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Eduardo Carvalho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A favela dá a solução

Photorama/ Pixabay
Imagem: Photorama/ Pixabay

Edu Carvalho

01/06/2022 10h51

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No início do ano, trouxe para reflexão aqui em ECOA a importância de pensarmos políticas públicas voltadas à implementação de saneamento básico em todo o país, com foco nas favelas e periferias — penalizadas fortemente pela falta. Eis que naquela ocasião tratei sobre a pressão a ser considerada a partir de nossos representantes neste ano, pelo teor político que carrega, a partir da regulamentação do Marco do Saneamento, que institui a entrega — com qualidade — dos serviços de saneamento básico no Brasil até a data limite de 2033.

Cabe lembrar o que foi acordado pelo Congresso, há dois anos: meta de que 99% da população brasileira possa ter acesso à água potável e 90% a tratamento de água e esgoto.

Na multiplicação de iniciativas da sociedade civil que correm por fora, vemos a evidência de que, na omissão do Estado, sem vontade política e pública (ou apesar dele), a rota pode ser refeita.

É o que acontece no Vale Encantado, uma pequena comunidade centenária no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, que no próximo sábado (4), Dia do Meio Ambiente da Rede Favela Sustentável, entrará no hall de referência não só para esses territórios, mas para todo o país. Na favela, um biossistema fará o tratamento completo do esgoto local, mantendo a floresta em torno limpa e protegendo a saúde dos moradores.

A ação, criada através dos moradores, conta com apoio da Rede Favela Sustentável (RFS), através da organização gestora Comunidades Catalisadoras (ComCat) e o Instituto Ambiente em Movimento, através da ONG Alemã Viva Con Agua, que juntas, conseguiram captar recursos financeiros a fim de concluir o sistema a ser lançado, com a conexão de todas as casas à rede completa de saneamento.

"A gente espera que, com todos esses trabalhos sendo desenvolvidos, [os governantes] possam ter outro olhar e não estigmatizar a comunidade como degradadora ambiental. Ao contrário: se pegar fotos de 1985, 1990 e 2005, você vai ver a evolução da floresta'', resume bem Otávio Alves Barros, presidente da Associação de Moradores e da cooperativa da região. Foi Otávio que aos poucos introduziu o uso de tecnologias verdes para poder realizar o desenvolvimento da comunidade e combater ameaças de remoção.

O bom exemplo vem justamente na contramão de demais decisões em relação ao tema, como por exemplo a regionalização dos municípios na gestão do saneamento básico em São Paulo. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Água e Saneamento, os trâmites da decisão baseiam-se em laudos técnicos incompletos e desconectados com a gestão de recursos hídricos. Tudo sendo respaldado pelo curto prazo concedido pelo ML.

Em tempos de reorganização e tendo o tema amplo e irrestrita urgência, a favela figura como quem aponta os caminhos a serem seguidos, com ciência intelectual e orgânica. Dá pra pensar gestão e fazer. Os moradores de Vale Encantado que o digam.

p.s.: saúdo o afeto da editora Ana Prado, que segue noutros cenários e desafios. Vamos pra frente que pra trás não dá mais.