O velho e o moço

Ídolo do Galo, Dadá Maravilha diz que era melhor em fazer gol que Hulk

Lohanna Lima e Vanderlei Lima Claboração para o Uol de Belo Horizonte e São Paulo Samerson Gonçalves/UOL

Quando se fala em Dario José dos Santos, muita gente pode parar por alguns segundos para tentar ligar o nome à pessoa. No entanto, se as palavras Beija-Flor, Peito de Aço e Rei Dadá vierem na sequência, dúvida nenhuma permanece.

Dono dos apelidos eternizados que o tornaram nacionalmente conhecido, Dadá Maravilha foi por muitos anos também "o artilheiro do único Campeonato Brasileiro do Galo". Esse complemento, porém, terá que ser modificado. O Atlético-MG conquistou o bicampeonato, terminando de vez com o jejum de 50 anos desde o título que Dadá e companhia, sob o comando de Telê Santana, conquistaram.

Aos 75 anos, Dadá não está mais sozinho no posto. Com 18 gols, Givanildo Vieira de Sousa é o artilheiro do agora bicampeonato brasileiro do Atlético. Givanildo? Assim, como Dario, Givanildo também causa estranheza aos torcedores em um primeiro momento. Mas basta olhar as máscaras verdes nos rostos de crianças e adultos nas arquibancadas para que tudo faça sentido. Hulk, de 35 anos, o incrível craque do Brasileirão, está no mesmo hall que Dadá, que não poupa elogios ao atacante, embora faça uma ressalva:

"O Hulk é melhor do que eu, mas para fazer gol eu sou melhor que ele."

Nessa entrevista ao UOL Esporte, o antigo ídolo atleticano fala do novo herói do Galo e da campanha do time em 2021.

Samerson Gonçalves/UOL

Entrevista de Dadá Maravilha na íntegra

Fernando Moreno/AGIF

"Bater no Hulk é como bater num paredão"

Por 50 anos solitário no posto de artilheiro e campeão brasileiro pelo Atlético ao mesmo tempo, Dadá agora ganha a companhia de Hulk neste capítulo importante e inesquecível da história do Galo.

Em 1971, Dadá foi o maior goleador do Brasileiro, com 15 gols em 27 partidas, média de 0,55 por jogo. Hulk soma 18 em 36 rodadas, média de 0,5. O paraibano não jogou em apenas dois jogos do campeonato e ainda tem as duas rodadas finais para aumentar seus números.

Dadá não titubeou ao analisar o futebol que jogava e o que o Hulk apresenta hoje. E para ficar bom para os dois lados, o Beija-Flor apontou o que falta em um e o que sobra no outro.

"O Hulk é melhor do que eu, mas para fazer gol eu sou melhor que ele. Vou usar uma palavra até forte: extraordinário, porque ele tem uma força... bater no Hulk é como bater no muro, no paredão. E ele chuta muito forte, tem uma canhota que é uma dinamite na esquerda. Outra coisa: ele é muito humilde, eu não o conheço pessoalmente, quero ter o prazer de conhecer um dia".

Reprodução

"Em 71, íamos famintos, igual mendigo ao prato de comida"

Quando duas equipes entram para a história de um clube por terem conquistado um mesmo título, compará-las se torna algo inevitável, mesmo quando o tempo que as separam seja longo. Em 1971, o Galo foi campeão brasileiro em um formato completamente diferente do atual. Foi o primeiro campeão brasileiro da história.

A conquista veio de um triangular final com Botafogo e São Paulo. O Botafogo havia perdido para o São Paulo por 4 a 1, enquanto o Galo havia vencido o Tricolor por 1 a 0. Os dois alvinegros se encontraram e Dadá foi autor do único gol do jogo, de cabeça, após jogada de Humberto Ramos. Meio século depois, o formato de pontos corridos premiou a regularidade de um time muito forte coletivamente, sólido na defesa e com muito controle mental. Artilheiro e autor do gol do título em 1971, Dadá se esquiva ao tentar definir qual Galo é melhor.

"Saber quem é a melhor seleção é difícil. O time de 71, tecnicamente, era inferior a esse atual. O toque de bola do time do Cuca é superior ao meu. Agora, o meu time era garra. Nós íamos famintos, igual o mendigo para o prato de comida. Nós não tínhamos bola perdida. Nosso time tinha uma raça tremenda, um treinador maravilhoso, que era o Telê, e hoje tem o Cuca também. Então pra fazer uma comparação eu prefiro achar que tecnicamente esse time [2021] foi melhor do que o meu, mas o de 71 superou times de quilates como Palmeiras, Botafogo e Corinthians", avaliou.

Jhony Pinho/AGIF

Dadá diz que Cuca caminha para o mesmo patamar de Telê

Libertador do Atlético em 2013 com a conquista da América e agora condutor do fim de jejum de 50 anos: são esses os capítulos que Cuca já escreveu na história do clube. Após essas duas conquistas, muitos torcedores já veem Cuca como o maior treinador da história alvinegra.

