Uma nova era na F1

Conheça o novo carro e saiba o que esperar da temporada que começa neste domingo, no Bahrein

Julianne Cerasoli Colunista do UOL, em Londres (Inglaterra)

"Basicamente só o volante é igual"

A frase acima é do diretor técnico da Mercedes, Mike Elliott, e resume bem o que deve ser a temporada 2022 da Fórmula 1. A primeira corrida do ano acontece nesta semana no Bahrein, às 12h (de Brasília) de domingo (20).

Após uma das temporadas mais marcantes da história, a Fórmula 1 passou por algumas de suas maiores mudanças em mais de 70 anos. O regulamento técnico totalmente novo causou uma revolução no carro que vai para as pistas, com novos elementos que explicamos ao longo desta reportagem.

Essa novidade chega em meio a um período de empolgação no esporte, rejuvenescido nos últimos anos com o crescimento acelerado nas mídias sociais e, principalmente, com o sucesso da série da Netflix "Dirigir para Viver". Ao mesmo tempo, a categoria ainda lida com os problemas causados pela polêmica decisão do título do ano passado, na última volta da última corrida.

A partir de agora, você vai conhecer o que mudou nos carros da F1 e entender porque a temporada 2022 será especial.

F1 tenta resolver problema das ultrapassagens de um jeito diferente

O regulamento de 2022 é o resultado de um processo único, com muita simulação computadorizada e participação ativa das equipes buscando evitar qualquer brecha para alguém sair muito na frente. São mudanças feitas depois que a F1 passou a adotar um teto de gastos, que é de 140 milhões de dólares neste ano, e a contar com um esquema que dá menos tempo de desenvolvimento aerodinâmico para as melhores equipes.

A Mercedes é o melhor exemplo para você entender o que isso quer dizer: por ter ganhado o mundial de construtores do ano passado, o time alemão terá 45% de tempo de desenvolvimento a menos do que a última colocada, a Haas.

Contudo, a grande diferença é a filosofia das mudanças. Há duas décadas a F1 tenta promover mais ultrapassagens tirando pressão aerodinâmica dos carros. Mas os engenheiros sempre dão um jeito de recuperar o que foi perdido e tudo volta a ser como era antes.

Desta vez, os esforços foram para tirar o máximo de turbulência que o carro gera. E, para isso, ao invés de cortar downforce (a força que impede que o carro, por causa das altas velocidades, decole ao perder contato com o solo), a solução foi fazer com que o assoalho produza cerca de 80% das forças que vão dar velocidade e estabilidade ao carro. É a volta do efeito-solo, famoso nos anos 70 e 80, mas em uma versão mais segura do que aquela banida em 1983.

O resultado dessa mudança

No ano passado, quando um carro ficava a 20 metros de distância do carro da frente, a turbulência gerada causava perda de 35% de downforce. Com isso, era necessária uma performance muito superior de quem estava atrás para que a ultrapassagem fosse possível. Agora, as simulações da F1 preveem que, com a mesma distância para a frente, a perda de downforce seja de apenas 4%.

Isso foi possível limitando ao máximo que o carro da frente jogasse ar sujo contra quem vem atrás. Os penduricalhos aerodinâmicos ao redor do carro, por exemplo, foram proibidos. Eles espalhavam ar, que acabava chegando em várias direções à traseira. Asas dianteiras e traseiras faziam a mesma coisa.

Isso é mostrado no gráfico abaixo, que apresenta como o carro deixava o ar em seu rastro. Na imagem com o carro de 2021, a cor vermelha indica um ar mais sujo, que causa perda de rendimento de 46% quando o carro que vem atrás está a 10 metros de distância e 35% a 20 metros.

Enquanto isso, os assoalhos, que antes eram retos, ganharam túneis e curvas, que passam a direcionar o fluxo de ar de maneira mais uniforme. Somando isso às outras mudanças, a previsão é que o ar para quem venha atrás fique mais limpo, como mostra o gráfico abaixo ("Carro de 2022"). As simulações indicam que, como o ar é mais direcionado para cima, ele gera apenas 18% de perda de rendimento para quem estiver a 10 metros de distância — e apenas 4% para quem vem a 20 metros.

Fique de olho

  • Hamilton busca o octa

    Inglês de 37 anos se diz mais motivado do que nunca após derrota polêmica de 2021 e vai atrás de um inédito oitavo título na F1.

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  • Verstappen como campeão

    Os chefes da Red Bull acreditam que veremos um Verstappen menos pressionado após o primeiro título. Com Max, a F1 voltará a ter um carro número 1 pela primeira vez desde 2015.

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  • Nova cara entre os favoritos

    Depois de ganhar fama pelas grandes performances aos sábados, George Russell é o novo companheiro de equipe de Hamilton e quer provar que é o sucessor natural do compatriota.

  • Leclerc x Sainz

    A briga interna na Ferrari deu sinais de ebulição na temporada 2021 e não deve ser diferente nesta temporada. A diferença é que a Scuderia promete estar bem mais competitiva.

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  • Vantagem dos veteranos?

    Além de Hamilton, Fernando Alonso, Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Sergio Perez são pilotos com mais de 10 anos de carreira e que passaram por outras mudanças de regras e pneus que mudaram a maneira de se pilotar.

    Imagem: Marc Piasecki/Getty Images

Todos os olhos voltados para a América

A novidade na temporada em termos de calendário é uma prova que a Liberty Media vinha tentando tirar do papel desde que assumiu o controle da F1, em 2017: um segundo GP nos Estados Unidos, em Miami. E a categoria tenta acelerar o processo de ter um terceiro GP no país em um futuro próximo, em Las Vegas.

Com o interesse de países do Oriente Médio (Arábia Saudita e Qatar entraram recentemente e o Bahrein fechou acordo para receber o GP até 2036) e a vontade de expandir ainda mais nos EUA, a categoria não pensou duas vezes e rompeu o lucrativo contrato que tinha com a Rússia com validade até o final de 2025 logo após o início da invasão à Ucrânia.

A pressa tem motivo: o sucesso de "Dirigir para Viver", da Netflix. A série que mostra os bastidores da F1 está em sua quarta temporada e é considerada o vetor do ressurgimento da categoria nos EUA. O GP dos EUA do ano passado, por exemplo, bateu o recorde histórico de torcedores da categoria e a ESPN relatou aumento superior a 50% de audiência das corridas no último ano.

Ano decisivo para Band

Esse mesmo contexto de ressurgimento aparece no Brasil. Apesar de Pietro Fittipaldi seguir em segundo plano na Haas (que escolheu Kevin Magnusson como substituto do russo Nikita Mazepin), a categoria voltou a causar hype entre os fãs brasileiros.

A Fórmula 1 ajudou a TV Bandeirantes a chegar ao primeiro lugar de audiência em duas oportunidades em 2021, no GP de São Paulo e na decisão em Abu Dhabi. Em troca, o maior espaço dado pela emissora à categoria foi reconhecido pelos fãs, há tempos carentes com a transmissão da Globo, que primeiro deixou de transmitir ao vivo as classificações, e depois não mostrava o pódio na TV aberta.

A receita segue a mesma para 2022. É o último de um contrato de divisão de lucros que a emissora fechou com a F1, no qual a Band pode se estabelecer como a nova casa da categoria a longo prazo.

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