A um mês do fim do prazo, mais de 80% dos jovens não têm título de eleitor
Rafael Neves
Do UOL, em Brasília
04/04/2022 18h38Atualizada em 04/04/2022 18h38
Faltando um mês para o fim do prazo de regularização do título de eleitor, só um em cada cinco jovens de 16 e 17 anos tem o documento no Brasil. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o mês de março terminou com 1,05 milhão de eleitores registrados nessa faixa etária — um aumento de 26% em relação a fevereiro.
Este contingente, embora tenha crescido nos últimos meses, representa 17% de seu potencial, já que a população brasileira com 16 e 17 anos é estimada em 6,13 milhões pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em outras palavras, mais de 5 milhões de menores de idade podem tirar título, mas não o fizeram até o momento.
Neste ano, a busca pelo engajamento jovem no processo eleitoral ganhou um componente político. Isso porque celebridades contrárias ao presidente Jair Bolsonaro (PL) têm incentivado adolescentes a tirar o título, já que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu maior adversário nas pesquisas, tem se saído melhor com o eleitorado de 16 a 24 anos.
Essas campanhas, somadas ao esforço do TSE, fizeram com que o número de menores de idade com título saltasse de 730 mil, no final de janeiro, para mais de 1 milhão, dois meses depois. Em números absolutos, porém, esta é a menor quantidade de eleitores de 16 e 17 anos alistados em março desde 2004, quando os registros do tribunal passaram a ser mensais.
Para a advogada Juliana Bertholdi, especialista em direito eleitoral, os sentimentos de polarização e de ojeriza à política, que ganharam espaço no debate público nos últimos anos, afetam especialmente os jovens.
"A geração que vem agora passou a infância e adolescência vendo as pessoas brigarem por política. Apesar dos esforços do TSE, nós vemos que a juventude está refratária com relação à política. Isso é algo que se precisa vencer: não deixar a política transparecer como algo abjeto, e que gera apenas brigas e discussões", afirma Bertholdi.
Outro fator destacado pela especialista é uma espécie de "preguiça" com o processo eleitoral. "A democracia é muito trabalhosa. A juventude está muito acostumada com facilidades tecnológicas, mas para escolher um candidato você tem que ler, tem que se informar", diz.
Procurado pelo UOL, o TSE afirma que os cartórios eleitorais ainda estão processando parte dos pedidos de título feitos em março, o que deve elevar o número total. Sobre o engajamento, o tribunal lembra que a pandemia interrompeu parte das ações voltadas ao eleitorado jovem.
A principal delas é o projeto Eleitor do Futuro. Executada em escolas pelos tribunais regionais eleitorais, a iniciativa leva palestras e outras atividades aos estudantes para incentivar a participação jovem na política. O programa, porém, foi suspenso devido à crise sanitária.