Após o jogo contra o Bahia, que confirmou o título, o próprio Cuca tratou de minimizar o assunto apontando justamente o mestre de Dadá Maravilha na campanha de 71 como o maior de todos: Telê Santana. Para Dadá, o atual treinador Galo caminha para chegar no mesmo nível de Telê, mas não para se tornar maior.

"Eu acho o Cuca mais boleiro do que o Telê Santana, apesar que o Telê era muito brincalhão, gozador. O Cuca vive mais os 90 minutos que o Telê Santana, ele vibra mais, ele se junta aos jogadores. O Telê para mim foi o maior técnico que eu vi na minha vida, mas o Cuca também está caminhando a passos largos para empatar com ele", projeta.

Pedro Souza/Atlético-MG

Dadá daria trabalho à atual defesa do Galo?

O Atlético sagrou-se campeão na 36ª rodada tendo, por enquanto, a melhor defesa do Brasileiro, com 27 gols sofridos e apenas cinco derrotas. São 16 jogos sem ser vazado, o que confirma uma das principais forças do time: a de se defender muito bem.

Obviamente a solidez defensiva não pode ser creditada apenas aos jogadores de defesa, mas é importante destacar que o Atlético de 2021 mesclou o bom desempenho coletivo com o crescimento individual de jogadores que atuam do meio para trás: Everson, Guga, Mariano, Alonso, Nathan Silva, Guilherme Arana, Jair e Allan foram peças importantíssimas ao longo de toda competição.

Mas o talento desses atletas seria suficiente para parar Dadá em seus áureos tempos? Sem modéstia alguma, ele acredita que não.

"Dadá é diferente. Para subir comigo tem que pegar uma escada. Para correr comigo tem que pegar táxi", afirma ele, rindo. "Deixando a brincadeira de lado, esse time do Atlético é muito bom. O nosso time [1971], na questão de solidariedade, era superior também porque nós não tínhamos a grandeza que eles têm hoje. O nosso 'bicho' era um bichinho de pé. Hoje, os caras ganham um jogo, compram uma casa, compram um carro. Então na nossa época era mais difícil, o dinheiro era curto. Hoje eles têm o prazer de correr atrás da bola e receber o que merecem", opina.

Segue ou bloqueia?

Dadá segue Bolsonaro e bloqueia João Saldanha

  • Hulk

    "Sigo. Seleção brasileira."

    Imagem: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
  • Neymar

    "Sigo, mas eu não acho ele o melhor jogador do mundo."

    Imagem: GettyImages
  • Jair Bolsonaro

    "Sigo, porque ele fez algumas loucuras saudáveis, ele tem boas intenções."

    Imagem: Reprodução
  • Lula

    "Eu não sou muito político, não, eu não sou muito chegado a política. Aliás eu não entendo de política, então a gente quando responde sobre política põe o nome nas trevas, porque todo mundo fala mal da política, todo mundo acha que não tem jeito, de um Brasil de mal a pior. Mas eu prefiro entregar nas mãos de Deus."

    Imagem: Reprodução/Podcast Popah
  • Galvão Bueno

    "Sigo, sou fã do Galvão Bueno, do vozeirão que ele tem."

    Imagem: DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
  • CBF

    "Sigo, porque a CBF dá o máximo pros jogadores, o que eles têm hoje é muito mais do que nós tínhamos na minha época."

    Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL
  • Seleção brasileira de 82

    "Fantástica, extraordinária, mas na vida tem o lema, quem vence segue, quem perde fica para trás, bloquear eu não vou porque foi uma seleção sensacional, mas seguir... não tem meio-termo não, né? Então eu vou seguir, porque foi uma seleção extraordinária."

    Imagem: Arquivo
Alexandre Rezende

Entre Brasileiro e Libertadores, Dadá preferia a América

O grito de campeão brasileiro ficou preso na garganta do torcedor do Atlético por 50 anos. Dadá e os veteranos dos anos 70 acompanharam a lamentação e a frustração dos torcedores alvinegros de outras gerações que não puderam testemunhar o primeiro título do Campeonato Brasileiro.

Após o jogo contra o Bahia, Cuca revelou que a competição nacional era a prioridade dos mecenas do Atlético, que fizeram um alto investimento no clube desde a temporada passada em busca de títulos. Por outro lado, o bicampeonato da Libertadores era o desejo de muitos torcedores.

No entanto, a medida que a temporada foi avançando, o desejo pela conquista do Brasileiro ia se tornando cada vez mais forte, ainda maior quando o Atlético foi eliminado pelo Palmeiras da Libertadores. Atleticano referência, Dadá, porém, preferia a conquista da América pela segunda vez.

"Hoje eu queria a Libertadores, porque é o nome mais famoso. Na minha época era o brasileiro porque o melhor futebol do mundo estava no Brasil, os melhores jogadores. O problema pro Atlético é que a gozação era muito grande, principalmente pela torcida do Cruzeiro. Esse ano acabou essa brincadeira de mau gosto que os cruzeirenses têm com os atleticanos de que o time jamais conquistaria um bicampeonato."

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