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O que está por trás da disputa do Vasco pelo Maracanã contra Fla e Flu

Igor Siqueira e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

27/04/2023 12h00

O interesse do Vasco em participar da gestão do Maracanã, em um cenário que o coloca em disputa com Flamengo e Fluminense, vai além do aspecto esportivo. A disputa mexe com quem terá a chave do cofre do principal equipamento esportivo do Rio, um ícone mundial.

Como o Vasco pode se dar bem

Controlado pelo fundo 777, o Vasco entende que há componentes comerciais, estratégicos e de imagem em jogo.

A participação na licitação se dará por meio de um consórcio formado pela Legends, empresa dos EUA que gere arenas ao redor do mundo, e a WTorre, que projetou o Allianz Parque, do Palmeiras, e administra a agenda de eventos.

O Vasco vê o Maracanã como elemento crucial para aumentar receitas de bilheteria e sócio-torcedor. Na prática, pode faturar em outros aspectos, inclusive usando o poderio das torcidas de Flamengo e Fluminense.

O clube também entende que pode arrecadar mais com patrocínios, se os camarotes do estádio entrarem na relação com os parceiros comerciais. O espaço é explorado por quem administra o Maracanã.

Para a WTorre, ter o Maracanã no portfólio é importante para ter um ponto de realização de shows e eventos no Rio, já que a negociação com o Botafogo pela atuação no Nilton Santos não deu certo.

E como ficam Fla e Flu?

O interesse do Vasco no estádio, aliás, cresceu após a 777 assumir o controle de 70% das ações vascaínas. Os executivos do fundo de Miami já se reuniram com gestores públicos para falar do assunto.

Na hipótese de ganhar a licitação do Maracanã, o Vasco é obrigado a deixar Flamengo e Fluminense usarem o estádio pelas regras da licitação. E é também do interesse do clube que continuem no Maracanã - os dois times, inclusive, seriam os principais usuários do estádio, já que não têm outra alternativa para mandar suas partidas.

Mas, como premissa básica, a receita com alimentos e bebidas fica com quem administra o estádio. Essa linha de arrecadação pode ser ampliada com patrocinadores que atuem nesse ramo, como cervejarias. Tudo isso direcionado a quem está no controle do complexo.

Ou seja, quanto mais as torcidas de Fluminense e Flamengo comessem e bebessem durante os jogos, mais o Vasco faturaria. E quanto mais jogos dos dois, maiores os valores de camarotes e patrocínios. A dupla joga até 60 vezes no ano no estádio junta e, hoje, são eles que faturam com partidas do Vasco.

Questão do gramado

Flamengo e Fluminense argumentam que não cedem o Maracanã para os jogos do Vasco em nome da manutenção do gramado.

A dupla Fla-Flu trata o cenário publicamente como um critério técnico, juntando pareceres da empresa Greenleaf aos processos judiciais abertos pelo Vasco para usar o Maracanã. O Vasco refuta a tese de que tenha contribuído para a deterioração atual do campo.

Dirigentes ligados a Flamengo e Fluminense acreditam que o Vasco tentaria mudar o gramado para sintético, se assumisse a gestão do estádio. A informação teria sido passada pela 777 ao governo do estado. O lado cruz-maltino nega.

O gramado sintético permitiria mais jogos no estádio. Mas há questionamentos da parte da dupla Fla-Flu sobre a qualidade desse tipo de piso.

Casa de shows ou jogos?

O UOL apurou que o planejamento preliminar da WTorre é fazer dez shows por ano no Maracanã. Isso pode comprometer a agenda de Flamengo e Fluminense no estádio — como ocorre eventualmente com o Palmeiras no Allianz.

O Vasco já falou publicamente que a prioridade será esportiva. Não ficou claro, no entanto, como poderia se encaixar jogos de três times mais shows no estádio, ainda mais levando em conta a questão do gramado.

Mas além do uso completo do estádio para eventos de grande porte, o Vasco entende que o Maracanã comporta eventos menores, tanto nas áreas internas quanto em um espaço que não invada o campo de jogo, propriamente dito.

O clube, no entanto, defende que a prioridade é esportiva.