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Juntos em '7 Prisioneiros': seria Christian Malheiros o novo Santoro?

Rodrigo Santoro e Christian Malheiros em cena de "7 Prisioneiros" - Divulgação/Netflix
Rodrigo Santoro e Christian Malheiros em cena de '7 Prisioneiros' Imagem: Divulgação/Netflix

Renata Nogueira

De Splash, em São Paulo

11/11/2021 04h00

A primeira vez que Rodrigo Santoro e Christian Malheiros se encontraram foi em uma leitura na O2 Filmes, já na preparação para "7 Prisioneiros", que estreia hoje na Netflix. "Foi uma empatia instantânea", lembra Santoro sobre o que sentiu ao conhecer o ator 24 anos mais jovem que ele. Um iniciante e um gigante do cinema dividem o protagonismo no filme de Alexandre Moratto, que ainda traz o peso da produção de Fernando Meirelles.

No filme, Rodrigo Santoro é Luca, gerente de um ferro velho em São Paulo que recebe jovens do interior para trabalhar em situação análoga à escravidão. Christian Malheiros é Mateus, um dos sete rapazes que vem para São Paulo iludido com a promessa de fazer um bom dinheiro e mudar a situação da família distante. Até ali, vilão e mocinho parecem muito bem definidos, mas a história ganha novos contornos e um questionamento incômodo.

"Esses dois personagens têm esse dilema. Você não vê mocinho nem vilão. Essa estrutura de vilão e mocinho dá para identificar no começo, mas depois você começa a questionar", adianta Christian, que diz ter aprendido muito com Santoro. Cria da periferia de Santos (SP), o ator começou a estudar teatro ainda na escola, aos 9 anos, e se profissionalizou aos 15 na escola de artes cênicas da cidade da Baixada. Foi lá que ele acabou descoberto por Moratto, que também dirigiu "Sócrates", seu filme de estreia.

"É incrível essa humanidade que o Rodrigo traz, principalmente para esse personagem do Luca. É muito fácil a gente querer achar um culpado ou um vilão, mas quando ele traz essa dubiedade na história dele, só tem a ganhar com o personagem", comenta Christian sobre o parceiro.

Com 27 anos de carreira, Rodrigo Santoro alcançou um mercado que poucos brasileiros se arriscaram. Depois de uma carreira que começou nas novelas, ganhou notoriedade no cinema com "Bicho de Sete Cabeças", "Abril Despedaçado" (2001) e "Carandiru" (2003). A carreira internacional começou ma mesma época, com papéis no cinema e na TV dos Estados Unidos, que com o passar dos ano, o transformaria também em um ator respeitado e cobiçado no cenário internacional.

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Christian Malheiros em cena de '7 Prisioneiros', filme da Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

No mesmo caminho?

Christian Malheiros caminha para talvez atingir o mesmo patamar. Com o drama "Sócrates" (2018) foi nomeado Melhor Ator Principal no Independent Spirit Awards, considerado o Oscar do cinema independente. Depois, em "Sintonia", série de Kondzilla na Netflix, firmou-se como protagonista e chamou mais uma vez a atenção da mídia internacional. Antes de chegar ao streaming, "7 Prisioneiros" foi aclamado no Festival de Veneza. O drama levou o prêmio de Sorriso Diverso Veneza de Melhor Filme Estrangeiro.

Com todo seu estofo, Rodrigo Santoro não poupa elogios a Christian Malheiros. "Foi um dos melhores companheiros de cena que eu já tive. Um gigante mesmo começando. Um ser humano gigante. E quando o ser humano é gigante, o ator tende a ir nessa direção. Porque o ator trabalha com o material humano, o ator usa seu próprio corpo, sua própria voz, suas emoções como material de trabalho."

Consciente de ter ensinado, o veterano diz também ter aprendido muito com o novato. "É nato isso nele. O Chris é uma alma ancestral. É um cara que tem uma inteligência cênica, corporal, que vem com ele. Nós temos muita sorte de ter o Chris como protagonista desse filme."

O destino dos dois atores ainda se cruzaria em "Sessão de Terapia", gravada depois de "7 Prisioneiros". Na série do Globoplay, dirigida e protagonizada por Selton Mello, Chistian Malheiros vive um motoboy que é um dos pacientes do terapeuta Caio. E Rodrigo Santoro atua como o terapeuta de Caio.

Christian Malheiros só tem a agradecer pelos encontros que a dramaturgia proporcionou a ele até agora. "Minha entrada no cinema com pessoas tão poderosas me deixa muito satisfeito. Eu tenho mais aprendido do que contribuído." Com "7 Prisioneiros", o brasileiro de apenas 22 anos tem chances reais de chegar ainda mais longe. O filme não foi selecionado como representante do Brasil no Oscar 2022, mas cumpre os requisitos para concorrer em outras categorias da maior premiação do cinema.