Professor de futebol é denunciado por estupro em campeonato de base na BA

Um professor de futebol foi denunciado à Polícia Civil da Bahia pelo suposto estupro de um adolescente de 17 anos durante um campeonato de base disputado na semana passada na cidade de Muritiba, no Recôncavo Baiano, a cerca de 140 km de Salvador.

• A investigação corre sob segredo de Justiça na delegacia do município desde o início da semana.
• Segundo apurou a reportagem, o nome do professor é Caio Silva dos Reis.
• Ele também é árbitro de futebol e chegou a trabalhar como assistente em jogos das categorias de base do Campeonato Baiano.
• Pertence ao quadro da Liga Feirense de Desportos, mas foi afastado após a denúncia.
• O acusado ainda não foi detido.

O caso ocorreu durante a Muritiba Cup, torneio de base que reuniu mais de 500 jovens em quatro categorias e contou com olheiros de grandes clubes do país, como Palmeiras e Internacional. Após uma seletiva em Feira de Santana, sede da sua escolinha, o professor selecionou 35 garotos para disputar o campeonato em Muritiba, onde ficaram alojados em escolas públicas.

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Na última quinta (26), um adolescente entrou em contato com o pai pedindo para buscá-lo porque o professor seria pedófilo. Em seguida, o homem teria visto a mensagem, obrigado o jovem a gravar um vídeo negando a história e enviá-lo ao pai. Segundo o relato do jovem à polícia, ele foi trancado numa sala e violentado sexualmente.

O UOL teve acesso às mensagens enviadas pelo adolescente pedindo socorro. As identidades de pai e filho estão preservadas, assim como o trecho em que o garoto descreve o assédio do professor.

"Pai, vem me buscar, eu vou desistir", diz o jovem.

Após ser questionado pelo pai, ele responde: "O professor aqui é pedófilo, pra eu ser um jogador profissional ele disse que eu tenho que (...) Que me colocaria no Bahia".

"Mas não manda mensagem pra ele, por favor, pra ele não fazer nada comigo. Só vem me buscar, por favor", completa o garoto.

Em mensagem de áudio, ele ainda explica ao pai o modus operandi do professor: "Ninguém fala por medo de acontecer alguma coisa. Quando ele conversou comigo, disse que não era pra falar nada pra ninguém, que era pra morrer lá, ficar só entre eu e ele. E que era pra eu confirmar tudo que ele dissesse pra meu avô, que eu ia para o Bahia."

Após ser violentado, o adolescente conseguiu fugir do alojamento e foi encontrado por outro professor, que acionou o Conselho Tutelar e fez a denúncia. Ele passou por exame de corpo de delito e prestou queixa à polícia no dia seguinte. Além dele, outro adolescente também denunciou o treinador.

"A Delegacia Territorial de Muritiba investiga a denúncia de estupro de vulnerável e importunação sexual praticadas contra duas crianças. Oitivas estão sendo realizadas na unidade policial em conjunto com o Conselho Tutelar. Demais diligências e desdobramentos das investigações não estão sendo divulgados, considerando o segredo de Justiça determinado para crimes contra a dignidade sexual e de proteção de crianças e adolescentes previsto no ECA", diz a nota da polícia enviada à reportagem.

O pai do jovem disse que ele está muito abalado, passou por atendimento do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e aguarda a documentação do processo em Muritiba para dar entrada ao acompanhamento psicológico em Feira de Santana.

Segundo o advogado da vítima, ontem (1) aconteceram as oitivas especiais da investigação. Uma psicóloga ouviu os menores, enquanto a delegada colheu mais depoimentos dos pais. A defesa pedirá a prisão do acusado.

Pai da vítima fala em omissão; Prefeitura nega

O pai da vítima criticou a prefeitura de Muritiba. Segundo ele, houve omissão no caso.

"Era para ter pelo menos um vigia da prefeitura ou funcionários do Cras, em nenhum momento teve esse acompanhamento. Pegaram as chaves da escola e entregaram a esse professor, só entrava e saía com ordem dele. Quando veio o caso, o prefeito sumiu, o presidente da Liga sumiu, a única pessoa que deu assistência foi o secretário de Esporte. Depois que saiu na imprensa, ele entrou em contato, disse que estava nos apoiando e se precisasse de auxílio jurídico eles dariam", afirmou ao UOL.

Em contato com a reportagem, o secretário de Esportes de Muritiba, Luciano Cunha, negou omissão da prefeitura, que divulgou a Muritiba Cup em seu Instagram oficial a quatro dias do início do torneio.

"Estamos dispostos a tudo para ajudar nesse caso, com todo suporte às crianças, aos pais das vítimas, jamais seremos omissos com isso. Nosso propósito é fazer esporte, nossa única contrapartida foi oferecer as escolas para alojar o pessoal de fora. Veio uma equipe de Feira de Santana, o município ofereceu a hospedagem, antes de entrar na escola, a escola de futebol assina um termo de responsabilidade em relação às crianças. Então nada está solto, é tudo amarrado, mas infelizmente nesse mundo encontramos pessoas ruins", declarou o secretário.

Outro lado

À "TV Subaé", afiliada da Rede Globo em Feira de Santana, o advogado de defesa inicialmente negou a acusação de estupro, alegando "relações consensuais" do professor com os adolescentes.

O UOL entrou em contato com a defesa e apurou que o advogado está em processo de negociação com a família do acusado e ainda não assumiu a defesa perante a Justiça.

As redes sociais do homem investigado, pelas quais ele divulgava sua escolinha de futebol e os campeonatos de base, foram desativadas.