Torcedor em campo

Raphael Veiga vê palmeirenses da família ansiosos com final e vive sonho de infância na Libertadores

Thiago Ferri Do UOL, em São Paulo Alan Morici/Alan Morici/AGIF

Raphael Veiga sabe bem como a torcida do Palmeiras está ansiosa para a final da Copa Libertadores. Com família de palmeirenses — e ele próprio torcedor do clube —, o meia vê nas reações de seu pai, Rubens, e do irmão Gabriel a expectativa para o confronto contra o Santos, sábado (30), no Maracanã.

Autor de 18 gols na temporada — só atrás de Luiz Adriano, com 20 —, o meia superou as desconfianças e se tornou peça importante no time de Abel Ferreira. Feliz por seu melhor momento desde que chegou, em 2017, o armador considera que a chance de atuar no maior jogo da América do Sul pelo seu clube de coração é a realização de um sonho de infância.

Eu falo isso para todo mundo. Hoje está acontecendo tudo que eu sempre sonhei na minha vida. Jogar no Palmeiras, poder disputar uma final de Libertadores, que todos sabem o que representa para nós... Meus amigos, minha família, todos sabem. Estou muito feliz. Espero de verdade que sábado, no Maracanã, a gente consiga vencer o jogo e eu, com todos os meus companheiros e a comissão técnica, que a gente possa estampar nossos nomes nas paredes do clube.

Veiga já realizou o primeiro desejo de seu avô Rafael, responsável por fazer toda a família virar palmeirense. Pouco antes de morrer, quando o jogador ainda era criança, ele pediu que o neto jogasse no clube de coração (veja no vídeo abaixo). O camisa 23 não apenas já deixou o avô orgulhoso, como tem a chance de ajudar a tornar o Alviverde bicampeonato da América.

Alan Morici/Alan Morici/AGIF
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Foco é fundamental

As memórias do avô estão vivas na cabeça de Veiga, mas o jogador não quer que questões familiares tomem conta dos seus dias antes do jogo mais importante da sua carreira. O meia diz que é hora de acreditar nos processos e focar naquilo que eles podem controlar no campo, como o técnico Abel Ferreira pede aos jogadores.

"É lógico que lembro [do avô], mas não quero deixar apenas isso como motivação. Tem essa questão com meu avô, meus pais, meus tios, irmãos, mas preciso me preparar. Não adianta ficar apenas com isso na cabeça, sem me preparar bem. Claro, com as coisas fluindo em campo... Eu de verdade nem sei como vou estar. Vai passar tanta coisa na cabeça, mas aí sim vai ser o momento de desfrutar e parar para pensar", explicou.

E para ajudá-lo a focar na final contra o Santos que os familiares tentam falar pouco sobre o assunto. "Minha família, por mais que seja de palmeirenses que acompanham e torcem, não fica mandando mensagem para falar de jogo, para colocar expectativa. Eles falam apenas que estão na torcida, orando. Mas eu vejo a ansiedade neles. Meu pai e meu irmão estão muito ansiosos, eu conheço eles. Só que eles respeitam meu momento", acrescentou.

Sebastian Perez REUTERS

Apoio do campeão Alex

Aos 25 anos, Raphael Veiga já assistiu a diversos jogos do Palmeiras na arquibancada do Palestra Itália antes de virar profissional, mas não acompanhou a campanha do título da Libertadores de 1999, já que tinha apenas de 3 para 4 anos. Apesar disso, criou uma relação com um dos principais jogadores daquele time: o ex-meia Alex, com quem costuma trocar mensagens.

Com trajetórias semelhantes — os dois deixaram o Coritiba para reforçar o Palmeiras —, eles se conheceram no clube paranaense, mas começaram a se aproximar quando Veiga chegou ao Verdão, em 2017, após um jantar intermediado por Acaz Fellegger, assessor de imprensa de ambos. Apesar do canal aberto, Veiga — o torcedor — admite que fica sem jeito de chamar o ídolo para conversar.

"Eu e o Alex falamos, não diariamente, mas ele me manda mensagem, é ele quem me chama mais, porque eu fico sem graça de chamar ele. A gente não tocou no assunto Libertadores em si. Depois do jogo contra o Corinthians [em que Veiga fez dois gols], ele me mandou parabéns. É um cara que eu gosto muito e espero que tudo que ele viveu no Palmeiras em 1999 eu possa viver nesta temporada", afirmou.

Covid: doença "doida" o fez emagrecer

Veiga foi um dos jogadores impactados pelo surto da Covid-19 no elenco do Palmeiras. O meia testou positivo em 20 de novembro e voltou a atuar em 2 de dezembro. O retorno, porém, não foi fácil. Ele contraiu a doença em um de seus melhores momentos na temporada, com cinco gols nos três jogos anteriores.

Sem sintomas graves ao longo dos dez dias de isolamento, o principal problema foi perder o apetite diante da falta de paladar. Isto o fez emagrecer e ter dificuldades para retomar o ritmo em meio a uma sequência de jogos que só foi ficando mais dura no Palmeiras.

