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#MeToo faz 3 anos: o que mudou em Hollywood (e fora dela) pós-campanha?

Harvey Weinstein Andrew Kelly - 10.fev.2016/Reuters

Do UOL, em São Paulo

15/10/2020 04h00

Foi há exatos três anos. No dia 15 de outubro de 2017, a atriz Alyssa Milano sugeriu no Twitter que mulheres assediadas ou agredidas sexualmente respondessem usando uma sugestiva hashtag chamada #MeToo ("Eu também"). Efeito imediato. Nas primeiras 24 horas, mais de um milhão de casos caíram na rede.

Essa campanha, que nasceu sem pretensão, virou uma bola de neve esmagadora e entrou para a história. Mexeu profundamente com as estruturas de Hollywood. Mas talvez você esteja se perguntando: o que exatamente o #MeToo mudou no universo entretenimento —e fora dele? Bem, muita coisa.

Pra começar, o #MeToo colocou figuras "intocáveis" na berlinda. Harvey Weinsten, um dos principais produtores do cinema americano, foi preso e sentenciado a 23 anos por estupro e agressão sexual, acusado por mais de 70 mulheres, principalmente atrizes.

Harvey Weinstein no tribunal em Manhattan Imagem: REUTERS/Brendan McDermid

Harvey era só a ponta do iceberg

Dezenas de figurões foram acusados na esteira do #MeToo. O comediante Bill Cosby e o fotógrafo francês Jean-Claude Arnault também terminaram condenados e presos. Outros, como o ator Kevin Spacey e os diretores Brett Ratner e Bryan Singer foram "cancelados".

Kevin Spacey, que assediou vários homens Imagem: Reprodução / Internet

Outra consequência do movimento: estúdios e produtoras vêm recorrendo a profissionais "coordenadores de intimidade", uma das funções que mais crescem no entretenimento. Basicamente, uma pessoa contratada para supervisionar cenas de sexo e garantir respeito e condições de consentimento.

A britânica Ita O'Brien dirige cena de sexo em peça de teatral Imagem: Ita O'Brien/Arquivo Pessoal

O maior sindicato de atores da indústria do cinema, o SAG-AFTRA, que representa 160 mil profissionais, criou um Código de Conduta sobre Assédio Sexual. As diretrizes ensinam a identificar o assédio e, entre outros pontos, pede o fim de audições em quartos de hotel, o famoso "teste do sofá".

Demorou, né?

O novo "Mulher-Maravilha 1984", por sinal, que estreia em dezembro, foi a primeira grande produção a investir pesado nessas diretrizes. Vale lembrar que o produtor Brett Ratner, financiador do primeiro filme, foi acusado de assediar sexualmente várias atrizes, incluindo Olivia Munn e Ellen Page.

É importante lembrar: o #Metoo também impulsionou outro movimento, o Time's Up. Liderado por atrizes e personalidades vítimas de Weinsten, ele criou um fundo que levantou mais de US$ 22 milhões e ajudou cerca de 4.000 vítimas.

A nova onda de diversidade na academia do cinema americano, que vem aumentando o percentual de mulheres entre seus associados, também é considerado um dos desdobramentos do #MeToo, que jogou ainda mais luz nas necessárias campanhas de igualdade salarial.

Com toda essa repercussão, o número de denúncias de assédio aumentou muito nos EUA.

Segundo a Equal Employment Opportunity Commission, a Comissão pela igualdade trabalhista americana, o #MeToo impulsionou em 50% de processos apenas no primeiro ano da campanha.

Ou seja, não é de admirar que vários estados americanos tenham conseguido aprovar legislações mais rígidas sobre tema. Outros dez países, como Argentina, Bélgica, França e África do Sul, também ratificaram um acordo para apoiar leis e vítimas. É o puro poder da mobilização.

Mesmo com avanços, ainda há muito o que ser feito, claro. Segundo especialistas, em muitas regiões dos EUA e do mundo, a legislação ainda minimiza os casos, protegendo criminosos e tirando poder de denúncias. Muitas mulheres e homens são obrigados a sofrer calados.

E não é isso que nós queremos, né?

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