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Briga de gangues de acordeons faz homicídios dispararem em país africano

Guerra eleva taxa de homícidios no país africano, sendo considerado um dos mais violentos do mundo em 2021 - Reprodução/Youtube
Guerra eleva taxa de homícidios no país africano, sendo considerado um dos mais violentos do mundo em 2021 Imagem: Reprodução/Youtube

De Splash, em São Paulo

29/04/2022 04h00

Uma disputa entre músicos de acordeons saiu do controle e se transformou numa guerra de gangues no pequeno país de Lesoto, na África, levando o lugar a ter a sexta maior taxa de homicídios no mundo em 2021. A situação preocupa os 2,1 milhões de moradores da região, que, desde 2004, percebem o conflito piorar. As informações são da rede britânica BBC.

Música tradicional de Lesoto, o Famo, antes conhecido como "hino dos viajantes", era um rap feito por pastores e andarilhos que andavam a pé pelas montanhas do país. Posteriormente, essa música começou a ser acompanhada de acordeons.

O conflito atual, marcado por assassinatos e músicas com letras provocativas, teve início ainda em 2004, quando um artista do gênero teria matado o outro. Sebonomoea Ramainoane, um dos promotores originais do Famo, contou que se um grupo rival te procura e você não está em casa, sua família inteira é morta. "Aldeias e vilas viraram orfanatos por causa da música", disse.

Os músicos acabam divididos em facções, identificadas por vestimentas coloridas: quem veste amarelo são os Terene, e quem veste azul preto são os Seakhi.

Um dos personagens dessa história, Lekase, hoje morando na África do Sul, fazia parte dos Saekhi e se escondia quando um colega era ameaçado. Mas, também, carregava uma arma. Ele se nega a responder se matou alguém, mas diz que já "reagiu". "Reagi, porque quando vejo alguém enterrado, sabendo que foi morto por outro grupo, fico com raiva. Então tenho que me vingar", disse.

A cantora Puseletso Seema, considerada rainha do Famo, especula que tenha sobrevivido agora "por ser mulher". "Todo mundo quer mostrar sua masculinidade por possuir uma arma", disse. Ela relembrou que nunca insultou alguém em suas letras. "Cantei sobre tudo na minha vida, sobre minha vida de casada, quando meu casamento fracassou e também cantei sobre os fracassos do meu casamento", falou.

Ela explicou que a guerra de gangues começou por nada além de ciúmes. "Quando os artistas começam a se destacar, os rivais gravam músicas cheias de insultos".

A ameaça também chega para quem reproduz as músicas, de acordo com Tsepang Makakole, apresentador da MoAfrika FM. "Quando você está no rádio, você tem que ter certeza de que todos os dias você toca em todos os grupos. Se você deixar um de fora, eles dizem: 'Você não gosta de nós.' Então eles atiram em você".

Com o conflito em escalada, os assassinatos deixaram de ser só sobre o Famo e chegou nas minas de ouro ilegais na África do Sul. Em dezembro do ano passado, o mineiro Sello Ntaote, voltou para a casa pela primeira vez em três anos para visitar a esposa e os filhos pequenos em Lesoto e foi morto a tiros no ano novo.