O movimento paralímpico brasileiro fez uma aposta arriscada para as Paralimpíadas de Tóquio. Pediu expressamente que o público e a imprensa deixassem de se referir aos atletas como um exemplo de superação, como era até 2016, inclusive por patrocinadores e dirigentes, para tratá-los como atletas de alto rendimento que têm, como característica, uma deficiência física, visual ou intelectual. Super-humanos, como disse Carlos Arthur Nuzman na abertura das Paralimpíadas do Rio, nunca mais.
Foi colocada na agenda uma palavra que simplesmente não existia no vocabulário até o ano passado: capacitismo, que é o preconceito derivado da capacidade de alguém, muitas vezes implícito. Para se chegar ao elogio a alguém que ganhou uma medalha "mesmo" com uma deficiência, antes há a ideia de que, por causa da deficiência, ela tem menos capacidade. E precisou "superar" isso.
Os atletas paralímpicos querem ser conhecidos pelos seus feitos esportivos, pelas vitórias, talvez até pela forma como superaram as dificuldades que fazem parte da rotina de um atleta: lesões, covid, falta de estrutura para treinar, perda de um ente querido, derrotas doloridas. Mas, em um país onde se diz que o brasileiro gosta de vencer, não de determinado esporte, o plano só daria certo se os paralímpicos vencessem. E eles vencerem. Ganharam 72 medalhas (igualando o recorde histórico), sendo 22 de ouro (melhorando em uma conquista o antigo recorde).
As conquistas permitiram ao Brasil conhecer novos heróis, novos atletas a quem admirar. Nomes como Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, nadador de apenas 19 anos, Carol Santiago, que chegou ao movimento paralímpico depois dos 30 anos e, aos 36, ganhou três medalhas de ouro, Raimundo Nonato, craque e artilheiro do time de futebol de cinco, Yesltsin Jacques, melhor fundista cego do mundo...