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Ele usou a 10 de Zico no Fla, jogou com Sócrates e teve relíquias furtadas

Victor segura camisa do Flamengo: ex-meia teve passagem relâmpago pela Gávea no timaço de 1986 Imagem: Bruno Braz / UOL Esporte

Bruno Braz

Do UOL, em Cuiabá

17/06/2021 04h00

Imagine você, na década de 80, tendo a oportunidade de jogar pelo Flamengo ao lado de Adílio, Andrade, Aldair, Bebeto, Leandro, Jorginho, Zinho, entre outros e, mais do que isso, ter a honra de usar a camisa 10 de Zico? Parece um sonho, mas foi uma realidade —ainda que meteórica— na vida de Victor Domingos da Silva, ou simplesmente Victor, o ex-meia do Dom Bosco (MT) que desembarcou na Gávea por empréstimo em 1986.

Nos registros oficiais, foram apenas quatro partidas e nenhum gol. Em três jogos, atuou como titular, o que indicava um futuro mais prolongado ao cuiabano, porém, por motivos de força maior, segundo sua versão, a continuidade no Rubro-Negro não foi possível.

Para ouvir essa história, o UOL Esporte foi até a residência de Victor, na região de Dom Aquino, em Cuiabá (MT). Com um sorriso largo a todo momento, esbanjando simpatia e cercado de troféus e medalhas conquistadas — principalmente no Estado de Mato Grosso — ele explicou como parou no Flamengo.

"Nosso treinador era o Orlando Peçanha [ex-zagueiro campeão mundial pela seleção em 1958]. Depois de um tempo, ele me falou: 'você tem que jogar num grande centro'. Aí ele falou que ia me arrumar para jogar no América, mas passaram-se uns 2 meses, já estava acabando o campeonato e ele falou: 'Victor, não vou te levar para o América, não. Vou te levar para o Flamengo'", se recorda, lembrando que o presidente do Dom Bosco não levou fé que ele fosse ser aproveitado:

"Quando eu fui para o Flamengo, o presidente do Dom Bosco achou que eu não fosse jogar. E com 15 dias de treinamento, o [Sebastião] Lazaroni, que era o treinador, me colocou para jogar".

Segundo as fichas técnicas da época, Victor atuou contra Goiás, Santa Cruz e Vitória — pelo Campeonato Brasileiro — e diante da "seleção brasileira de novos" em um amistoso.

Seu futebol parecia agradar, mas uma mudança nos rumos da negociação para comprá-lo inviabilizaram sua continuidade no Rubro-Negro.

"Quando eu cheguei ao Flamengo, tinha sido artilheiro dois anos seguidos no campeonato mato-grossense. O Dom Bosco estipulou meu passe em 600 milhões de cruzeiros (cerca de R$ 218 mil convertendo para a moeda atual), mas quando o Flamengo sinalizou que queria comprar, o Dom Bosco subiu a pedida e o Flamengo ficou zangado para caramba e acabou me devolvendo", revela o ex-jogador, hoje aos 60 anos.

Usou a 10 de Zico e formou meio com Sócrates e Andrade

A passagem foi relâmpago, mas lhe rendeu bastante história para contar. Sua estreia, por exemplo, aconteceu no Maracanã, diante do Goiás, onde foi titular usando a camisa 10 de Zico, que na época estava lesionado. Victor formou o meio de campo com ninguém menos do que Sócrates e Andrade. A defesa tinha nomes como Aldair e Mozer e o ataque contava com Bebeto e Alcindo.

"Só tinha fera", se recorda, sempre com seu sorriso no rosto, lembrando do elenco que ainda contava com Jorginho, Aílton, goleiro Zé Carlos, entre outros.

Victor lembra que tinha uma boa relação com todos, mas Aldair era o que lhe dava mais atenção e conselhos.

"Me dava bem com todo mundo, mas com o Aldair eu tinha um pouco mais de intimidade. Estávamos sempre conversando. O Jorginho também era muito gente boa", comentou.

Andrade jogou com Victor 8 anos depois: "Era bom jogador"

Coincidentemente, Victor e Andrade se reencontraram oito anos depois para jogar pelo Operário de Várzea Grande, tradicional clube de Mato Grosso, quando o ídolo rubro-negro já estava em final de carreira.

O UOL Esporte entrou em contato com Andrade, que lembrou das duas vezes em que atuou com Victor.

"Me lembro do Victor, sim. Ele era um garoto muito bom de bola, tinha qualidade. Mas aquele nosso time era muito forte, então era difícil conseguir um espaço. Depois fui jogar no Operário e joguei com ele também lá no Mato Grosso. Fomos campeões estaduais", se recorda.

Atualmente Victor não possui mais contato com ninguém daquela geração, que além do Campeonato Carioca de 1986, viria a conquistar no ano seguinte o Campeonato Brasileiro, que carrega até hoje a polêmica com o Sport.

"Não tenho mais contato com ninguém. Mato Grosso é um pouco esquecido, né...", comentou, sempre sorrindo.

Teve relíquias furtadas

Victor teve relíquias do período do Flamengo roubadas; casa tem registro de passagens por clubes de Mato Grosso Imagem: Bruno Braz / UOL Esporte

Pouco antes de retornar para Mato Grosso, Victor eve os itens - que atualmente seriam verdadeiras relíquias - roubadas por uma pessoa que vivia no mesmo prédio que ele no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

"Eu guardava muito os materiais que eu ganhava, na época podia trocar as camisas também, e eu guardava todas para trazer aqui para Cuiabá, mas aí um rapaz que ficou com a gente no apartamento pegou as malas. Tinha chuteira, camisa, calção... Ele foi e levou tudo. Ele é lá de Goiânia. Até hoje não tive mais nenhum contato. Tinham minhas fotos também do Flamengo, e hoje nem isso eu tenho", lamenta.

Ficaram, então, as lembranças e o sentimento pelo Flamengo, algo que carrega até hoje.

"Eu sou flamenguista de coração. Sempre torci para o Flamengo, mesmo antes de ir para lá. Além do Dom Bosco, que é onde comecei a jogar", frisou.

Depois do Flamengo, Victor atuou no Ceará, em 1987, e em seguida voltou para Mato Grosso, onde jogou pelos clubes locais até encerrar a carreira. Atualmente tem uma escolinha de futebol na região onde mora em Cuiabá.

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