120 fps, essa sim uma característica digna de uma nova geração de videogames. E, acredite em mim, ela realmente faz diferença.

Jogar a 120fps no Xbox Series X é algo digno do poder de uma nova geração de videogames

No Xbox Series X eu testei a opção de 120 fps em três jogos: Gears 5 (só no modo Multiplayer), Dirt 5 e Ori and the Will of the Wisps, baixado pelo Game Pass.

A mudança na taxa de quadros é visível a olho nu, e você nem precisa de números no canto da tela para dizer que o jogo está mais fluido. A experiência de jogar assim é completamente outra, como se agora eu enxergasse coisas na tela que não percebia antes, um novo sentido tivesse sido ampliado e agora eu pudesse responder a ações de forma bem mais eficiente.

Eu nunca acertei tanto tiro e fui tão bem em partidas de Gears quanto as que joguei em 120 fps. A sensação de velocidade em Dirt 5 conseguia ser bem mais natural

Jogar a 120 fps foi tão surpreendente e me marcou tanto como da primeira vez em que joguei no Xbox 360 e percebi o impacto de um salto de geração de videogame tão grande.

Mas existe um problema: muita gente não vai conseguir experimentar o recurso logo de cara porque ele depende de uma TV com entrada HDMI 2.1, a mais avançada atualmente.

No meu caso, eu consegui testar em uma recém-comprada LG OLED CX, um televisor que é mais caro do que o próprio videogame. Ou seja, o recurso mais impressionante do Xbox Series X tem uma barreira bem alta (e cara) para ser usufruído.

É por isso que, sozinho, o novo console da Microsoft não representa a nova geração de videogames. Afinal, para aproveitar tudo o que ele tem a oferecer é preciso de um equipamento extra tão ou mais avançado.

Hora do teste: comparação de gráficos e loading

E o Ray Tracing?

O Ray Tracing é outro recurso bastante alardeado para jogos de Xbox Series X, uma tecnologia que até então estava mais restrita aos PCs.

Para simplificar: o Ray Tracing melhora como a luz é projetada em ambientes, deixando a iluminação dos jogos mais realista. A vantagem do recurso é que ele não exige uma TV moderna, como nos casos do HDR e os 120fps, para ser notado.

Porém, ainda são poucos os games de Series X com Ray Tracing disponível no lançamento. Exemplos são Watch Dogs: Legion (que rodará a 30fps por causa disso) e Devil May Cry V Special Edition, que não pudemos testar.

Já em Gear 5, o recurso não pareceu causar tanta diferença assim em relação à versão de Xbox One X. Visualmente, o impacto maior foi na melhoria pelo HDR.

Os jogos de Xbox Series

Vale a pena ter um Xbox Series X?

Mariana Pekin/UOL

O videogame perfeito...

...para o ano que vem

Durante todos os dias de testes, a sensação mais recorrente foi de ter em mãos uma versão 2.0 do Xbox One X que já tenho, o que não deixa de ser frustrante.

As melhorias estão lá, são bem perceptíveis em jogos atuais e antigos, e são ótimas, mas nada que fuja tanto assim do esperado para um novo videogame.

Também estaria mentindo se dissesse que um jogo exclusivo do porte de Halo não faz falta no lançamento. Era um título que poderia permitir ao Series X mostrar a que veio e legitimar o apelido de "monstro" para além de um slogan de marketing.

Até mesmo o aperitivo da real nova geração, com seus 120 fps, ainda precisa ser popularizado. O Xbox Series X já é o videogame do futuro, mas talvez não seja o ideal para o presente

Para quem ainda tem o primeiro modelo do Xbox One ou mesmo "passou batido" pela, agora, geração passada, o Series X já é muito mais atrativo. Ainda assim, o valor alto de mais de R$ 4 mil no lançamento é um fator que claramente afasta muita gente.

Já donos de Xbox One X ou mesmo de Xbox One S ainda podem esperar tranquilamente por pelo menos um ano até pensarem em fazer o upgrade para o próximo Xbox, tendo os mesmos jogos até o final de 2021.

Por enquanto, ainda são muitos os ingredientes que faltam para cozinharmos um prato à altura desse excelente fogão chamado Xbox Series X, mas quando isso acontecer, pode ter certeza de que vai dar água na boca.

Mariana Pekin/UOL Mariana Pekin/UOL
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