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'Tristeza e dor': mãe e viúvo contam bastidores de doc de Paulo Gustavo

Dona Déa e Paulo Gustavo em "Filho da Mãe" - Divulgação/Prime Video
Dona Déa e Paulo Gustavo em 'Filho da Mãe' Imagem: Divulgação/Prime Video

De Splash, em São Paulo

15/12/2022 04h00Atualizada em 16/12/2022 13h24

Déa Lúcia transita entre os risos que contagiam a sala e momentos em que, educada e sutilmente, contém a emoção e pede a Thales que responda por ela. Esse é o clima — respeitoso, carinhoso e humorado — no dia das entrevistas para o lançamento de "Filho da Mãe", último projeto assinado por Paulo Gustavo.

O documentário mostra os bastidores do stand-up que o comediante fez ao lado da mãe, e revela bastidores de sua intimidade e a trajetória do anonimato ao sucesso de Dona Hermínia. Estreia amanhã no Amazon Prime Video. Os depoimentos de membros da família, amigos e colegas de profissão preenchem os espaços e mostram a dimensão do comediante nas vidas de quem o cercou.

"Falar sobre ele me passa um misto de emoções. É uma alegria ter de novo com ele algumas cenas que a gente via todos os dias na nossa vida", confessa Thales, viúvo do ator, em entrevista a Splash. "Ao mesmo tempo, há a tristeza e a dor dessa ausência que é tão forte quanto a presença."

"É quase que um dever fornecer esse agrado para os fãs, que a gente sabe que têm muito carinho por ele e por tudo o que a gente viveu. Recebo muito desse carinho, e eu acho que também temos essa dívida e espero que os fãs fiquem felizes com o conteúdo especial que está nesse filme." Thales Bretas, viúvo de Paulo Gustavo

"Filho da Mãe" é uma homenagem dupla. Ao mesmo tempo em que honra o legado de Paulo Gustavo e a forma como ele galgou sua trajetória na comédia, é um livro aberto sobre a importância da figura materna para isso. Dona Déa é não apenas a inspiração para a personagem que catapultou Paulo Gustavo ao sucesso. Enquanto mãe, é sua força, sua amiga e sua grande apoiadora.

"Estamos aqui, eu estou rindo e tudo, mas quando a gente chega em casa é muito difícil, vai para o quarto sozinha", completa Déa Lúcia. "Não é fácil, mas é esse misto de alegria e dor."

Ela conta que, durante as filmagens do filme, dirigido por Susana Garcia (de "Minha Vida em Marte" e "Minha Mãe é uma Peça 3") e Ju Amaral (irmã de Paulo), evitou assistir aos vídeos e aos cortes.

"Eu tento não ver. Só vi o primeiro corte e não vi o filme pronto, mas vou ver amanhã", prometeu. "Nem sei se vou conseguir ver todo, mas vou ter guardado para ir vendo aos poucos. Mas estou feliz desse sonho dele ter sido realizado, porque desde o primeiro dia ele colocou uma pessoa para gravar tudo."

Mãezona do Brasil

Nos últimos meses, a presença de Dona Déa na televisão — precisamente, em alguns quadros do programa 'Domingão com Huck' (TV Globo) — contagiou e divertiu, seja graças ao seu humor franco ou aos comentários que arrancam risadas inesperadas até mesmo de colegas de bancada.

Dona Déa credita o que fãs e admiradores chamam de força à sua fé. Mesmo assim, ela rejeita qualquer título de "mãe perfeita".

"Eu sou uma mãe como outra qualquer. O meu diferencial de mãe talvez seja por aceitar de cara um filho gay, estar ali com ele. Eu entendo que eu tenho um grande valor nesse lado, em um mundo machista. Eu ficava ali, ía atrás, estava sempre ao lado dele. Mas todo o resto que aconteceu é mérito dele. Ter colocado isso para fora, feito a Dona Hermínia, isso foi ele. Não sou eu."

"Todo mundo fala assim: 'A senhora é forte'. A minha força vem lá de cima, da fé, porque sem fé não adianta", continua. "Você precisa ser muito evoluído para não acreditar em nada. Eu ainda não tenho essa capacidade. Preciso da fé para me sustentar. E não é ser católica, é qualquer alusão àquilo que te fortalece e eleva o seu pensamento no entendimento."

'Papai Paulo'

Romeu e Gael hoje têm três anos. Os filhos de Paulo Gustavo e Thales Bretas eram um sonho para o humorista. No documentário, Thales reforça o quanto o marido falava sobre a ambição de ser pai. Mesmo assim, a pouca idade faz com que abordar o assunto em casa seja uma missão que Thales encara com cuidado e paciência.

"Vejo muito dele neles, no jeitinho, nas expressões. Acho que sempre tento colocar para eles muitos dos valores que o Paulo ensinava. Aprendi muita coisa com o Paulo, nossa convivência sempre foi muito legal. A gente era muito diferente e se somou muito, e eu espero que eu possa levar um pouquinho dele", compartilha.

"Para mim, é muito difícil mostrar vídeo, ficar mostrando foto, fora o que sai na mídia, das homenagens que a gente recebe, dos quatros. É difícil para mim, e eu sinto que é difícil para eles", explica o dermatologista.

Eles não entendem muito bem. Cadê esse pai, o papai Paulo, que não é que abandonou, mas que sumiu da vida deles assim, sem um aviso prévio? Um dia eu espero ter essa conversa com eles.
Thales Bretas, sobre Paulo Gustavo e a criação dos filhos, Romeu e Gael

"Hoje em dia, eu falo que está protegendo a gente lá do céu, que virou uma estrelinha, mas que eles têm dois pais e é muito importante preservar isso. Eles veem as coisas do Paulo que ainda estão morando no nosso apartamento. Então, acho que ele está presente todos os dias."

Sobre o próprio documentário, Thales confessa que quer muito que os dois vejam, mas que o momento ainda não chegou.

"Eu quero mostrar depois para eles na televisão, mas não sei se é o momento. Ainda temos que conversar com o psicólogo. Eles vão ver a Vovó Déa, o papai Paulo, mas não vão entender o contexto, não agora."

Existe momento ideal?

Mais de um ano após a morte de Paulo Gustavo, Thales e Déa concordam que talvez não exista um momento ideal para reviver as memórias do humorista e olhar para as lembranças sem que os sentimentos de felicidade se misturem com a saudade.

"Eu confesso que eu acho o momento difícil ainda, não acho que seja o melhor momento para a gente, da família, preparar esse material", declara Thales. "Ainda é muito difícil para a gente assistir e selecionar. Mas estava tudo tão fresco, tão recente. O Paulo já havia iniciado a conversa [sobre a produção do documentário], e isso estava fresco nas nossas cabeças também. As partes boas, as partes ruins do show", pontua.

"Contamos muito com ajuda da Susana e da Juju. Acho que vai ser uma homenagem bonita, ainda mais por estrear agora, numa época que ele amava estrear, o final do ano. Ele adorava dezembro, era o mês dele."

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