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Fisiculturismo estreia como esporte no Pan com direito a marmita do Brasil

Carla Lobo, atleta do fisiculturismo do Brasil no Pan Imagem: Reprodução/Instagram

Karla Torralba

Do UOL, em Lima (Peru)

09/08/2019 12h00

Carla Lobo e Juscelino Santos vivem pela primeira vez a sensação de estar numa vila de atletas, onde ficam as delegações de todos os países participantes dos Jogos Pan-Americanos de Lima. Fisiculturistas, os dois formam a delegação brasileira que estreará o novo esporte do torneio amanhã (10) na competição. A presença nos jogos consolida para quem ainda tinha dúvidas que a modalidade é, sim, esporte.

Carla, 48, e Juscelino, 46, aproveitam para curtir o sonho de conviver com atletas olímpicos, mas sem tirar o foco do próprio objetivo, uma medalha. Para isso, treinos pesados e alimentação balanceada. Tão balanceada que os dois trouxeram um estoque próprio do Brasil.

Juscelino um pouco menos, trouxe apenas para o primeiro dia, mas Carla, organizadíssima, vai logo explicando que na sua bagagem veio 600g de peito de frango e 800g de tilápia. "A gente tem um checklist, um treinador e nutricionista. Eu trouxe tilápia congelada e peito de frango porque nos restaurantes vem com o sal e a gente dosa o sal, a água. Geralmente eu venho com a minha panelinha de arroz e quando não tem a comida eu faço. Mas aqui temos o privilégio de termos. Algumas coisas acrescentamos apenas", explica Carla.

Reprodução Imagem: Juscelino Santos, o fisiculturista do Brasil no Pan
Os dois competirão amanhã (10), no penúltimo dia do Pan. Carla fará uma apresentação de 1min30 para demonstrar flexibilidade em uma coreografia e depois desfilará de biquíni para que os juízes avaliem a forma física. Juscelino posa para os árbitros avaliarem definição, volume e simetria.

Os dois atletas e o chefe de equipe Rafael Pinheiro se emocionam por trazer a modalidade para o Pan. É como se isso fosse a prova para quem diz que fisiculturismo não é esporte. "Eu sonho desde criança ser uma atleta olímpica. Eu me sinto uma atleta, eu sou uma atleta. Eu vivo o esporte. Estamos muito honrados porque somos muito discriminados pelos próprios colegas. Falam que seria impossível vir natural [sem doping], da gente conseguir. Ninguém sabe o apoio que Comitê Olímpico Brasil está dando pra gente. Tem a descrença. Fui tachada de velha e não atleta", lembra a fisiculturista que já foi ginasta e maratonista.

Juscelino, Rafael Pinheiro e Carla Lobo Imagem: Reprodução
Carla compete como fisiculturista desde 2015 e se divide entre a rotina de personal trainer e mãe de três filhos. Juscelino também é pai e ainda trabalha à noite em um bar. "Sou um atleta que tem um bar. O que não falta é ovo!", brinca.

O chefe de equipe Rafael Pinheiro exalta os dois atletas. "O Pan é diferente de tudo que já participei. É uma competição olímpica oficial. Eu virei o treinador do Juscelino há um ano e pouco e ele vai entrar com o maior físico da vida dele. Como a Carla vai fazer bom trabalho. Estamos fazendo história e vamos fazer jus ao investimento".

Juscelino descobriu doença de chagas há 23 anos

Juscelino é um veterano do esporte e atleta há 30 anos. Os quase 20 títulos vieram com outro desafio: a doença de chagas. O atleta descobriu ser portador aos 23 anos e convive com a patologia sem cura.

A descoberta veio depois de tentar doar sangue em um hospital em São Paulo. Juscelino achou que nunca mais seria atleta.

"Eu nasci na Bahia e acho que fui picado por esse bichinho e coça. O protozoário entra na corrente sanguínea e fica circulando no corpo. Meu caso nunca se manifestou nos órgãos. Geralmente é coração, esôfago e pâncreas. Se a pessoa não fizer tratamento, os órgãos vão crescendo e tem problema", explica.

"No começo a cabeça fica biruta. Eu era recém-casado, não tem cura. E tive medo. Não sabem por que não se manifestou. Se é porque eu sempre tive vida saudável... Eu sou normal", ressalta Juscelino, que explica o doping no caso dele como algo impossível se ele quiser viver.

"Por isso que eu digo. Não tem como eu tomar nada. O meu médico fala que eu vou antecipar minha morte se eu tomar algo, vai ter complicações por causa da doença. Como vou usar algo? Eu não quero morrer", completa.

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