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"Brasil teve 3 Bolas de Ouro. Hoje só, um Neymar irregular", diz Vítor Baía

Português Vitor Baía durante passagem pelo Barcelona, em 1997 Imagem: Ruediger Fessel/Bongarts/Getty Images

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos (SP)

21/11/2019 04h01

Resumo da notícia

  • Ex-goleiro Vitor Baía atuou ao lado de Ronaldo e Rivaldo no Barcelona
  • Português vê o Brasil carente de talentos como antigamente
  • "Hoje só tem o Neymar, e com muita irregularidade", analisa Baía
  • Baía ainda fala sobre Felipão, Messi x CR7 e Jorge Jesus no Fla

Um dos grandes ídolos da seleção de Portugal, Vítor Baía é daqueles raros jogadores de poucos clubes ao longo da carreira - mas muitas glórias. O ex-goleiro vestiu apenas duas camisas como profissional: Porto-POR, com duas passagens (1988 a 1996 e 1999 a 2007), e Barcelona-ESP, entre 1996 e 1999. Campeão da Liga dos Campeões pelo time português na temporada 2003/2004, não teve a mesma sorte em termos de conquistas pelo Barça, até pela grave lesão que sofreu no joelho, mas ainda assim viveu momentos especiais pela equipe grená.

Na Catalunha, o português, que viria a ser campeão da Champions ao lado dos amigos Carlos Alberto e Deco, já havia tido grandes jogadores brasileiros como companheiros. Célebres companheiros, no caso. O ex-goleiro teve o privilégio de presenciar grandes momentos das carreiras de Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, vencedores da Bola de Ouro como atletas do Barça nos anos de 1996 e 1999. Ronaldinho gaúcho só chegaria mais tarde, já depois do retorno do ex-goleiro ao Porto.

Hoje, a história é diferente. O Brasil não tem um melhor do mundo desde 2007, quando Kaká faturou o prêmio com a camisa do Milan, precedendo a hegemonia Cristiano Ronaldo-Lionel Messi. Neymar, jogador brasileiro com maior potencial da atualidade, há tempos sonha com esse troféu. Mas vem alternando altos e baixos em sua carreira, e o máximo que conseguiu foi um terceiro lugar em 2015 e 2017. O que acontece?

Imagem: Laurence Griffiths/Getty Images
Para Vitor Baía, é indiscutível que o Brasil, antigamente, reunia muito mais talentos do que hoje. "Se nós lembrarmos dos brasileiros premiados [pelo Barcelona], tínhamos três Bolas de Ouro: Ronaldinho, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo. Eu tive o privilégio de jogar com dois, e essa é a grande diferença do Brasil que, em outros tempos, tinha os talentos. Havia mais jogadores de tamanha qualidade que jogavam nas maiores ligas do mundo, e hoje só tem o Neymar, e com muita irregularidade, com algumas questões que não o ajudam para que ele possa dar aquele salto e se tornar o melhor jogador do mundo", diz o goleiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Fã de Ronaldo e Rivaldo, Vítor Baía, que hoje está com 50 anos e é apresentador do Canal 11, de Portugal, não fica em cima do muro quando questionado sobre qual deles jogou mais: para ele, o Fenômeno. "Ele realmente era muito forte, muito bom, ele era mesmo um fenômeno. Depois eu tive o privilégio de jogar também com o Rivaldo, que era de uma forma diferente, mas de uma educação e uma formação extraordinária. Mas o Fenômeno foi aquele que mais me marcou", acrescenta Baía, que ainda lamenta o fato de Ronaldo ter deixado o Barcelona em 1997.

Imagem: Cesar Rangel/AP
Na visão do ex-goleiro, que defendeu a seleção portuguesa entre os anos de 1991 e 2003, Ronaldo poderia ter ido ainda mais longe na carreira se não tivesse ido para a Inter de Milão, da Itália, onde, segundo ele, a parte física era tratada de outra maneira.

"Era um jogador de outra dimensão. Foi uma pena aquela decisão de deixar o Barcelona e ir para a Inter de Milão. O trabalho que se faz na Itália é diferente do que se fazia na Espanha na questão da parte física. A gente trabalhava de outra forma. Acredito que ele não teria os problemas que teve em Milão", completa Baía, recordando as graves lesões de Ronaldo Fenômeno durante a passagem do brasileiro pela Internazionale, entre 1997 e 2002.

