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Brasil eliminado: se critério fosse saneamento, país cairia já nas oitavas

Seleção brasileira na estreia na Copa do Mundo contra a Sérvia Imagem: Justin Setterfield/Getty Images

Camilla Freitas

De Ecoa, em São Paulo (SP)

05/12/2022 06h00

Assim como em 2018, a Seleção Brasileira seria eliminada nas oitavas de final se o critério de classificação fosse outro. Um levantamento realizado pela ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) mostra que o Brasil cairia logo na primeira fase de mata-mata, perdendo para a Coreia do Sul.

Isso porque a pesquisa "Copa do Mundo do Saneamento" compara índices de saneamento básico entre todos os países que participam do torneio no Qatar fazendo uso dos mesmos grupos já estabelecidos na Copa 2022, mas levando em consideração os dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) para estabelecer as pontuações.

A ABS considerou a média dos indicadores de acesso à água potável e gestão dos serviços de saneamento como critério de classificação e pontuação.

Os dados da OMS consideram satisfatórias as condições de saneamento a partir de um conjunto de itens, como:

  • Água: ligações domiciliares, poços artesianos, captação, armazenamento e utilização de água da chuva, dentre outros;

  • Saneamento: a existência de vaso sanitário, sistema de coleta de esgoto (coleta, bombeamento, tratamento e disposição final adequada) e fossa séptica, entre outros.

De modo geral, saneamento é um conjunto de medidas que passam pelo abastecimento de água limpa, a coleta e o tratamento de esgoto, a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos, além da drenagem da água da chuva.

Brasil cai nas oitavas, mas por quê?

O Brasil faz parte do Grupo G que conta também com Sérvia, Suíça e Camarões. Diferente do que aconteceu realmente no torneio do Qatar, a seleção canarinha não se classificaria em primeiro, mas segundo lugar na Copa da ABES com índice de 74,4% de saneamento básico. A Suíça, líder do grupo, tem índice de 100%.

Quase 35 milhões de pessoas no Brasil vivem sem água tratada e cerca de 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto, ou seja, 52% da população. O resultado disso é a proliferação de doenças que poderiam ser evitadas.

Somente 50% do volume de esgoto do país recebe tratamento, o que equivale a mais de 5,3 mil piscinas olímpicas de esgoto sendo despejadas diariamente na natureza. E esse cenário permanece mesmo após dois anos do Novo Marco Legal do Saneamento.

A lei sancionada em 2020 abriu espaço para a iniciativa privada ampliar a participação nos serviços de saneamento básico no país.

"O saneamento deveria estar desvinculado dessa limitação imposta pelo Teto de Gastos. Se a gente quer universalizar os serviços, o Estado também deve investir", comentou Francisco Lopes, secretário-executivo da Assemae (Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento) para reportagem de Ecoa. Para o presidente da Abes, Alceu Guérios Bittencourt, é preciso unir investimento privado com investimento público.

O maior desafio [universalização do saneamento no Brasil] é que, embora não seja um país pobre, o Brasil tem uma distribuição de renda ruim e muitas pessoas moram em condições que não são boas, principalmente as que moram em áreas irregulares. Além delas, outras áreas de déficit de atendimento [de saneamento] são as áreas rurais.
Alceu Guérios Bittencourt, presidente da ABES

Sendo assim, melhorar a distribuição de renda é preciso para melhorar a universalização do saneamento básico no país. "A meta do novo marco regulatório é universalizar até 2033. Para isso, é preciso urbanizar áreas irregulares, como favelas, para que elas tenham um arruamento que permita coleta de lixo e esgoto, por exemplo", explica Bittencourt.

De 2002 para cá

Vale destacar que da conquista do pentacampeonato, em 2002, para cá, no mundo do saneamento, o Brasil saltou seu indicador de 65,4% para 74,4%. Além disso, na Copa do Mundo do Saneamento, o país é o segundo maior em termos de população a disputar o campeonato e o terceiro maior em extensão territorial, dois elementos cruciais no desafio da universalização do saneamento básico.

Contudo, o fato de ser um país grande e populoso não serve como "justificativa" para a não universalização do saneamento básico. Os EUA, por exemplo, estão em posição melhor que a do Brasil na Copa do Saneamento.

"Nos Estados Unidos os serviços de saneamento são públicos e operados pelos municípios, o que é algo interessante de notar porque no Brasil há uma ideia de que se tem que privatizar tudo. A maior parte dos serviços de saneamento no mundo são públicos. Pode haver bons operadores públicos que sejam eficientes", diz o presidente da ABES.

Coreia do Sul é grande campeã

Sem nunca ter levado uma Copa do Mundo até hoje, a Coreia do Sul é a grande campeã da Copa do Mundo do Saneamento de 2022 da ABES, com atendimento maior que 99% tanto nos indicadores de acesso à água potável como na gestão segura dos serviços de saneamento.

Mas, assim como na classificação geral das seleções na Fifa, o domínio mesmo é do velho continente. Dentre os 16 países classificados para a etapa eliminatória, 10 são da Europa. Com destaque para a Suíça (100%) e para a Inglaterra (99,0%).

E assim como vêm se mostrando na própria Copa do Mundo do Qatar, as seleções africanas têm muito o que melhorar também no quesito saneamento.

Dos países com indicador de acesso à água potável menor ou igual à 90% estão quatro países da África: Camarões (66%), Senegal (85%), Gana (86%) e Marrocos (90%). Isso demonstra o grande desafio que é a universalização do saneamento no continente.

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