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Ex-Ken humano desistiu de transformação após reconhecer distúrbio de imagem

De Splash, em São Paulo

19/09/2022 04h00Atualizada em 19/09/2022 16h03

Há dois anos, Felipe Adam ganhou destaque na imprensa nacional e internacional por "se transformar" no boneco Ken, o companheiro da Barbie. O tabloide britânico The Sun publicou uma matéria que detalhava o ritual de quatro horas em que o jovem se maquiava para parecer o personagem. O canal do YouTube truly, que compartilha vídeos de histórias curiosas no formato "reality" e acumula mais de 10 milhões de inscritos, também produziu uma matéria sobre o rapaz naquele ano.

Agora, Felipe mudou de direção. O jovem, que mora em Peruíbe (SP) e hoje tem 18 anos, desistiu de ser um novo Ken Humano. Segundo ele, o distúrbio de imagem, uma depressão e episódios de automutilação fizeram com que ele abandonasse as perucas, maquiagens e corseletes e voltasse à sua essência.

Ele não fez muitas intervenções estéticas, contando apenas três, pouco invasivos: micropigmentação na sobrancelha, o procedimento 'BB glow' na pele e uma sessão de lipo enzimática no rosto. Ainda assim, não reconhecia seu reflexo.

"Foi no momento em que a minha ansiedade, a minha depressão, a distorção que eu tinha, o desespero mesmo. Eu cheguei no fundo do poço, sabe? De sozinho, me olhar no espelho e me ver tão desesperado, de dar socos no rosto e arrancar o cabelo na mão, e eu parar e falar: 'Se existe algum Deus, se existe algo neste mundo, faça-me ajudar. [...] O que tem de errado comigo? Por que eu estou passando por tudo que eu estou passando?'", conta ele a Splash.

Tudo começou quando Felipe tinha 12 anos. Influenciado pelos desenhos da Barbie e por outros "Kens humanos", o adolescente passou a comprar maquiagens e roupas para se vestir como o boneco. Na escola, seu jeito de agir era motivo de bullying.

Cresci sem ter uma referência masculina, sem meu pai. Fui criado por mulheres, criado por minha avó, pelas minhas irmãs, pela minha mãe. Então, eu tenho esse lado feminino e decidi explorar isso. Felipe Adam

Há oito meses, Felipe começou o que ele chama de "processo de lapidação" e desistiu das 42 cirurgias plásticas que pretendia fazer. Religioso, diz acreditar muito em Deus e atribui a mudança a "algo sobrenatural".

"Veio assim, sabe? Uma intuição. Pensamento de que se eu não me amasse, que eu passasse a me amar", conta. "[Hoje], eu tenho vontade de soltar fogos, de estourar rojão, de tanta alegria. Por ter me descoberto, por ter me encontrado, por ter desenvolvido a minha autoestima, o meu amor próprio. [...] Eu renasci", completa.

Agora, o visual "montado" deu espaço a uma aparência natural, mas sem perder o estilo. Felipe ainda gosta de usar ternos, sapatos sociais e disse que se enxerga como um "gentleman": "Eu vejo o boneco até hoje como inspiração, mas nos seus bons hábitos", avalia.

Desde julho, ele trabalha com o tio e o marido da mãe como auxiliar de pedreiro. Quando aprendeu a profissão, na adolescência, sofreu preconceito por parte dos outros colegas de equipe e ouvia "piadinhas e conversas desrespeitosas". Hoje, trabalhando com a família, é mais acolhido: "Eu tenho a a liberdade pra poder conversar, pra poder brincar entre a gente", disse, admitindo que os parentes ainda estranham o burburinho em torno dele.

Pensando no futuro, Felipe sonha em trabalhar como modelo de passarela e espera inspirar jovens que estão passando pela mesma situação que ele.

Quero ajudar os outros adolescentes que talvez passem ou estão passando pelo que eu passei na vida com problemas familiares, com problemas de descobrir a autoestima e que sofrem bullying sabe? Eu passo o que eu vivi adiante nessa intenção. Felipe Adam