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Como um imigrante ajudou o filme '7 Prisioneiros' a impressionar o mundo

Christian Malheiros em cena de '7 Prisioneiros', filme da Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

Renata Nogueira

De Splash, em São Paulo

21/11/2021 04h00

O longa brasileiro "7 Prisioneiros", que estreou em 11 de novembro, é atualmente o segundo filme em língua não inglesa da Netflix mais visto no mundo. Segundo a plataforma, foram quase 10 milhões de horas assistidas só em sua primeira semana.

Alguns elementos poderiam explicar o sucesso do filme do diretor Alexandre Moratto ("Sócrates"): a parceria com a O2 Filmes e Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") como produtor, Rodrigo Santoro ("300") e Christian Malheiros ("Sintonia") como protagonistas, uma história universal.

A aplaudida passagem pelos Festivais de Cannes, na França, e de Toronto, no Canadá, também já despertava a curiosidade do público enquanto o filme não estreava no streaming.

A gente gostava do filme, mas as críticas [no exterior] foram surpreendentes. Ele apareceu nas previsões para o Oscar. Fernando Meirelles

O cineasta Fernando Meirelles em entrevista a Splash sobre '7 Prisioneiros' Imagem: Netflix

Conversando com Alexandre Moratto e Fernando Meirelles, Splash descobriu um detalhe de bastidores que fez diferença no produto final. O filme que conta a história de sete trabalhadores explorados em um ferro velho em São Paulo, escancarando o tráfico humano e a escravidão moderna, teve a presença de um imigrante que viveu de verdade aquela situação.

Patrícia Faria, diretora de elenco, foi para as ruas atrás de histórias e personagens que inspirassem o filme. Ela entrou em algumas comunidades bolivianas onde achou Josep, chamado de Romeo pelo diretor do filme, Alexandre Moratto.

Alexandre Moratto, diretor de '7 Prisioneiros' no Festival de Toronto, no Canadá Imagem: Jeremy Chan/Getty Images/AFP

"Ele não é profissional como ator. Quando ele migrou para o Brasil, ele passou seis meses em uma oficina de costura onde eles falaram para ele que, se denunciasse, a polícia ia matar. Então ele ficou preso lá", conta Moratto. O relato sobre a polícia, inclusive, entrou como um dos elementos de "7 Prisioneiros".

"A história dele é muito forte, muito impactante. Lembrou a gente todos os dias no set porque a gente estava fazendo esse filme. Eu fiz questão de ele falar com o resto do elenco para todo mundo ouvir a história", relembra o diretor.

[A presença do imigrante] deu aquele lembrete forte diariamente do porquê esse filme é importante. Alexandre Moratto

No filme, Josep aparece brevemente em uma cena em que Mateus (Christian Malheiros) precisa escolher três homens para trabalhar no ferro velho. Embora curta, a cena carrega simbolismos.

Um homem negro e também explorado escolhendo outros para viver a mesma situação. Luca, personagem de Rodrigo Santoro, pagando pelos trabalhadores como se fossem mercadorias. As correntes prendendo os pulsos dos imigrantes venezuelanos, bolivianos e haitianos.

"Isso não é uma condição só do Brasil"

Rodrigo Santoro e Christian Malheiros são Luca e Mateus no filme '7 Prisioneiros' Imagem: Divulgação/Netflix

Fernando Meirelles, um dos cineastas brasileiros mais respeitados do mundo, decifra o que teria levado o mundo a se interessar pela história de "7 Prisioneiros". Para ele, o filme estar na lista de previsões para o Oscar 2022 significa que ele foi compreendido pelo mundo.

"Eu acho que não é difícil compreender. Porque pessoas que estão sujeitas a serem exploradas, a fazer um trabalho forçado, existem em todo lugar. Quando você é vulnerável, não tem dinheiro, você vai topando. Um salário pequeno, uma condição de moradia pior... Tem vários níveis até você chegar a ser escravizado. E isso acontece no mundo inteiro", reflete.

Para exemplificar, Meirelles cita o exemplo do filme "Mediterranea" (2015) que mostra praticamente a mesma situação em uma região bem distante do Brasil.

"Ontem eu assisti a um filme que se passa na Itália de um cara de Burkina Faso que colhe laranja e é escravizado. Isso na Itália de hoje. Em qualquer lugar as pessoas entendem esse filme. Isso não é uma condição só do Brasil. Qualquer parte do mundo, Na Europa, inclusive, isso acontece. Infelizmente."

Cheiro de Oscar

Mesmo sem ter sido eleito o representante do Brasil a melhor filme internacional para o Oscar 2022 (o escolhido foi "Deserto Particular"), "7 Prisioneiros" cumpre todas as exigências da academia, tendo inclusive estreado em algumas salas de cinema, e tem chances de correr em outras categorias. Como aconteceu, por exemplo, com o próprio "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Katia Lund, que concorreu nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado no Oscar de 2004.

"Eu ficaria eternamente feliz", admite Alexandre Moratto sobre a possibilidade. "Tem 40 milhões de pessoas no mundo que sofrem esse tipo de exploração todo ano. Espero que o público em outros países possa se identificar. Espero que esse filme abra essa discussão mais ampla."

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