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Porchat e Tabet relembram polêmicas: 'Jesus já voltou, mas foi assassinado'

Fábio Porchat e Antonio Tabet são um dos criadores do Porta dos Fundos Imagem: Divulgação/Reprodução

Filipe Pavão

De Splash, no Rio

15/05/2022 04h00

O canal Porta dos Fundos está prestes a completar dez anos no YouTube e se prepara para lançar, em junho, uma série com o remake de dez esquetes marcantes. A história do projeto, que se tornou uma produtora de conteúdo audiovisual em diferentes formatos, é marcada por vídeos que viralizaram nas redes sociais e geraram polêmicas.

Uma das maiores polêmicas da produtora é o especial de Natal feito para a Netflix em dezembro 2019. No filme "A Primeira Tentação de Cristo", Gregorio Duvivier interpreta Jesus em uma relação homoafetiva com Orlando, personagem de Fábio Porchat. O vídeo gerou criticas de religiosos que chegaram a fazer várias petições online que pediam sua retirada do ar.

Além disso, a polêmica culminou em um atentado contra a antiga sede da produtora no Humaitá, Zona Sul do Rio, que foi atingida por por dois coquetéis molotov na véspera do Natal daquele ano. O ataque gerou comoção e pedido de liberdade de expressão por parte dos integrantes do projeto e de fãs. Dos cinco supostos envolvidos, apenas um foi preso até hoje.

Em conversa com Splash na nova sede da produtora, Fábio Porchat e Antonio Tabet, dois dos criadores, roteiristas e atores do canal, recordam a polêmica em torno da representação homossexual de Jesus. Eles acreditam que vídeos como o especial de Natal contribuem para fazer a sociedade refletir que ser gay não é um xingamento.

Especial de Natal do Porta dos Fundos em 2019 gerou polêmica Imagem: Reprodução / Internet

"Você acha que Jesus ia voltar como eu? Não. Com certeza, ia voltar uma mulher ou um negro. Eu sempre falo: Jesus já voltou, mas ele foi assassinado. Ele tenta voltar todos os anos, mas é assassinado todos os anos... Se ele voltar no Brasil, Deus me livre. A gente não deixa ele sobreviver porque se mata os pretos, as mulheres e os gays desse país. É o país que mais mata trans. Meu Deus, como somos violentos", pensa Porchat.

O humor é uma forma de catequizar as pessoas. Tem tanto pastor querendo catequizar as pessoas, deixa a gente um pouco. A gente só não pede dinheiro.
Antonio Tabet

Quem são as pessoas que processam o Porta dos Fundos?

Depois de dez anos da estreia do canal, eles analisam que a produtora conquistou uma "boa fama de que a gente tende a sacanear os caras que estão no poder". Tanto que Fabio Porchat lembra que ao criar a série "Homens" (2019), a fim de sacanear figuras brancas e cisgêneros, não houve uma interpretação equivocada do público.

"Desde o início a gente fala de assuntos polêmicos, como machismo e racismo, quando ainda não se falava disso, a piada era 'isso é uma bichona' (antiga piada do 'Zorra Total', programa da Globo), a gente já fazia piada com o Ku Klux Klan, obviamente rindo dos imbecis de lá", analisa Porchat.

Uma das preocupações atuais dos roteiristas é a "cultura do cancelamento". Eles dizem estar atentos à diversidade da sociedade e não deixam de assumir quando "pisam na bola" e de pedir desculpas.

"A gente não tem nenhum problema em falar 'foi mal, desculpa, nós erramos', mas o que está acontecendo hoje é: muita gente se sentindo ofendida o tempo todo. E você vê isso pelo nosso histórico de processos. O Porta já foi processado inúmeras vezes e ganhou todos os processos", afirma Tabet. "O Instituto Dom Bosco processou a gente 613 vezes e perdeu todas", ironiza na sequência.

Fábio Porchat, Gregorio Duvivier, Antonio Tabet e João Vicente fazem parte do Porta dos Fundos Imagem: Charles Naset/Divulgação

Porchat ainda afirma que a maioria dos processos nem chega até o elenco do Porta dos Fundos, pois é barrado pela Justiça por não ter base legal.

"Enquanto nossos inimigos forem Feliciano, Malafaia, Garotinho é porque a gente está no caminho certo. Quando for a comunidade LGBT, a comunidade negra que estiver processando a gente, aí a gente vai falar 'erramos muito'. Enquanto falarem 'a milícia está braba com o Porta', está ótimo. Estamos no caminho certo", prossegue Porchat.

"A crítica e censura vem do tipo de pessoa que fala 'eu dei educação para o meu filho, ele não vai casar com uma mulher preta'. Enquanto a gente estiver ofendendo esse tipo de gente, sendo processado por eles, é muito bom. É esse cara que eu quero irritar", completa Tabet.

Críticas a Bolsonaro

Em um ano eleitoral, os criadores do Porta dos Fundos não se abstêm de analisar o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que também é pré-candidato a reeleição. Tabet classifica a atual gestão como negativa e afirma discordar da ideia de que quanto pior é a situação política de um país, mais fácil é a vida do humorista.

Se houvesse uma votação no Porta dos Fundos, Bolsonaro perderia no primeiro turno.
Antonio Tabet

"O nosso governo atual não é ruim. Para ser ruim, ele teria que melhorar muito. Então, assim, o problema é que ele é tão ruim, a situação é tão catastrófica, sombria e pouco promissora que a piada perde a graça, porque a gente deixa de fazer sátira e começa a se preocupar como cidadãos. Como cidadão e como humorista, eu quero muito que esse governo caia porque eu quero poder falar mal de um governo que seja apenas ruim", pensa Tabet.

Antes de finalizar a entrevista, Porchat ainda fez uma previsão.

O Fábio daqui a dez anos, quando o Porta dos Fundos fizer 20, ele já voltou do futuro e avisou que vai dar tudo certo, em 2023 a gente vai ser feliz de novo.
Fábio Porchat

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