Um dos fatores de pressão que Amandinha menciona é fácil de notar: sua figura é hoje o grande símbolo do futsal feminino no Brasil. Como o esporte ainda luta por visibilidade, recursos financeiros e organização, a pressão é forte. Mas tudo isso também traz um lado positivo. Após viver sua infância sem referências no futsal feminino, ela se tornou uma para as jogadoras mais jovens.

"Eu cresci basicamente assistindo ao Falcão. Ele é o meu ídolo. Mas quanto à esportista feminina, eu assistia às meninas do campo, Marta, Cristiane, Formiga, essas meninas já apareciam na TV. As meninas do futsal não apareciam tanto. Quando fui para Santa Catarina é que vi o quanto aquele esporte [futsal] estava escondido e eu não sabia o porquê, se ele era tão maravilhoso de ser visto."

Amandinha só percebeu que era de fato uma referência para as futuras gerações quando já tinha sido eleita pela primeira vez como a melhor do mundo, em 2014.

"Eu achava que aquele momento era um auê. Estava muito feliz, só que eu não sabia o motivo daquilo. À medida que os anos foram passando e eu fui ganhando mais títulos, amadurecendo, inspirando cada vez mais pessoas, crianças... Descobri que realmente eu nasci para fazer aquilo, eu nasci para ser uma líder. Eu nasci para mostrar minha história para as pessoas e elas se inspirarem", diz.

O técnico André Lima (foto) não só incentivou a formação de Amandinha como atleta, ainda na infância, como chegou a brigar para que ela — única menina do grupo — participasse de um torneio.

"Na minha primeira competição, queriam me barrar [pelo fato de ser menina]. E ele: 'não, ela faz parte do meu time. Meu time só vai participar se ela puder participar e não tem diferença nenhuma, ela joga de igual para igual'. Ele bateu o pé, bateu o pé e eu consegui jogar a competição. A gente ganhou a competição. Me sinto muito orgulhosa dessa história porque ele lutou por mim. Ele simplesmente mostrou que eu tinha valor para ele, que eu fazia parte dos sentimentos dele. Eu carreguei aquilo para vida porque, quem sabe, se não fosse aquela persistência dele naquele momento, eu teria desistido e saído do futsal, do futebol, em si", relembra a atleta.

Um dos grandes responsáveis por fazer de Amandinha o que ela é hoje, André Lima sofreu um grave acidente de carro em 2016, perdeu os movimentos do corpo e precisa de cuidados intensivos.

Amandinha está há quase cinco anos em Lages, atuando pelas Leoas da Serra. Neste tempo, levantou muitas taças, inclusive o Mundial Interclubes. Mas também conquistou outras coisas, para ela, de valores imensuráveis, como o apoio e o carinho da torcida local. Nos períodos pré-pandemia, os jogos das Leoas da Serra atraiam milhares de pessoas, de todos os gêneros e idades. As meninas do time são celebridades por lá.

"Eles se tornaram uns apaixonados pela modalidade e pelo clube. Aonde quer que a gente ande lá, a gente é reconhecido, o pessoal pede para bater foto, demonstra total carinho do mundo".

Diante de toda fama, é natural que ela e as companheiras de time sejam inspirações para as meninas do projeto social "Escola de Leoas", no qual as próprias atletas do alto rendimento ensinam futsal para cerca de 300 meninas. De ídolos, as atletas passam a ser professoras de meninas. Ela sabe que está plantando sonhos e pavimentando o caminho dessas crianças. Mas, mais do que ensinar, a atleta aprende... e não é pouco.

"Eu aprendo a pureza com elas diariamente, é muita pureza, sabe? São muitas meninas. Eu vejo a minha história através delas, eu vejo oportunidade que hoje elas estão tendo que eu não tive alguns anos atrás. Eu vejo que a felicidade delas é igual a minha, de forma pura, muitos anos atrás, e isso me deixa muito feliz, isso me faz querer mais e mais", conta Amandinha, com sorriso no rosto, lembrando que muitas mães relatam melhora no comportamento das filhas por causa do esporte.

Isso é que é o show, sabe? Isso que é o que a gente leva para vida porque troféus e medalhas enferrujam, empoeiram, né? Mas essas histórias, essas coisas, elas vão para o coração e se tornam eternas".

Diante de tanto carinho e reconhecimento, o que motivaria Amandinha a deixar o país, não é mesmo? "É, não tenho porquê. Estou feliz, as pessoas demonstram carinho comigo em Lages e, graças a Deus, consigo sobreviver somente da modalidade", finaliza a craque.