"Este vírus é muito doido. Em uma pessoa não acontece muita coisa, em outra acontece. Eu passei sem muitos sintomas, mas por ter ficado em casa, não fazia muita coisa e acabava ficando sem fome. Eu não queria comer, perdi alguns quilos e aí precisei recuperar. E voltar jogando, tendo de ganhar peso e massa [muscular], com essa bateria de jogos, é mais difícil. Depois de toda dificuldade, hoje eu me sinto muito bem, muito pronto."

A gente vê que, para o sonho de um se realizar, precisa do outro. O clima [no elenco] está muito bom, para mim, é um dos melhores momentos que já vivenciei no Palmeiras. Todos remam para o mesmo lado."

Raphael Veiga

Cesar Greco/SEP

Abel, o estrategista

Os elogios ao trabalho de Abel Ferreira não são novidades no Palmeiras. Há menos de três meses no clube, o português vai disputar no sábado uma de suas finais, já que também classificou o Verdão para a decisão da Copa do Brasil contra o Grêmio. Em busca do primeiro título na carreira, o treinador é tratado como um estrategista por Raphael Veiga.

"A gente sabe com ele o jeito de atacar, o jeito de defender e como atacar se o primeiro jeito não der certo. Todo mundo sabe aonde todo mundo vai estar em campo, o que cada um precisa fazer. Assim as coisas fluem muito mais fácil", detalhou.

"Ele tem ideias legais, arrumou o que precisava no time. Sempre me estimulou a fazer coisas para o meu crescimento. Tenho evoluído muito com ele, porque é um cara que conversa bastante, passa tudo mastigado para nós, do que é bom para cada jogo. Eu consigo captar aquilo que ele quer passar e tem dado certo", exemplificou.

Gabriel Machado/AGIF

Veiga por pouco não saiu (de novo)

Os 18 gols fazem da atual temporada mais artilheira da carreira de Raphael Veiga, batendo o ano de 2018, quando fez nove pelo Athletico-PR. Os números foram potencializados com Abel, já que dez gols saíram nas últimas 18 partidas em que esteve em campo.

Apenas ele e Luiz Adriano marcaram em todas as competições que o Verdão disputou na temporada. Um cenário que poderia não ter acontecido, já que o Grêmio tentou contratá-lo no fim de 2019. Então técnico do Palmeiras, Vanderlei Luxemburgo pediu sua permanência, ainda que os números do camisa 23 não tenham sido tão bons sob o comando do treinador.

Contratado em 2017, Veiga passou a temporada de 2018 emprestado ao Furacão e voltou em 2019 ao Palmeiras. Criticado em muitos momentos, ele considera que o fato de nunca ter desacreditado do seu potencial foi fundamental para ter conseguido reverter as cobranças da torcida.

Tudo que eu passei no Palmeiras desde 2017, a ida ao Athletico, a volta em 2019, tudo serviu de aprendizado, amadurecimento. Foi um processo que tive de passar. Óbvio que ninguém gosta de ser criticado, xingado, mas até isso serviu para o meu crescimento. Eu me sinto muito preparado mentalmente. Muita gente desacreditou — e não tem problemas os outros desacreditarem —, mas eu não posso desacreditar. Sempre soube aonde poderia chegar."

Bate-bola com Raphael Veiga

UOL: Qual o principal ponto na preparação para um jogo como a final da Libertadores?

Raphael Veiga: A gente sabe que nestes jogos temos de estar bem preparados mentalmente, temos de estar confiantes. É um jogo com grande responsabilidade por tudo que envolve. A parte de estratégia é questão com a comissão técnica, mas a gente tem que entrar em campo realmente muito bem, sabendo o que vai fazer, confiante no que a gente almeja.

O que esperar do Santos?

O Santos tem uma grande equipe, os jogadores deles são decisivos, mas a gente também tem jogadores assim. Tanto eles quanto nós chegamos [à final] com méritos e vai ser um grande jogo. Quem ganha é o futebol brasileiro, com dois brasileiros em um estádio daqui, com história imensa. Tem tudo para ser um grande espetáculo.

Depois de uma sequência de dez partidas em um mês, como chega o Palmeiras para a final?

Estamos 100% preparados, descansados, com uma confiança muito grande. A gente sabe o time que temos, o que a gente pode fazer, que muitas coisas aconteceram nos últimos meses. Foram jogos atrás de jogos, o surto da Covid em que praticamente todo mundo pegou. Tivemos jogos muito desfalcados e isto gera um desgaste físico e mental. Uma hora o corpo responde a tudo isso. Em alguns momentos a gente estava cansado pela maratona de jogos, mas agora estamos bem, recuperando e alinhando as coisas para chegar no sábado com força total.

Cesar Greco/SE Palmeiras Cesar Greco/SE Palmeiras

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