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Obras de arte compradas por Abílio Diniz são falsas? O que diz cada lado

Abílio Diniz comprou supostas obras por R$ 69 mil, em 2007 - Divulgação
Abílio Diniz comprou supostas obras por R$ 69 mil, em 2007 Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

01/03/2023 04h00

Abílio Diniz, 86, venceu um processo contra a galeria Pintura Brasileira, em São Paulo, que teria vendido dois quadros falsificados do artista Alfredo Volpi ao empresário.

Ao justificar a procedência da indenização por danos morais, o juiz afirmou que diretores do Masp, convidados para um jantar na casa de Abílio e Geyze, teriam notado a falsificação. O marchand Marcelo Barbosa, que representa a galeria, diz que os únicos prejudicados foram ele e a família.

Os dois lados travam uma batalha judicial desde 2017. De um lado, a defesa do empresário contesta categoricamente a autenticidade das peças - baseada em parecer do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna e nos laudos de um colecionador e um estudioso do pintor.

De outro, a galeria Pintura Brasileira reafirma a procedência das obras alegando que elas foram atestadas por uma das filhas do artista, Eugenia Maria Volpi Pinto, e que os laudos apresentados pela acusação "contêm falhas e informações equivocadas."

A reportagem de Splash conversou com as duas defesas técnicas e teve acesso aos autos do processo, que soma mais de 900 páginas (Entre laudos técnicos, pareceres, documentos e pedidos formalizados pelos envolvidos na ação), para contar as alegações de cada uma das partes.

O que dizem Abílio Diniz e a mulher, Geyze Marchesi

Abílio Diniz - Reprodução/Flow/Youtube - Reprodução/Flow/Youtube
Abílio Diniz em entrevista ao podcast Flow
Imagem: Reprodução/Flow/Youtube

Abílio comprou as obras "Bandeirinhas com Mastro" e "Bandeirinhas" por R$ 69 mil, em 2007. Anos depois, em 2012, ele transferiu a propriedade das peças para a mulher, Geyze Marchesi.

O casal alega que um amigo, ao folhear o catálogo raisoneé — referência em obras de arte —, identificou que a numeração das peças compradas não coincidia com as do catálogo.

Na sequência, Geyze teria solicitado a opinião do galerista Peter Cohen, da Dan Galeria, e que ele teria dito que os "quadros lhe pareciam estranhos".

Segundo a defesa, foi neste momento que ela decidiu solicitar ao Instituto Alfredo Volpi os certificados de autenticidade. O instituto, no entanto, concluiu que as "obras não eram autênticas" e, por isso, negou a emissão dos documentos.

Os advogados do casal também ressaltam que tentaram trocar as peças "inúmeras e reiteradas vezes" por outras do mesmo autor e certificadas pelo instituto, mas que o responsável pela galeria teria feito "pouco esforço". E quando fez teria oferecido obras de arte que possuíam valores inferiores.

"O processo foi esgotado. Ela [Filha de Alfredo Volpi] autenticou uma obra que é falsa. A Justiça já decidiu que é falsa. Mesmo ela sendo filha, isso muda até um pouco como a gente olha para a obra, porque ser filha não basta. É uma falsificação e a defesa está focada na recuperação", disse o advogado Luiz Otávio Pacífico, em conversa com Splash.

O que diz a galeria Pintura Brasileira

Galeria Pintura Brasileira - Divulgação  - Divulgação
Galeria Pintura Brasileira
Imagem: Divulgação

A galeria garante a autenticidade das obras de arte. À reportagem, o marchand Marcelo Barbosa reafirmou que as peças foram comercializadas com documentos assinados por Eugênia Maria Volpi, uma das filhas do autor, e que eles comprovariam a veracidade das pinturas.

Ele contesta o laudo feito pelo perito João Carlos Lourenço, que foi designado pela Justiça para avaliar as peças. Sabemos também que no século 21 a única forma de comprovar se de fato uma obra de arte é autêntica ou não é através de uma perícia científica. Coisa que até então não havia sido realizada", alega.

Marcelo ainda ressalta que a defesa da galeria foi a única que "providenciou uma perícia grafoscópica" para analisar a assinatura. No documento, o perito Vergilio Silvano Freixo conclui que as assinaturas "têm as características do punho escritor do artista" e, portanto, elas são "autênticas".

A galeria aponta falhas no relatório do Instituto Alfredo Volpi e do perito judicial. "O perito nomeado pelo juiz, o senhor João Carlos Lourenço, não possui qualificação suficiente para determinar objetivamente e nos padrões atuais se uma obra de arte é autêntica ou não."

Ele alega ainda que o próprio perito teria admitido que as obras são de Volpi quando se refere a elas como obras diversas do artista. "Ou seja, nunca foi o caso de se as obras são do Volpi e sim se elas são do IAVAM", completa.

O advogado da galeria, Marco Aurélio de Carvalho, por fim, acredita na possibilidade de reverter a decisão judicial: "O Abílio Diniz não cometeria um erro primário desses de comprar obras falsas. E de fato não cometeu. As obras são boas e vamos comprovar que de fato são".