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Japonês Kore-eda volta a Cannes, agora com produção coreana

26/05/2022 10h10

Seul, 26 Mai 2022 (AFP) - O aclamado cineasta japonês Hirokazu Kore-eda retorna à competição no Festival de Cinema de Cannes deste ano com sua primeira produção coreana que explora as controversas "caixas para bebês" indesejados naquele país.

Vencedor da Palma de Ouro em 2018 com "Assunto de Família", Kore-eda espera repetir o sucesso com "Broker", um dos dois filmes sul-coreanos que concorrem ao grande prêmio junto com "Decision to Leave", de Park Chan Wook.

Em 2019, "Parasita", de Bong Joon-ho, tornou-se o primeiro filme do país a ganhar a Palma de Ouro, marco que antecedeu o Oscar de melhor filme e a febre internacional pelas produções sul-coreanas.

Como em "Assunto de Família", que conta a história de um grupo de pequenos delinquentes e desajustados em Tóquio que formam uma família alternativa, Kore-eda novamente entra na marginalidade.

Em "Broker", o cineasta aborda a controversa prática de caixas para bebês na Coreia do Sul, onde as mães podem abandonar anonimamente seus filhos para evitar o estigma de criar um filho sozinha em uma sociedade altamente patriarcal.

Durante a produção, o diretor japonês, elogiado por sua sensibilidade e exploração das complexas relações familiares, visitou crianças em orfanatos que se perguntaram se não seria melhor se não tivessem nascido.

A questão é o fio condutor do filme, explica Kore-eda.

As "caixas para bebês também existem no Japão", disse Kore-eda em uma coletiva de imprensa no início de maio.

"Quis retratar a viagem de um grupo de pessoas, algumas com boas intenções e outras com más, com várias histórias em torno de uma criança abandonada numa caixa".

- Elenco de estrelas -O filme é uma colaboração entre Kore-eda e um elenco de personalidades sul-coreanas, como o ator de "Parasita" Song Kang-ho e a estrela do K-pop Lee Ji-eun (IU).

"É um elenco incrível. Difícil pensar em um filme recente que tenha uma lista de nomes tão importantes", comentou Jason Bechervaise, professor da universidade Korea Soongsil Cyber, à AFP.

O cineasta explicou que os trabalhos anteriores de Song, um ator versátil de 55 anos com vários papéis no cinema sul-coreano, foram uma inspiração para "Broker".

Em "Broker", ele interpreta um homem endividado que descobre um bebê abandonado e se oferece para encontrar uma nova família para ela em troca de dinheiro.

"Song Kang-ho é um ator muito expressivo, seja mostrando tensão, comédia ou confusão", diz Brian Hu, professor de cinema da Universidade de San Diego.

"Por outro lado, o trabalho de Kore-eda é muito mais naturalista, às vezes tratando atores profissionais como não profissionais", acrescenta. "Não é apenas um choque entre culturas, mas também entre estilos de filmes".

O cineasta desafiou as tensões geopolíticas e estabeleceu fortes relações com talentos sul-coreanos. Em 2019, visitou o festival de cinema sul-coreano em Busan, em plena guerra comercial entre Seul e Tóquio.

Japão e Coreia do Sul, com uma história longa e complexa, poderiam "resolver e superar problemas políticos" com solidariedade, assegurou durante a visita.

"Kore-eda é obviamente um cineasta muito admirado, capaz de atrair talentos", diz Bechervaise.

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