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'Encostado' no PSG, Nenê planeja volta ao Brasil e ainda sonha com seleção

Nenê foi o artilheiro do último Campeonato Francês e quer uma chance na seleção Imagem: Jeff Pachoud/AFP

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

30/10/2012 12h00

 

A recuperação de uma fratura na face fez com que acompanhar a convocação de Mano Menezes para o amistoso da seleção brasileira contra a Colômbia, dia 14, em Nova Jersey (EUA), seja apenas uma questão de hábito para Nenê. E também se manteve a rotina de ausências. No entanto, esperar o anúncio de listas tem sido um ritual que o meia-atacante do Paris Saint-Germain vem cumprindo mesmo quando não ser chamado já ganhou ares de quase inevitabilidade. O discurso é conformado, ciente de que será preciso uma mudança grande de circunstâncias para que o paulista de Jundiaí enfim tenha uma chance na equipe principal - ele foi convocado para a Sub-23 na gestão de Ricardo Gomes, na década passada. "Nenhum jogador de alto nível pode desistir de querer chegar à seleção. Você precisa continuar trabalhando e esperando uma chance, mesmo quando ela parece distante", afirma.

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Aos 31 anos, os nove últimos passados no futebol europeu, Nenê é um caso curioso. Na temporada de 2011/12, ele foi o único brasileiro capaz de se gabar de terminar na artilharia de uma liga europeia - anotou 21 gols no Campeonato Francês, dividindo o posto com Olivier Giroud, então no Montpellier e hoje no Arsenal -, mas ainda não recebeu uma chance de ajudar uma seleção brasileira, que diante de adversários mais encorpados, tem sofrido com a escassez de gols e um camisa nove clássico, a ponto de obrigar Mano a usar um esquema sem centroavantes.

O jogador admite também ter um pouco de curiosidade pela falta de convites, mas adota um tom diplomático. "Cada treinador tem sua filosofia e é preciso respeitar isso. De repente pode ser o fato de já não ser tão novo. O Mano também parece ter encontrado uma combinação boa com os jogadores que vem chamando. Não adianta especular. A gente fica na esperança de que o nome apareça numa convocação. Vou continuar batalhando até porque o trabalho no clube é o que te leva à seleção", pondera Nenê.

Tal pensamento leva em conta também a luta de Nenê em outra frente. Mesmo depois de ser o destaque individual do PSG na última temporada, ele se viu ofuscado pela mudança de regime no clube parisiense, adquirido em 2011 por um fundo de investimentos ligado à família real do Catar. A inesperada perda do título nacional para o mediano Montpellier resultou numa a óbvia injeção de caixa e na chegada de uma leva de jogadores não apenas de mais prestígio, mas também em competição direta por uma vaga no setor ofensivo. Leia-se Zlatan Ibrahimovic. E, a partir de janeiro, Lucas Moura.

Das 13 partidas disputadas pelo PSG na temporada, Nenê disputou sete e em apenas três começou como titular. Se algum tipo de rodízio era esperado por conta do retorno do clube parisiense à Liga dos Campeões, Nenê certamente não previa ver a maioria dos jogos do banco ou da tribuna. Em nada ajudou também uma queda de braço com os dirigentes (um grupo que inclui o ex-jogador Leonardo) sobre os termos da renovação de contrato. “São coisas normais da vida de um jogador profissional. Mas a chegada dos novos jogadores não causou problemas para o elenco. O grupo sabia que o novo projeto iria trazer reforços e acho que todo mundo se preparou para isso. Não dá para ficar melindrado”, afirma.

Nenê inclusive diz ter se esforçado fora de campo para ajudar. A leva de reforços para 2012/13 incluiu o zagueiro Thiago Silva, que agora encorpa uma célula verde-amarela em Paris. Além de Nenê, o clube conta com o também zagueiro Alex (ex-Chelsea), o lateral Maxwell (ex-Barcelona) e o meia Thiago Motta, que usa o passaporte italiano para atuar pela Azzurra. No PSG desde 2010, Nenê bancou o cicerone para todos, dando dicas de passeios e restaurantes, organizando também os primeiros churrascos e confraternizações.

"Não tem jeito: brasileiro acaba se juntando. Não é panela ou nada mais sério, mas nas horas vagas a gente volta e meia está junto. O Lugano, o uruguaio mais brasileiro que conheço, costuma vir também", explica Nenê. Ciente do impacto que a mudança de país e cultura tem para jogadores, ele espera também contribuir para que Lucas se sinta o mais à vontade possível quando se juntar ao grupo, em janeiro. "O mais importante é o garoto ter tranquilidade, pois isso vai ajudar na adaptação. O Lucas é um jogador de muita explosão e técnica. Ao contrário de muitos (jogadores de perfil semelhante), ele também sabe fazer gol", brinca.

Nenê tem plena noção de que a chegada do meia-atacante do São Paulo pode diminuir o número já relativamente minguado de oportunidades na equipe titular. Apesar da tentação oferecida pela Liga dos Campeões, o meia-atacante admite que a situação pode contribuir para uma saída do PSG. Se durante as férias o Milan fez uma oferta ao clube francês, Nenê agora acredita que uma transferência teria o Brasil como destino, até por razões pessoais - os dois filhos do jogador vivem com a ex-mulher em São Paulo. "Quero estar mais perto das crianças. O futebol brasileiro também evoluiu, agora pode pagar bem melhor e ainda dar condições de um jogador aparecer melhor", acredita Nenê.

Nas suas palavras, há também um quê de cansaço da rotina cigana. Em treze anos de carreira profissional, Nenê defendeu 10 clubes, passando por Palmeiras, Santos antes de ir para a Espanha, onde jogou por Mallorca, Alavés, Celta e Espanyol. Na França, atuou pelo Monaco antes de seguir para Paris. "Falam que sou andarilho, mas tudo o que faço é pensar no melhor para a minha carreira e para a minha vida". Arrependimentos, ele parece ter apenas um: ter deixado o Santos pouco após o vice-campeonato da Libertadores de 2003. "Se tivesse ficado um pouco mais, poderia ter sido chamado para a seleção junto com muitos daquele grupo...", lamenta.

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