Perda do pai, sexualidade: adolescência de Leandra Leal inspirou série

Após dirigir seu primeiro documentário, o "Divinas Divas" (2016), a atriz Leandra Leal, 40, se jogou em uma obra de ficção, a série "A Vida Pela Frente" (Globoplay). Com dez episódios, conta a história de um grupo de adolescentes que vão ter suas vidas totalmente transformadas pelo fim da vida escolar e pela virada do milênio

Leandra idealizou a série ao lado de Rita Toledo e Carol Benjamin, amigas de longa data que estudaram no mesmo colégio, ou seja, compartilharam histórias em comum da adolescência. Por isso, a série tem um quê biográfico e é influenciado pelas trajetórias delas.

Em conversa com Splash, a filha de Angela Leal e Julio Brás relembrou como foi a própria adolescência, época bem intensa, segundo Leandra, marcada pela morte do pai aos 12 e pelo primeiro amor. Ela enxerga esse período da vida como "momento tijolo" e "estruturante".

Relacionadas

Leandra Leal abre coração: Houve criminalização dos artistas por Bolsonaro

Ângela Leal encerra carreira na TV após série da filha: 'Quero paz na vida'

Trisal, drogas e morte trágica: nova série da Globo é uma 'Elite' carioca

"Eu tive perdas muito difíceis na minha adolescência. São perdas que, por acontecerem na adolescência, me marcaram muito (como a do meu pai). Perder alguém nesse momento é determinante para como você vai entrar na vida adulta. A sua visão de mundo é muito impactada. Mas, além disso, tenho momentos... O primeiro amor é loucura, né? A melhor coisa do mundo é uma tragédia, assim. É muito sofrimento e incrível ao mesmo tempo. E eu fui bem uma adolescente bem intensa nesse lugar."

É uma época muito divertida, intensa e prazerosa, mas a gente também passa por transformações muito difíceis.

"A Vida Pela Frente" mergulha fundo em assuntos ainda sensíveis para a sociedade, como uso de drogas, saúde mental e descoberta das sexualidades na adolescência, ao narrar as trajetórias do trio Liz (Nina Tomsic), Beta (Flora Camolese) e Cadé (Jafar Bambirra).

"Eu toco nesses assuntos porque eles me tocam. De fato, são coisas que passei na adolescência, as pessoas passam. Quanto mais honesto você é na sua criação, quanto mais você entra em contato com uma verdade sua, você vai tocar o outro."

A série procurou debater esses temas com responsabilidade, com assessoria de uma psicanalista durante a sala de roteiro e palestra com os atores e equipes. O resultado precisava ser responsável, mas os atores tinham de dar conta de toda a complexidade das emoções escritas dentro uma rede de proteção, conta ela.

Dobradinha com a mãe

Além de dirigir seu primeiro projeto de ficção, Leandra teve a felicidade de dirigir a própria mãe, Angela Leal. Ela estava afastada das telinhas desde 2018 quando fez uma participação em "Sob Pressão" e não pretendia voltar a atuar.

O nome de Angela para interpretar Olga foi cogitado desde o início do projeto, mas a atriz foi uma das últimas a serem chamadas porque Leandra não tinha certeza que a mãe aceitaria e talvez tivesse de chamar outra atriz. Por isso, adiou o convite algumas vezes.

"Mas, na verdade, quando eu a chamei, ela disse: 'Ah, tá bom. Fazer o quê? Vamos nessa'. É bonitinho. Ela não tinha um pensamento de recusar. Viu que não tinha como dizer não. Foi emocionante... Estava esperando estrategicamente o melhor momento. Tinha o pensamento: deixa eu chamá-la num dia que ela esteja de boa e bem tranquila"

Leandra considera a mãe como uma grande atriz que ajudou a lhe formar. Por isso, a primeira cena em que dirigiu a mãe foi especial.

Ela poder me ver realizar um grande sonho, era emocionante ver a emoção dela ao ver a filha fazendo isso. Mas, também, para mim, era muito emocionante vê-la me reconhecendo, né? O primeiro dia era dela (no set) foi lindo. Lembro que falei pra todo mundo da equipe: "Ô, galera, hoje eu tô realizando um sonho da minha vida. Tô aqui dirigindo a minha mãe'.

Próximos passos

Trabalhar como diretora não diminui a dedicação de Leandra como atriz, faceta pela qual ficou conhecida desde a infância. Pelo contrário. Após "A Vida Pela Frente", Leandra já se envolveu em outros três projetos como atriz: o filme "Os Enforcados" e as séries "Betinho" e "Justiça", ambas do Globoplay.

Dirigir 'A Vida Pela Frente' me fez uma atriz melhor. Mais consciente do meu papel dentro do processo, do como eu posso impactar, melhorar o que acontece no set.acontecendo no set.

Mãe da pequena Julia Leal, Leandra queria saber se daria conta de dirigir — ao lado de Bruno Safadi — e atuar como Teresa, personagem que originalmente não seria dela. Agora, percebe que pode se aventurar em outros projetos nesse estilo, apesar de demandarem muita dedicação.

"Me provoquei para fazer. Eu falei: 'Quero fazer a Teresa, não é um papel tão grande, mas importante, dou conta... Mas não dá pra fazer três 'Vidas Pela Frente' por ano, entendeu? Leva tempo para criar, desenvolver e dirigir"

Na conversa com Splash, Leandra ainda comentou sobre o contrato de exclusividade que tem com a Globo — na contramão de outr tendência de contratos por obras.

"A Globo está reformulando as suas relações de trabalho. Não sei se tenho contrato por muito tempo, porque realmente há uma mudança de mercado total. Mas eu sou muito feliz trabalhando como atriz. Vou sempre trabalhar como atriz. E agora ainda tenho essa outra caixa disponível na minha vida, a direção."