Trilogia real

Palmeiras e São Paulo iniciam série de Choques-Reis que afetará o Brasileiro e definirá vaga na Libertadores

Brunno Carvalho e Diego Iwata Lima Do UOL, em São Paulo Alexandre Schneider/Getty Images
Alexandre Schneider/Getty Images

O Choque-Rei não tem o charme do Fla-Flu, o romantismo de um Palmeiras x Corinthians ou a mística do Gre-Nal. Os confrontos entre Palmeiras e São Paulo não dão brechas a sentimentalismos. São jogos "secos", de rivais que não se bicam de modo algum, alimentados por ressentimentos, provocações e uma eterna necessidade de mostrar ao adversário quem é o maior.

Enquanto chamam os corintianos de rivais, os palmeirenses classificam os são-paulinos como inimigos. Em resposta, são-paulinos tentam dizer que desprezam o Palmeiras, afirmando que o Corinthians é com quem eles rivalizam. Do jogo das barricas às bananas de Aidar, passando pela Arrancada Heroica, os jogadores "roubados" de parte a parte e uma freguesia continental, os vizinhos de muro na capital paulista construíram uma tradição de rivalidade acirrada.

Tudo isso entra em campo a partir do sábado (31), em uma "trilogia" que marcará a história do duelo. No ano em que decidiram o Campeonato Paulista, Palmeiras e São Paulo, com seus técnicos estrangeiros e garotos da base, também vão lutar por uma vaga na semifinal da Copa Libertadores nos dias 10 e 17 de agosto, logo depois do encontro de amanhã pelo Brasileiro. E não se engane: por mais que o primeiro jogo seja pelo Nacional, a decisão da vaga no torneio sul-americano já começa neste sábado, às 19h, no Morumbi.

Afirmação e respiro no Brasileiro

O confronto deste sábado (31) é um jogo de reafirmação para o líder Palmeiras. Vindo de uma espetacular sequência de nove vitórias e seis jogos sem ser vazado, o time de Abel Ferreira precisa vencer para manter Atlético-MG e Flamengo afastados e, desse modo, também ganhar forças para encarar o incômodo tabu de nunca ter batido o São Paulo pela Copa Libertadores.

Para o time do Morumbi, o duelo representa a chance de respirar no Brasileirão. A goleada sofrida para o Flamengo ainda incomoda, e a situação piora com a incômoda permanência na zona de rebaixamento. Uma vitória contra o rival alviverde daria tranquilidade para Hernán Crespo seguir o planejamento de priorizar as copas. "Se tivéssemos mais alguns pontos no Brasileirão, estaríamos tendo um ano perfeito", declarou depois de vencer o Vasco pela Copa do Brasil.

BETO BARATA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE BETO BARATA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Tradição e tabu na Libertadores

Se o jogo do Brasileiro traz uma reafirmação prática e presente para a sequência do torneio, os da Libertadores trazem o mesmo efeito de um modo mais amplo. Vencer os três, mas em especial o mata-mata, mais uma vez deixará claro que o Palmeiras não conquistou o continente à toa e dará ainda mais "casca" para um time que sabe ser competitivo como poucos no continente. Já são dois títulos na Libertadores, e outros devem vir.

Mas o palmeirense não se dará por contente enquanto não conseguir equilibrar seu saldo contra o São Paulo na competição. Ter sido eliminado três vezes pelo clube tricolor em mata-matas e nunca o ter vencido no torneio é um paralelepípedo no sapato alviverde, à medida que alimenta a narrativa de que o rival do Morumbi é maior que o Palmeiras, especialmente em âmbito internacional.

Para o São Paulo, o confronto aparece como uma chance de recuperar um período de glórias. Os duelos de 2005 e 2006 aconteceram enquanto o time do Morumbi trilhava o caminho de conquistas que o fez se autointitular "Soberano". Desde 2008, quando conquistou o tricampeonato brasileiro, o período de glórias ficou para o caminho, e chegou uma seca incômoda sem taças.

O peso nas costas saiu contra o próprio Palmeiras, ao ser campeão paulista no início da temporada. Manter a soberania contra o rival na Libertadores significará ao são-paulino a certeza de que o período de títulos está de volta. Para quem gosta de superstição, sempre que o São Paulo eliminou o Palmeiras na Libertadores, chegou à final: 1974 (se enfrentaram na fase de grupos), 1994, 2005 e 2006.

Para mim não há tabus. E apesar da história ser contra, temos tentando mudar a história no Palmeiras

Abel Ferreira

Tem favorito?

Marcello Zambrana/AGIF

O Palmeiras vive seu melhor momento no ano. Recobrou toda força e harmonia que teve da chegada de Abel Ferreira, em novembro de 2020, ao Mundial de Clubes. Joga um futebol de muita eficiência, poucos erros e muita força. Navega com velocidade na ponta da tabela do Brasileiro e, exceto quando jogou com os reservas, praticamente não levou sustos na Libertadores. Tem em Weverton o melhor goleiro do continente, em Gómez, o melhor zagueiro sul-americano, e, em Gustavo Scarpa, o melhor jogador do Brasileiro até agora, em números. Com um elenco repleto de opções de nível alto e semelhantes entre si, está pronto também para superar possíveis contusões e outros desfalques.

