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Autora de Harry Potter cancelada: entenda polêmica citada por Putin

J.K. Rowling, autora de Harry Potter, é comparada à Rússia pelo próprio Vladimir Putin - Neil Hall
J.K. Rowling, autora de Harry Potter, é comparada à Rússia pelo próprio Vladimir Putin Imagem: Neil Hall

Vinícius de Oliveira

Colaboração para o UOL

25/03/2022 16h23

Vladimir Putin, presidente da Rússia, citou a autora de Harry Potter, J.K. Rowling, para falar sobre as sanções culturais que o ocidente está aplicando em artistas do país devido à guerra contra a Ucrânia.

"Eles cancelaram J.K. Rowling recentemente, a autora de livros infantis. Seus livros são publicados em todo o mundo, mas a cancelaram só porque ela não satisfez as demandas de direitos de gênero. Eles agora tentam cancelar nosso país", disse Putin.

O presidente russo fez referência às críticas que a autora tem recebido por declarações transfóbicas, além de mensagens de apoio a pessoas anti-trans, anti-gays e anti-aborto. Relembre as polêmicas:

Maya Forstater

Em 2018, uma pesquisadora e feminista radical foi "demitida" do Centro para o Desenvolvimeto Global (CGD) após uma série de tuítes transfóbicos repercutirem nas redes sociais.

Dentre outras coisas, Maya Forstater dizia que "é impossível que mudemos de sexo ou percamos nosso sexo. Garotas crescem e se tornam mulheres. Garotos crescem e se tornam homens".

A organização começou a investigar essas publicações e, quando o contrato de Maya acabou, optou por não renová-lo. Porém, a pesquisadora processou a CGD dizendo que havia sido demitida por conta das postagens nas redes sociais.

J.K. Rowling saiu em defesa de Maya Forstater e afirmou que terem forçado a pesquisadora a deixar seu emprego era uma ofensa a todas as mulheres cis.

Pessoas que menstruam

Em 2019, a escritora J.K. Rowling causou polêmica em seu Twitter quando zombou de um artigo que usava a expressão "pessoas que menstruam", que falava sobre a falta de recursos básicos como absorventes e coletores menstruais para pessoas de baixa renda, além dos preconceitos sobre o tema.

A autora reclamou que o texto não utilizou a palavra "mulheres" e foi criticada por invisibilizar homens trans, que também menstruam. À época, J.K. disse que conhece e ama pessoas trans, tendo empatia por elas há décadas. Mas também criticou fortemente o uso de hormônios e cirurgias feitas em jovens.

Sexo e gênero

Em julho de 2020, J.K. Rowling tentou explicar seu posicionamento sobre sexo e gênero em um artigo publicado em seu site oficial. Nele, a autora de Harry Potter defende suas opiniões e afirma que as reações às suas declarações eram uma tentativa do patriarcado de calá-la com a "cultura do cancelamento".

Ativistas da comunidade trans tentaram entrar em contato com a escritora, propondo debate e ensinamentos, mas ela rejeitou. De todo modo, muitos pesquisadores apontaram os erros no artigo de J.K. Rowling ao misturar conceitos de sexo biológico e gênero.

Troubled Blood

Lançado em 2020 sob o pseudônimo Robert Galbraith, o livro "Troubled Blood" conta a história de um homem cisgênero que se veste de mulher para matar outras. Ao receber críticas, J.K. Rowling disse que se baseou na história dos assassinos Jerry Brudos e Russell Williams, que roubavam as roupas femininas de suas vítimas. A desculpa não foi muito bem aceita e, em pouco tempo, a hashtag #RIPJKRowling era uma das mais comentadas do Twitter.

Johnny Depp

O cancelamento de J.K. Rowling não se deu apenas pelas falas transfóbicas. Em 2016, após uma rápida aparição de Johnny Depp como o bruxo Grindelwald, na saga "Animais Fantásticos e Onde Habitam", derivada da série original, a autora foi criticada pela escalação do ator.

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Isso porque ele havia sido acusado pela ex-mulher, Amber Heard, de violência doméstica. Fãs de Harry Potter pediram para que outro ator fosse escalado para o papel, mas ele se manteve no elenco.

Robert Galbraith

Falando em pseudônimo, o nome adotado por J.K. Rowling para escrever fora das aventuras do mundo de Harry Potter também já foi alvo de polêmica. Robert Galbraith Heath era um psiquiatra norte-americano que ficou conhecido, na década de 1950, por realizar terapias de conversão sexual. Ele dizia que usava estimulação cerebral profunda para "transformar" um homem gay em um homem hétero.

A autora nega que o psiquiatra tenha sido a sua inspiração e que, na verdade, seu pseudônimo é uma homenagem ao presidente americano John F. Kennedy e também uma referência ao nome que ela queria ter quando era criança, Ella Galbraith.

Lei escocesa

Mais recentemente, J.K. Rowling criticou o papel de uma proposta de lei da Escócia que visa facilitar o reconhecimento do gênero de pessoas trans. Para a autora, a emenda prejudicaria "as mulheres mais vulneráveis da sociedade: aquelas que buscam ajuda depois de serem vítimas de violência sexual e mulheres encarceradas".

A proposta escocesa liberaria pessoas trans da obrigatoriedade de análises médicas e psiquiátricas para ter seu gênero reconhecido. Com isso, a autora alega que homens poderiam fingir que são mulheres trans para ter acesso facilitado a possíveis vítimas.

Para embasar sua argumentação, J.K. Rowling citou o caso de Katie Dolatowski, uma mulher trans condenada na Escócia pela tentativa de estupro de uma garota de 10 anos.