Pedro Cardoso diz que política o tira da Globo: 'Querem só submissos'
Pedro Cardoso, 60, está perto de completar dez anos sem convites para atuar na Globo, emissora onde se consagrou como o Agostinho Carrara de "A Grande Família" (2001-2014). De lá para cá, carrega o rancor de não ser lembrado pelo canal dos Marinho nem para divulgar seus projetos no teatro.
"Para comparecer aos programas da Globo, tem que ser ideologicamente submisso", critica o ator, que se descreve como um homem de esquerda e diz ter virado "um inimigo total" da emissora por seus posicionamentos políticos.
Ele diz que, se convidado, aceitaria, mas não ficaria quieto se ouvisse algo de que discorda: "Não vou lá na Globo ouvir que o golpe militar de 1964 não foi um golpe, foi um movimento. Se me dissessem isso, falaria que não, que foi golpe".
Em 2013, o jornal O Globo divulgou editorial em que dizia ter sido um erro o apoio à tomada de poder pelos militares em 1964 e em que faz referência ao episódio como golpe. Procurada por Splash para comentar as declarações de Pedro Cardoso, a Globo não se manifestou até a publicação deste texto.
Prestes a estrear duas peças em São Paulo em junho, ele provoca: "Vamos ver se o Pedro Bial vai me receber no programa dele, agora que tenho tanto teatro para divulgar. [Ou] a Patrícia Poeta e o rapaz [Manoel Soares] — não lembro bem o nome — que trabalha com ela. Nunca vi o programa deles [o Encontro]. Só lembro quando era da Fátima".
Uma de suas últimas aparições no canal foi quando esteve no finado Na Moral (2012-2014), apresentado pelo próprio Pedro Bial, para debater contra um paparazzo.
O episódio voltou a circular recentemente no TikTok após ser recuperado pelo influenciador Ygor Palopoli. A ideia do programa era promover o debate entre um ator que critica os fotógrafos e um profissional que vive disso, mas os dois acabam chegando a um acordo de que a culpa de existirem paparazzi que passam do ponto é de quem compra as fotos, citando nominalmente a própria Globo.
Por essas e outras, Pedro Cardoso lamenta: "Ninguém gosta do que eu falo". "O que falo desagrada todo o poder econômico. Eu teria que mentir muito, e seria muito conveniente para mim, porque talvez teria continuado recebendo algumas propostas de trabalho", reflete.
Nesta entrevista a Splash, no entanto, ele também faz elogios ao período em que trabalhou na emissora, quando disse ter ganhado muito dinheiro e gozado de liberdade para trabalhar.
Liberdade, por sinal, que o ator afirma não ter tido em sua rápida passagem na HBO Max, onde teve um projeto que foi cancelado. Ele também fala sobre a polêmica entrevista recente à CNN Brasil, com críticas ao canal de notícias e à imprensa brasileira.
'O Brasil se desinteressou pelo meu trabalho'
Após a publicação da matéria, o ator disse que se equivocou e que gostaria de ter usado o termo a "televisão" e não "o Brasil".
Desde que deixou de ser Agostinho, Pedro Cardoso se mudou para Portugal e volta ao Brasil periodicamente para apresentar peças. "Eu fiquei muito triste quando o Brasil se desinteressou do meu trabalho", lamenta.
Eu ainda tinha muito o que fazer. Talvez não tivesse, mas eu tinha essa ilusão. E eu adorava ganhar o dinheiro. Eu cheguei a ganhar muito bem na televisão. É muito agradável, num país muito precário como o Brasil, ganhar muito dinheiro, porque você se protege um pouco da precariedade institucional
A tentativa dele de se aventurar no streaming também não deu certo. Pedro afirmou que a HBO Max e a Warner "destruíram" a série "Área de Serviço", que ele escreveu com a esposa, Graziella Moretto.
Procurada por Splash, a Warner Bros Discovery afirma: "Decidimos cancelar o projeto 'Área de Serviço', visto que estávamos no período de avaliação dos nossos conteúdos".
"Se o Brasil amanhã der ruim, [as plataformas de streaming] fazem as malas e vão embora, entende? A Rede Globo, se o Brasil der ruim, eles não têm para onde ir, igual todo brasileiro, você não tem para onde ir. Então, você fica no Brasil. Eu diria a mesma coisa do UOL, ou da Folha de S.Paulo, ou do Estado de S.Paulo. Quando eu reclamo da imprensa brasileira, ainda assim, é dentro de uma crença de que essa imprensa é brasileira. A nacionalidade é uma ligação muito forte, entende?"
Pedro Cardoso sobre entrevista à CNN: 'Sou disléxico'
Pedro Cardoso é disléxico. Ele comenta o fato duas vezes durante conversa exclusiva com Splash: primeiro, para justificar a demora para terminar de ler livros; depois, para explicar por que aceitou o convite de aparecer ao vivo na CNN Brasil, quando criticou a emissora ao vivo pelo debate que foi proposto pela emissora.
"Me confundi todo, achei que era aquela outra inglesa. BCC, CBB, como se chama aquilo? Que gosto muito", pondera o ator, falando da emissora pública inglesa BBC.
Na ocasião, ele foi convidado para comentar a indicação de Dilma Rousseff à Presidência do Banco do Brics. Cardoso criticou o debate sobre se Dilma seria ou não capacitada para a função. "Eu não sou um especialista nos assuntos que vocês estão tratando, eu sou um ator."
Mesmo que você ponha uma pessoa falando bem e outra mal de Lula, a informação que você transmite, quando põe duas pessoas que não se comunicam, é que não existe comunicação entre as pessoas. Pedro Cardoso
Se dizendo "traumatizado" pela experiência de debater ao vivo na CNN, ele estende suas críticas a toda a imprensa.
"Eu não conheço a CNN inteira. Não sei quem é o dono. Mas é de má qualidade. O Brasil precisa de uma imprensa melhor. Nós não vamos ter uma democracia melhor se Folha de S.Paulo, Estadão, Globo, SBT e Record não perderem poder."
Procurada por Splash, a CNN Brasil não se manifestou.
O que seria, para Pedro Cardoso, uma "imprensa melhor"? "O poder tem que ir para o jornalista. O poder tem que estar na mão de quem faz, não na mão de quem paga. A pessoa que paga compra um direito comercial de explorar comercialmente o trabalho, mas não de controlar o trabalho."
Para o ator, "a imprensa brasileira, com seus interesses comerciais, teve grande participação na destruição da credibilidade da verdade", o que prejudicou o país na pandemia. "Quando a gente teve que dizer a verdade para escapar da morte, nós não tínhamos nenhuma credibilidade perante uma enorme parcela da população. Há quem odeie a Folha de São Paulo, há quem odeie a Rede Globo, há quem odeie não sei o que lá, há quem odeie o SBT. Agora, a Folha de São Paulo, o SBT e a Rede Globo deram razão para esse descrédito", critica.
Por que então dar entrevistas, se ele tem tantas ressalvas em relação à imprensa brasileira? No início da conversa com a reportagem, ele responde: "Sou um grande fã do jornalismo profissional. Um grande crítico, mas um grande fã também".
"Você me pediu uma entrevista, fiquei empolgado porque estou interessado em divulgar meu teatro e porque gosto de participar da vida pública brasileira. E eu não te pedi que nenhum assunto fosse interditado. Eu nunca pedi isso, não faço isso. Entrevista é um acordo ético."
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