Marcelo Endelli/Getty Images

O retrospecto pesa a favor do São Paulo na competição continental. O time do Morumbi já enfrentou o Palmeiras em quatro edições da Libertadores: 1974, 1994, 2005 e 2006. Levou a melhor em todas e chegou sempre à final, ganhando em 2005 e ficando com o vice nos outros anos. Mas não é apenas isso que faz a balança pender para o lado do Morumbi. Hernán Crespo triunfou nos últimos 10 mata-matas que disputou como treinador. Fazendo um rodízio para evitar lesões, o São Paulo tem se mostrado mais forte nas copas do que no torneio de pontos corridos. Além do Paulista conquistado, passou sem sustos pelo Racing na Libertadores e abriu boa vantagem contra o Vasco, pela Copa do Brasil.

Quem pode decidir

Alexandre Schneider/Getty Images

Gustavo Scarpa (Palmeiras)

Os confrontos da Libertadores são a prova de fogo para Gustavo Scarpa. Ninguém pesou mais a favor do Palmeiras em números até agora. Scarpa participa do jogo no meio, aparece pela esquerda do ataque, quase como um ala, bate faltas e escanteios com perfeição e não tem medo de bater no gol. Ser decisivo no maior desafio do Alviverde no ano é a chancela que lhe falta para definitivamente mudar de patamar aos olhos de todos.

Rubens Chiri / saopaulofc.net

Emiliano Rigoni (São Paulo)

Se o fator casa pesa em um confronto mata-mata, as chances aumentam ainda mais quando se tem Emiliano Rigoni no time. Contratado em maio, o argentino tem sido fundamental para o São Paulo. Dentro do Morumbi, quem manda é ele. Todos os gols marcados pela equipe nos jogos em que ele esteve em campo tiveram sua participação. Foram cinco partidas, com três gols e quatro assistências.

Marcello Zambrana/AGIF - Pedro H. Tesch/AGIF Marcello Zambrana/AGIF - Pedro H. Tesch/AGIF

Abel x Crespo

A trilogia coloca frente a frente dois dos principais nomes da invasão estrangeira que dominou os principais times brasileiros nos últimos tempos. Com Jorge Sampaoli e Jorge Jesus na Europa, Hernán Crespo e Abel Ferreira são os grandes protagonistas do intercâmbio cultural. Cada um à sua moda, os dois já caíram nas graças de suas respectivas torcidas.

Amado pela maioria da torcida do Palmeiras, que não aceita qualquer objeção ao seu comportamento, o português é o maior responsável pelo que o clube tem apresentado em campo. Soube reinventar o time após algumas negociações, peitou a diretoria e bateu o pé por reforços, mas não parou de trabalhar para encontrar soluções dentro de seu elenco.

Ele caminha com cada vez mais solidez para se juntar a lendas como Oswaldo Brandão, Felipão e Luxemburgo, de quem recebeu o bastão simbólico, ao substituí-lo. Mundial à parte, sua grande derrota no clube foi o Paulista de 2021. Ir à forra tirando o rival da Libertadores será seu troféu particular. Soma-se a isso o fato de ele ainda não ter conseguido vencer o São Paulo desde que chegou.

Crespo chegou ao Morumbi com a missão de tirar o São Paulo de uma fila de mais de oito anos sem títulos. Correspondeu em seu primeiro desafio, quando superou o Palmeiras e ficou com a taça do Paulistão.

O feito fez com que o argentino virasse o xodó da torcida são-paulina. O início ruim no Brasileirão chegou a ameaçar a lua de mel, mas a classificação dominante na Libertadores contra o Racing mostrou que Crespo é capaz de conduzir o São Paulo de volta aos anos de glória. Mesmo com o alto número de lesionados, ele tem conseguido fazer o Tricolor ser competitivo nas copas, as prioridades da diretoria para a temporada.

Para mim é um prazer poder enfrentar o último treinador campeão da América. Já nos enfrentamos três vezes e para mim, pessoalmente, é uma honra ser parte e protagonista do Choque-Rei. Tenho as melhores referências de Abel e, com certeza, vamos ter a possibilidade em dezembro de tomar um café.

Hernán Crespo

O Choque-Rei em números

A conta o São Paulo

328 jogos*

111 vitórias do São Paulo
109 vitórias do Palmeiras
108 empates
430 gols para o São Paulo
430 gols para o Palmeiras

*O São Paulo inclui os jogos do São Paulo da Floresta e desconsidera os do Torneio Início

A conta do Palmeiras

322 jogos*

111 vitórias do São Paulo
105 empates
106 vitórias do Palmeiras
413 gols do Palmeiras
414 gols do São Paulo

*O Palmeiras considera os jogos do Torneio Início e não contabiliza os duelos contra o São Paulo da Floresta

Marcello Zambrana/AGIF

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