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Dividida

Mauro Cezar Pereira entrevista personagens de destaque do universo esportivo


Futebol comete mesmos erros da indústria musical com MP3, afirma executivo

Do UOL, em São Paulo

13/05/2021 15h23

O mercado do futebol vem mudando nos últimos anos com a chegada dos serviços de streaming e também com efeitos da pandemia, que causaram uma mudança brusca na questão dos direitos de transmissão das competições de futebol no Brasil, com a Globo deixando de ter o domínio dos estaduais, Libertadores e jogos da seleção brasileira, iniciando uma pulverização do esporte na TV. Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do UOL, o executivo Bruno Maia, especialista em tecnologia em inovação e novos negócios na indústria do esporte, afirma que o futebol comete erros semelhantes aos da indústria fonográfica nos anos 2000.

O especialista afirma que, embora o modelo anterior com tudo concentrado na Globo tivesse seus problemas em relação ao consumidor, a forma como ocorreu a mudança fez com que o torcedor possa acompanhar menos jogos e pague mais caro, já que cada competição está em um canal diferente, como os casos do Campeonato Carioca e da Libertadores, em que há serviços de pay-per-view em jogos que estavam presentes em serviços mais básicos de TV por assinatura.

"A gente não pode achar que a Globo era boazinha, mas também não pode deixar de perceber que o discurso pelo qual se quebrou essa lógica era amador, era tosco, era insuficiente para pensar no consumidor. Quando você diz 'vai ser mais barato e o clube vai ganhar mais'. O que é mais barato é uma parcela, como você está falando, na hora que você pega o todo e o domínio que a Globo tinha melhorava em vários aspectos o consumo do torcedor, é óbvio que isso acontece, não significa que a gente deveria ter continuado como vinha antes", diz Maia.

"A gente vive no Brasil hoje essa pulverização que é péssima para o consumidor, que só favorece a pirataria e os anúncios de sites piratas, porque todo mundo de nós conhece bastante gente que se não sabe onde está passando o jogo, a primeira coisa que faz, põe no Google e aparece rapidamente, o Google te responde onde tem o jogo sem dificuldade e por isso que eu sempre comparo muito com a indústria da música, eu acho que a gente comete os mesmos erros que a indústria fonográfica cometia lá no ano 2000 de brigar contra o MP3 em vez de entender que tem que adaptar o produto, e acaba que o produto, a força do mercado e o consumidor se impõe de algum jeito, ainda que leve mais tempo", completa.

O executivo afirma que o Brasil poderia procurar para seguir os modelos de países como Alemanha e Itália, que já viveram a experiência de pulverização de direitos de transmissão e acabaram com monopólios sem que isso diminuísse o acesso do público aos jogos.

"Alemanha e Itália eles já tinham passado por essa questão da pulverização dos canais para acompanhar os jogos há alguns anos atrás, recentemente eu li uma matéria aqui acho que no UOL, que falava 21 lugares para você assistir futebol no Brasil, olha a loucura. O que isso leva para o consumidor? Pagar mais e não ver tanto", afirma Bruno Maia.

"O produto cai de qualidade porque ele não alcança muitas pessoas, ele diminui a relevância para os anunciantes e ninguém ganha mais com isso, todo mundo está com o seu próprio quinhão querendo fazer a sua hegemonia, o seu predomínio sobre os outros em vez de trabalhar de uma maneira em prol do consumidor. E o que a Itália e a Alemanha chegaram à conclusão depois de um tempo? Que o problema não era a Globo ter tudo, era só a Globo ter tudo. Então a regulação foi feita para voltar a permitir que uma emissora, um grupo tenha e ofereça para os seus consumidores todos os produtos possíveis, desde que ele não seja o único que o faz", conclui.

O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.