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Campeão no Taiti, Pupo comenta gesto obsceno a juízes e revolta na água

Miguel Pupo comemora vitória na etapa de Teahupo"o, no Taiti - Damien Poullenot/World Surf League via Getty Images
Miguel Pupo comemora vitória na etapa de Teahupo'o, no Taiti Imagem: Damien Poullenot/World Surf League via Getty Images

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

25/08/2022 04h00

Miguel Pupo tinha apenas 20 anos de idade quando carimbou a sua vaga para a elite mundial do surfe. E de lá, não saiu mais. Mas apesar da regularidade que o mantém há 10 temporadas no grupo dos melhores surfistas do planeta, ainda faltava o título, que, enfim, veio na última sexta-feira (19) em uma das etapas mais especiais do mundo do surfe: Teahupo'o, no Taiti, e temperada com polêmica com a arbitragem.

Até então, Pupo, surfista de Maresias, litoral norte de São Paulo, ainda não havia conseguido fazer nenhuma final no circuito. Os melhores resultados eram dois terceiros lugares, em Gold Coast, na Austrália, em 2015, e em Pipeline, no Havaí, na atual temporada. Mas, agora, o brasileiro pode, enfim, dizer que já venceu um evento do circuito mundial de surfe.

"É uma vitória que eu estava buscando há um tempo já. Feliz de ser a primeira final e já converter a chance em vitória, ainda mais numa onda pesada, talvez uma das mais do planeta. Você falar que ganhou um WCT em qualquer lugar é uma boa vitória, mas falar que ganhou em Teahupo'o existe um peso, uma importância maior", diz Miguel Pupo, de 30 anos, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Hoje Miguel tem o prazer de competir no Tour ao lado do irmão, Samuel, de apenas 21 anos, que estreou na elite da Liga Mundial de Surfe (WSL) logo com um décimo lugar e com direito a um vice na etapa de Saquarema, no Rio de Janeiro. Coincidentemente, o melhor resultado de Miguel na carreira (sexto lugar) acontece justamente após ter a companhia do irmão.

Mas, na sua visão, o que motivou tudo isso foi uma virada de chave após a temporada passada, quando precisou secar os adversários na etapa do México, a última antes das finais, para garantir a sua permanência na elite.

Samuel e Miguel Pupo; irmãos vão se enfrentar pela 1ª vez em um confronto direto na elite da WSL - WSL - WSL
Samuel e Miguel Pupo
Imagem: WSL

"Ter meu irmão no Tour foi uma coincidência. Esse ano foi justamente o ano que tentei fazer tudo diferente. No ano passado, fui o último cara a me classificar e foi uma situação ruim, muito tensa, passei um nervoso enorme tendo que assistir aos outros e esperando os resultados. Depois desse dia, decidi que não queria mais passar por isso, de depender dos outros para garantir minha vaga. Acho que o que mudou foi isso", conta.

"O nervosismo que passei no México, a situação que rolou, virou uma chave na minha cabeça —de que eu não queria passar por aquilo nunca mais na minha vida. E coincidiu com o primeiro ano do meu irmão... Obviamente, estar com ele o ano inteiro é bom, ter alguém da família viajando, as emoções, o bom e ruim, é muito bom, e ter ele competindo me dá uma outra perspectiva da competição... Mas acho que tudo isso vem desse dia no México", explica.

"Finalmente meu nome entrou para o jogo"

Agora, o plano é repetir o que deu certo em 2022 para, em 2023, alçar voos maiores. Ou seja: buscar uma vaga entre os cinco melhores e disputar o tão sonhado WSL Finals.

"Mudei tudo de cabeça para baixo. Estou há 10 anos no WCT só contando com meu talento, e, nesse ano, decidi juntar meu talento ao trabalho duro. É legal ver o resultado tão imediato, porque, às vezes, você altera e o resultado não vem. E assim que mudei e comecei a fazer as coisas certas, o resultado veio de imediato. Então já temos uma fórmula do que dácerto, e agora que descobrimos, é dobrar a dose", complementa.

Ano que vem começa tudo do zero de novo, mas com um ar de que a gente já sabe o caminho. Acho que finalmente meu nome entrou para o jogo. Pode ser que, no ano que vem, todo mundo conte mais com meu nome entre os cinco. Isso é bom para a confiança, para validar todo trabalho duro feito esse ano.

Gesto obsceno para os juízes

A campanha de Miguel em Teahupo'o contou com um momento totalmente inesperado, ainda mais levando em conta a usual calma ao longo da carreira. Na bateria contra Nat Young, no elimination round, o surfista de Maresias se revoltou com os juízes depois de perder a prioridade para o norte-americano e acabou mostrando os dois dedos do meio em direção ao palanque.

Na visão de Miguel, a prioridade deveria ser sua, uma vez que ele havia pego a onda antes de Nat Young e ambos chegaram quase ao mesmo tempo no outside (área localizada depois da última linha de arrebentação das ondas).

"Eu cheguei meio junto com o Nat, só que, na regra, quando você chega meio emparelhado, a prioridade vai para quem pegou a onda primeiro. Eu vim numa onda e o Nat veio na de trás, então, a prioridade não poderia ser dele. Eles deram a prioridade para ele, e aquilo poderia me custar a bateria", recorda.

Dei uma revoltada por uns segundos [risos], mas logo voltei para o foco, que era voltar para a bateria. Eles cometeram o erro de dar prioridade para ele, na minha visão, mas no final deu tudo certo porque o Nat não quis ir na primeira onda da série, e eu fui e acabei virando a bateria.

WSL Finals em setembro

Os campeões do Mundial de Surfe de 2022 serão conhecidos no mês de setembro, na onda de Trestles, na Califórnia. A disputa será realizada em apenas um dia de competição entre 8 de 16 de setembro, naquele que tiver a melhor condição de ondas.

Três brasileiros brigam por título. Na categoria masculina, Filipe Toledo (1º), Jack Robinson (2º), Ethan Ewing (3º), Italo Ferreira (4º) e Kanoa Igarashi (5º) são os classificados. No feminino, o duelo está entre Carissa Moore (1ª), Johanne Defay (2ª), Tatiana Weston-Webb (3ª), Brisa Hennessy (4ª) e Stephanie Gilmore (5ª).