Artista deixa vida de administradora para fazer arte e design com cabaça
Carlos Madeiro
Colaboração para Ecoa, de Maceió (AL)
08/11/2021 06h00
Andressa Oliveira, 33, trabalha desde os 16 anos, quando começou como aprendiz no departamento de compras de uma indústria. Mas ela sabia que aquela não era sua vocação, e quis o destino que os ventos a levassem para a arte com cabaça, trabalho que vem ganhando destaque.
Formada em administração de empresas e design de interiores, ela mora em São Vicente, no litoral de São Paulo, e atuou por 15 anos na área, quando veio a faísca que precisava para iniciar sua carreira como artista.
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"Em 2018, após oito anos atuando em meu último emprego —e já cansada da rotina exaustiva e chefes extremamente abusivos — fui desligada. Foi aí que tive a oportunidade de mudar completamente o rumo da minha vida. Foi a minha virada de chave", conta.
Após a demissão, viajou para a Chapada Diamantina (BA). "Lá pude pela primeira vez me conectar de verdade com a natureza, e com minhas raízes — uma vez que meus antepassados viveram no estado da Bahia", diz.
Naquele momento, de "reflexão e decisões", ela resolveu que iria realizar os seus sonhos. "Queria trabalhar para pessoas, mas de uma maneira diferente, de forma que eu pudesse ter reconhecimento e ver pessoas felizes com o que eu entregasse", assegura.
Foi assim que ela deu início a um pequeno negócio de acessórios para o corpo, como brincos e colares. Depois, vieram itens para a casa, como luminárias, bowls e esculturas de parede, todas produzidas com cordas de diversos tipos.
Mas ela não estava 100% satisfeita. "[O material] era algo que já estava em abundância no mercado, e eu queria algo novo e diferente. Comecei a pesquisar sobre novos materiais e novas possibilidades também, e cheguei até a cabaça, que é um fruto muito presente em nosso cotidiano, mas que a meu ver, não recebia o valor que merecia".
Então pensei: 'como algo tão versátil, tão resistente e tão histórico, não era explorado e utilizado de maneira nobre por nós?'
Andressa começou a pesquisar mais sobre o fruto, desde os primeiros registros de sua existência, onde surgiu, e como povos originários o utilizavam. Foi então, diz, que um mundo novo se abriu.
"Eu quis inserir de alguma maneira itens que eu já utilizava, como cordões de algodão, à cabaça. Surgiu assim o protótipo da Série Enigmas. Uma cabaça linda e brilhante, com fios de algodão saindo de dentro da peça. Fiquei encantada e feliz com o teste, na parede ficou linda e tive certeza de que estava no caminho. Segui com os trabalhos e através de minhas pesquisas, notei uma relação muito próxima do fruto com a cultura africana, e as religiões de matriz africana", resume.
A partir disso, ela lançou sua coleção "Orixás". Além da cabaça e fios de algodão, ela adiciona itens como pedras naturais, pérolas de água doce, búzios, sementes e o que mais estiver ao alcance de sua criatividade.
"Através desse trabalho em específico, me conectei com clientes incríveis, que respeitaram demais o meu ofício e os meus processos. Com esse trabalho, fui notada pela revista 'Casa Vogue', artistas e influencers como Guta Virtuoso, Fernanda Paes Leme. Minha arte pôde ser vista também na 'Casa&Jardim', 'Casa Cor' e 'Histórias de Casa', sempre em projetos muito especiais", pontua.
Ter conhecido grandes artistas motivou Andressa a estudar novas técnicas, e assim ela iniciou outra arte: as pinturas em tecidos. "Ainda é algo novo, mas extremamente apaixonante", diz.
Para ela, não há nada melhor que saber que o seu trabalho motiva e inspira pessoas, chegando até fora do país ou em "pessoas que eu jamais poderia imaginar."
Enxergar em superfícies improváveis, possibilidades a serem exploradas, mesmo sendo autodidata, me motiva a seguir esse caminho tão lindo que é o da arte. Por vezes recebo mensagens de pessoas que acompanharam a minha mudança, que sabem da minha história, dizendo que tive muita coragem em mudar completamente. Sinto que o objetivo de ser reconhecida, vem sendo atingido.
Prêmio Ecoa
Andressa é a artista responsável pela produção dos convites e troféus da primeira edição do Prêmio Ecoa — todos feitos de forma manual. Os itens estão sendo desenvolvidos de acordo com um desenho do artista plástico Renato Tija, criado especialmente para o evento.
"Fiz a proposta de 'desconstruir' o desenho dele e dar meu toque, até mesmo para não descaracterizar o meu trabalho. Enquanto o Renato trabalha com simetria e precisão obtida através de fitas e nivelamento em seus elementos, eu entro com a proposta de releitura desses elementos, de forma mais livre, inserindo materiais que utilizo em meus trabalhos, nesse especificamente, o tecido de algodão, a pintura manual e composições mais orgânicas", finaliza.