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Capitão na seleção olímpica, ex-São Paulo se vê pronto para chamado de Tite

Lyanco, zagueiro da seleção brasileira olímpica, antes de jogo contra os EUA na Espanha Imagem: Fernando Torres/CBF

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

27/11/2019 04h00

Aos 22 anos, Lyanco é capitão da seleção brasileira olímpica e tem recebido elogios pelo desempenho no Torino, da Itália. Mas o zagueiro criado na base do Botafogo e revelado pelo São Paulo acredita que pode ir mais longe. Ele quer uma convocação para a seleção principal ainda neste ciclo para a Copa do Mundo de 2022: "Não há motivos para que eu não tenha uma chance um dia".

Ele entende que ainda há uma vaga aberta no grupo, e realmente Tite tem revezado a quarta opção da zaga. Marquinhos e Militão tendem a ser titulares a longo prazo, com o veterano Thiago Silva como bola de segurança. O último posto tem servido para experiências e já abrigou nomes como Samir, da Udinese, Rodrigo Caio, do Flamengo, e Felipe, do Atlético de Madri. Nenhum foi unanimidade para a comissão técnica.

"Para ser sincero, cada convocação da principal virou uma expectativa para mim. Eu antes sabia que não seria chamado, porque não estava na hora. Agora fico na frente da TV achando que pode ser minha vez. Fico ansioso para caramba. Já conversaram comigo, deram telefonemas e eu li coisas sobre o que pensam de mim. Tenho que seguir em alto nível na Itália para ter essa chance", disse Lyanco, em entrevista ao UOL Esporte.

Imagem: REUTERS/Massimo Pinca

Vendido pelo São Paulo menos de dois anos após estrear como profissional, Lyanco está perto de completar três temporadas no futebol europeu. Foi comprado pelo Torino, jogou por empréstimo no Bologna e agora estendeu o contrato com o time de Turim até 2024. O começo no Campeonato Italiano era promissor, mas uma lesão em um amistoso da seleção olímpica acabou o freando.

Lyanco participou do Torneio de Tenerife na última data Fifa e foi capitão nos confrontos com Estados Unidos e Argentina. No clássico, após forte dividida no meio de campo, sofreu uma pequena lesão no ligamento colateral do joelho direita e agora corre para se recuperar. Há planos pela frente e os problemas físicos precisam ficar para trás.

Confira abaixo um bate-papo com o zagueiro Lyanco:

Como foi se tornar capitão da seleção olímpica?
Tenho um bom relacionamento com o Jardine [Lyanco foi treinado por André Jardine no sub-20 do São Paulo em 2015] e ele me dá a oportunidade de falar. Ele gosta de um time europeu, com defesa alta e controle de bola, então posso falar com ele sobre tática, sobre coisas boas e nem tão boas para o time. Tem o Ibañez (ex-Fluminense e hoje na Atalanta), tem o Luiz Felipe na Lazio. Temos o entendimento desse estilo e a capacidade de poder até instruir o Jardine se precisar. Para chegar forte na Olimpíada de 2020 é bom ter conhecimento de outras coisas.

Lyanco, Phelipe, Ibañez e Guga antes de jogo da seleção brasileira olímpica contra a Argentina Imagem: Fernando Torres/CBF

O que faz na seleção olímpica pode refletir em uma chance na principal?
Preciso fazer amistosos de bom nível e o que faço dentro do vestiário também conta, como lido com o grupo, com o técnico, com os diretores. Não há motivos para que eu não tenha uma chance um dia. Espero que seja rápido, até porque ainda tenho chances de defender a Sérvia e até a Itália. Como não joguei pela principal, ainda posso mudar. A Itália está entre as seleções tops do mundo, é um atrativo. Antes eu só podia deduzir qual seria meu futuro, mas agora já tenho mais certo o que querem de mim.

Como foi a experiência nas seleções de base da Sérvia?
Aqui no Torino divido o quarto com um sérvio, inclusive [Sasa Lukic]. Sempre falo com ele da experiência boa que tive. Antes de sair do São Paulo pude ver como era o futebol europeu, as dificuldades que poderia ter com idiomas, com culturas diferentes. O choque quer seria sair do país. Disputei o campeonato europeu, enfrentei Dinamarca, França, Espanha... Com aquela idade [19 anos] foi ótimo para o desenvolvimento de cabeça, para ver o que queria da vida. Logo depois decidi jogar o Sul-Americano Sub-20 pelo Brasil. Foi uma decisão muito difícil, porque na Sérvia eu já pensava em seleção principal, com chance de jogar. Mas seleção brasileira pesa. Essa camisa amarela, que me fez querer jogar bola para ser como meus ídolos... Esse sonho pesou. Deixei de lado os planos que pareciam mais fáceis.