VEJA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA

Cristiano Ronaldo ou Messi?

Essa é a pergunta que todos colocam, e eu, enquanto português, para mim é Cristiano Ronaldo. Ele é uma máquina, é um atleta na acepção da palavra, é um baita jogador. É alguém que olha para sua profissão de uma forma muito séria, muito concentrado e muito focado. Agora, o Messi é um talento, nasceu com o talento. São jogadores que a forma de jogar é completamente distinta, e a parte física também. É completamente diferente. Penso que é injusto dizer que um ou outro é melhor, é muito injusto. O futebol merece que os dois sejam realmente de outro mundo, estão com todo mérito entre os melhores do futebol mundial, não tenho dúvida nenhuma disso. Estão juntos de Pelé, Maradona, Eusébio, daqueles que foram e fazem a diferença do futebol mundial.

Mágoa de Felipão por não ter sido mais convocado?

Imagem: AFP PHOTO/ODD ANDERSEN
Infelizmente eu queria ter trabalhado com ele, mas ele não me convocou [risos]. Isso aí foi justamente o tema mais falado em Portugal, porque eu tinha ganhado a Champions pelo Porto, tinha sido considerado o melhor goleiro da Europa em 2004 e o Felipão escolheu outros goleiros para ir à Eurocopa. Ele nunca explicou, mas é um tema já esquecido: eu falo bem com o Felipão, não temos nenhum problema. Eu mesmo já perguntei isso para ele em uma entrevista no meu programa no Canal 11, e falei: 'Você não vai ficar chateado comigo? Porque todos os portugueses querem saber por que eu não fui convocado por você'. Eu falei: 'Desculpa a brincadeira', e começamos a rir. Ele disse: 'Há momentos em que temos que fazer escolhas, e eu naquele momento escolhi outros e foi a melhor opção. Tu realmente eras muito bom, mas optei por outros [risos]'. Nós sabemos que sofremos todos por esta questão, porque perdeu o Felipão e perdeu Portugal, porque era um momento importante, mas perdemos a final [Portugal 0 x 1 Grécia].

Logicamente que eu queria jogar e não compreendia, mas nunca falei para a imprensa que ia criticar o Felipão, isso eu nunca fiz. Sempre respeitei sua decisão e nunca criei qualquer tipo de problema. Eu o reconheço [como um grande treinador] porque alguém que ganha tantos títulos tem que ter qualidade, e o currículo fala por ele.

"Jose Mourinho é o melhor treinador do mundo"

É diferenciado. Quando eu falei que o treinador é um professor, um psicólogo, um coach, um treinador na acepção da palavra, esta é a grande realidade do Mourinho. Ele trabalhou determinadas ferramentas e fazia questão de conhecer os jogadores um a um, e tirava as qualidades dos jogadores com uma linguagem simples, com os métodos nos treinos, tudo muito intenso, raciocínio rápido, muito conhecimento de bola também. Nós trabalhávamos a parte física com bola, não havia treino isolado sem a bola, e isso acabou a propiciar o treino e marcar a diferença. Para mim, realmente é o melhor treinador do mundo.

"Trabalho de Jesus no Flamengo não surpreende"

Não surpreende. Sabíamos que seria difícil pelo histórico dos treinadores que chegam de fora, principalmente da Europa, para o Brasil e encontram muita dificuldade. Também tem a ver com a aceitação e a compreensão daquilo que é a forma de ver o futebol, e foi importante chegar ao Flamengo e o clube ter adquirido alguns jogadores com experiência europeia que pudessem compreender a forma como ele funciona, como trabalha. Ele é uma pessoa muito metódica e muito exigente, é um cara que respira futebol, que vive para o futebol. Ele é muito bom nas estratégias, na forma como organiza suas equipes, como encontra os pontos mais fortes e fracos dos seus adversários, como atuar e como fazer para vencer e criar grupos fortes em termos de como são as relações humanas, de amizade e disciplina. Sem disciplina não há sucesso.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Vitor Baía atuou com Ronaldo e Rivaldo no Barcelona antes de ser campeão da Liga dos Campeões com Carlos Alberto e Deco no Porto, e não depois. O erro foi corrigido.

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