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Como 'O Esquadrão Suicida' reciclou seu elenco sem ser uma continuação

Roberto Sadovski

Colunista de Splash, em São Paulo

04/08/2021 04h00

"O Esquadrão Suicida", adaptação da série de quadrinhos da DC dirigida por James Gunn, não é exatamente uma continuação de "Esquadrão Suicida", desastre cometido por David Ayer em 2016. Ainda assim, parte do elenco do filme de cinco anos atrás foi reunido para essa nova versão, ao lado de outros atores e de novos personagens.

Com carta-branca para fazer o filme que quisesse, Gunn, em um hiato entre sua demissão e recontratação pela Disney, mirou nos quadrinhos de John Ostrander e Luke McDonnell e conduziu o reboot como achou melhor. Trouxe sangue novo, mas não abriu mão de reconduzir Viola Davis como a insuspeita Amanda Waller, nem de colocar Margot Robbie em cena novamente como a Arlequina.

Faço a mesma personagem. É como conhecer alguém em momentos distintos de sua vida, a mesma pessoa com experiências diferentes.

Margot Robbie

Jai Courtney, que também retorna como o mercenário australiano Capitão Bumerangue, seguiu o mesmo espírito. "Alguns personagens são os mesmos e mantivemos muito do que já estava estabelecido", argumenta. "Não faria sentido criar um novo Bumerangue com o mesmo ator."

Nem todos, entretanto, têm essa mesma percepção. Joel Kinnaman, escalado em 2016 como o líder do time, Rick Flagg, abraçou o trabalho com novos olhos:

Eu diria que essa é uma outra versão de Rick Flagg. Também decidimos, eu e James, que eu não estaria limitado por nada que fiz no primeiro filme.

A chacoalhada faz mais sentido quando os veteranos são colocados ao lado dos novos jogadores.

Um deles é o Pacificador, soldado que acredita não haver limites —ou contagem de corpos— para se obter paz. Interpretado por John Cena, ele surge como um reflexo exagerado de Rick Flagg. "É uma rivalidade crescente que culmina a certa altura em uma disputa", diverte-se Kinnaman. "Trabalhar com John é sempre divertido."

Outros personagens, porém, não eram tão fáceis de ser explicados no papel. É o caso de David Dastmalchian, que interpreta o vilão Bolinha.

"Quando James me falou qual era meu papel, confesso não ter entendido nada", lembra o ator, que teve papéis menores em filmes como "Batman - O Cavaleiro das Trevas" e "Homem-Formiga".

Nos quadrinhos o Bolinha surgia esporadicamente, com anos entre cada aparição. Mas gostei do que James tinha em mente para ele.

David Dastmalchian

O caso de Idris Elba foi um pouco mais extremo. Convocado para interpretar o líder do novo Esquadrão, ele começou a trabalhar no filme sem saber qual seria seu personagem. Sua escalação provocou uma reação nos fãs de Will Smith, por acharem que ele seria substituído no papel do Pistoleiro.

Elba, por fim, foi confirmado como o Sanguinário, vilão menor de histórias do Super-Homem nos anos 1980, que aqui teve personalidade e arsenal atualizados. "Não fui a fundo em sua história", confessa. "Sei de onde ele veio e quem ele é, mas tudo que importa sobre ele James colocou no filme."

O personagem de Elba cria uma relação próxima com a Caça-Ratos 2, interpretada pela atriz portuguesa Daniela Melchior. "Ela é super esperta e bastante curiosa", elogia o ator. "Ela queria entender como poderíamos construir um relacionamento para que nossa dinâmica em cena fosse real."

Quando ressalto que eles tem uma energia de irmão mais velho e irmão caçula, o ator me interrompe no ato:

"Eu quero te agradecer por dizer 'irmão mais velho e irmã caçula', porque já me descreveram como pai, tio, e você colocou de um jeito bem mais legal. Então, obrigado!"