O que aprendeu morando na Itália desde 2017?
Tem sido muito bom, primeiro pelo lado pessoal, de família, de crescimento como homem. Aprendi uma nova cultura, uma nova forma de pensar. Tudo foi muito novo, com uma gigantesca para o que vivia no Brasil. Sabia que seria difícil por tudo o que ouvi de outros meninos e jogadores experientes com quem convivi no São Paulo. Mas graças a Deus tem sido tudo muito bom. Pude rapidamente aprender a língua e a cultura. E do lado do futebol não tenho o que falar. É um estilo muito forte, principalmente para aprender como zagueiro. Foi ótimo chegar cedo. Sou totalmente diferente do menino que era no São Paulo.

Tem realmente um cuidado maior com os defensores na Itália?
Até hoje só tive dois treinadores. O Sinisa Mihaijlovic [sérvio], que me contratou para o Torino e depois me levou para o Bologna, e agora o Walter Mazzari [italiano]. E eu cheguei dois meses antes de poder atuar, com a janela fechada, só para poder entender tática, como uma defesa joga por aqui. O Mihaijlovic ficou me mostrando como era diferente, que se eu tocasse para trás, devia ajudar a subir a linha. Ensinou balanço defensivo e até como correr melhor. São coisas pequenas, mas fundamentais. São segundos que você ganha só de mudar posicionamento ou direção do corpo. E em um campeonato com tantos jogadores fortes, você precisa de cada segundo a mais que puder ganhar. São detalhes como comandar a subida da linha defensiva, falar mais em campo, posicionar o corpo. Só parece simples (risos).

No São Paulo, você teve paciência para as primeiras chances e até recusou as primeiras ofertas. No Torino, aceitou um empréstimo para jogar mais. Você acha que essas decisões vão te fazer ganhar algo mais para frente?
Depois de jogar o Sul-Americano sub-20 em janeiro de 2017, viram Atlético de Madri e Juventus me sondar. E eu sempre tive a cabeça boa por causa dos meus pais, que sempre me ajudaram bastante. Se eu fosse dar um passo grande assim, poderia não jogar, como acontece com muita gente. Ainda mais sendo zagueiro, porque os clubes costumam procurar jogadores mais experientes. Não é como uma joia do ataque, você precisa de mais maturidade.

Eu precisava de um time que me desse moral e me colocasse para jogar. Eu sempre tive esse pensamento e calma e aí surgiu o Torino. Não podia chegar querendo ser o top. E logo machuquei, operei o pé esquerdo e fiquei dez meses parado. Voltei, fiz um jogo e vi que o time estava fechado. Eu precisa recuperar a confiança e de repente o Mihaijlovic foi para o Bologna e me pediu. O clube também achou que seria bom para não me deixar parado. Fiz um segundo turno excelente, deixando o time em décimo depois de quase cair. Cheguei a receber outras propostas, mas decidi renovar com o Torino, que aumentou minha multa e me trouxe de volta para o nível que gostaria de estar.

Walce e Lyanco, revelados pelo São Paulo, durante treino da seleção brasileira olímpica Imagem: Fernando Torres/CBF

E como imagina que será seu próximo passo?
Eu sempre vejo meus movimentos. Quando saí do São Paulo, tive que ter calma de ir para um gigante e queimar etapas. Depois da lesão, entendi que seria bom ir para o Bologna. Agora, considero estar em um nível altíssimo, então já almejo coisas maiores. Meu momento é esse.

Você mencionou algumas vezes o que aprendeu de cultura e idioma novos. Conseguiu estudar italiano antes de ir para o Torino?
Eu joguei uma partida de Copa do Brasil em 2017 e no dia seguinte fui vendido. Foi muito rápido. Em uma semana já tinha viajado, não sabia nada e achei que nunca ia aprender. Quando conversava comigo, não entedia nada. Mas ouvindo muito e prestando atenção, sua cabeça vai abrindo. O Torino me deu uma professora particular no início, mas para ser sincero era meio chato. Eu, tu, ele. Nós, vós, eles. Até em português é chato, então, você imagina (risos)... Aí decidi ir na marra mesmo, escutando programa de rádio, música no carro, indo em restaurante e pedindo comida que eu nem queria para aprender como falar. E hoje gosto bastante das músicas italianas. Escuto mesmo.

E como fica sua família? Seus pais foram para a Itália? Além disso você casou, teve uma filha...
Sim, casei, cara. Estou casado com uma esposa maravilhosa, que me ajuda muito no dia a dia, para os treinos, para alimentação. Ela entende disso e me ajuda a crescer na parte física, como um atleta mesmo. E nossa filha está com 10 meses já, então não tinha como estar melhor. A alegria de chegar em casa e estar em família é única. As coisas mudaram rápida e eu precisei deixar de ser um menino para ser homem de um dia para o outro. Agora sou só eu e ela, sem os pais. Ao mesmo tempo, ver o crescimento da minha filha não tem preço. Ela chama Maria Flor e minha mulher, Yasmin. Meus pais ficam no Brasil por causa da minha irmã, mas têm uma casa aqui em Turim e meu pai não consegue ficar sem ver meus jogos. Vai em casa e fora, sempre. Eu brinco que ele mora em Turim e só visita o Brasil. Viaja o tempo todo.

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