Arte/UOL

No fim de maio, a cantora Ivete Sangalo completou 50 anos. E um dos "presentes" veio em forma de um especial na TV Globo cuja chamada era "a gente sabe que não parece, mas nossa Veveta completa 50 anos".

A fala causou estranheza e mal-estar. "Como a Ivete deveria parecer?", perguntaram-se muitas mulheres com a mesma idade da cantora ou chegando lá.

É espantoso que uma mulher de 50 anos esteja no auge da carreira e se sentindo bela, ativa, plena, sexy e feliz? Em anos anteriores, talvez a chamada caísse bem e fosse encarada até como elogio. Mas, hoje, definitivamente, as coisas são diferentes.

Lailson Santos

"Somos a primeira geração de pessoas com mais de 45 anos a falar sobre maturidade, a questionar muitas coisas e a viver mais"

(Silvia Ruiz, jornalista e curadora do Ageless Talks)

Silvia Ruiz é autora da coluna Ageless e idealizadora do Ageless Talks, evento apresentado por VivaBem, que chegou em sua terceira edição no último dia 23 de junho.

Pela primeira vez, o evento pôde reunir presencialmente convidados especiais e uma plateia, que acompanhou ao vivo o que toda a audiência de VivaBem também pôde assistir virtualmente.

Ao longo da programação, homens e mulheres refletiram sobre atemporalidade da beleza, vida sexual, representatividade e tantos outros assuntos que confirmaram: como Ivete, mulheres e homens com mais de 45 anos existem e estão no jogo. Veja abaixo os destaques do evento.

Não gostaria de voltar atrás. Quero desbravar o que a vida está me oferecendo agora.

Marina Lima, cantora, em entrevista na abertura do evento

Confira a íntegra da entrevista com Marina Lima

A indústria da beleza parece estar, de fato, entendendo. Há uma nova ordem sobre antienvelhecimento, embora cosméticos atenuadores de sinais da idade ainda consistam em uma categoria importante. E, claro, elas seguem buscando procedimentos estéticos para manter o viço, o contorno e por aí vai.

A questão é: os meios seguem os mesmos, mas o fim esperado é muito mais um aspecto natural ou aquele tipo de beleza atemporal. Ou, nas palavras da atriz Cristiana Oliveira, "ao longo dos anos, ou você aceita como se enxerga e passa a ser feliz com aquilo ou será sempre frustrada".

Especialistas do setor apontam que esta foi mais uma das tendências cristalizadas ao longo da pandemia. Ao se dedicarem mais ao autocuidado e à saúde mental, a positividade estimulada neste contexto se estendeu ao corpo. De acordo com a dermatologista Bianca Viscomi, "mulheres hoje se permitem envelhecer de maneira mais equilibrada. Sinto uma maior aceitação conjunta".

Neste sentido, a beleza passou a parecer com saúde e, principalmente as mulheres, buscam hoje uma pele e um corpo saudável dentro do que sua idade permite e não que remeta aos padrões de juventude.

Uma jornada que geralmente acontece como contou a advogada Eliane Dias: "Eu me vejo hoje bem mais tranquila do que aos 18, 25 anos. Quis ter um corpo diferente, mas não deu e sou bem resolvida com isso."

Mulheres hoje se permitem envelhecer de maneira mais equilibrada. Sinto uma maior aceitação conjunta.

Bianca Viscomi, dermatologista

Aprendi ao longo dos anos, ou você aceita como se enxerga e passa a ser feliz com aquilo ou será sempre frustrada.

Cristiana Oliveira, atriz

Eu me vejo hoje bem mais tranquila que aos 18, 25 anos. Quis ter um corpo diferente, mas não deu e sou bem resolvida com isso.

Eliane Dias, advogada

Confira o painel 1 na íntegra

Não é sobre sexo, mas sexualidade. Libido tem prazo de validade? Bem, ao avaliar o contexto em que ela se desenrola, é muito menos sobre idade do que costuma parecer. Não só na maturidade, mas sobretudo nesta etapa. Pode-se dizer que a manutenção do desejo pede mais estímulos.

Um exemplo, conforme a sexóloga Ana Canosa, é a ativação da chamada memória erótica —sim, o resgate de alguma transa ou momento de muito tesão. Que, nas palavras de Canosa, "quando há no sexo um encontro e uma química forte, isso salva o momento em que não estamos tão disponíveis fisicamente".

O conhecimento que se tem ou se pode acumular a partir da experiência também conta e pode fazer com que a qualidade —algo que as maduras e maduros valorizam mais— alcance os melhores patamares. "É preciso explorar a sabedoria do corpo", diz a atriz Tania Khalill, num conselho que vale tanto para solteiras, quanto para aquelas que, como ela, estejam em um casamento longevo.

Por fim, vale investir na masturbação. O que inclusive vem sendo recomendado por médicos, baseados em estudos e evidências consistentes sobre o benefício terapêutico do uso de vibradores para mulheres.

Comunicadora e uma das pioneiras ao trazer conteúdos sexuais para a TV, Penélope Nova atesta: "Masturbação é fundamental para uma sexualidade plena. Uma por dia garante a alegria".

Quando há no sexo um encontro e uma química forte, a memória erótica salva o momento em que não estamos tão disponíveis fisicamente.

Ana Canosa, sexóloga

A libido não tem prazo de validade ou hora para acabar, ela se transforma. É preciso explorar a sabedoria do corpo.

Tania Khalill, atriz

Masturbação é fundamental para uma sexualidade plena. Uma por dia garante a alegria.

Penélope Nova, comunicadora

Confira o painel 2 na íntegra

Desde 2015, a Aliança sem Estereótipos da ONU Mulheres realiza a pesquisa TODXS, que mapeia a representatividade na mídia brasileira. Em sua versão mais recente, o estudo publicado em 2021 incorporou na análise —que inclui veículos tradicionais e redes sociais— novos públicos. Entre eles, as maduras e os maduros.

Muito embora já seja quase notícia velha, por assim dizer, que em breve o Brasil será o 6ª país mais velho do mundo, apenas 7% dos anunciantes avaliados na TODXS tiveram representações desta turma. Para a consultoria Hype60+, focada em consumidores maduros, vivemos uma revolução que obriga a revisitar conceitos e quebrar padrões e entender que é "no oceano azul da longevidade" que residem as grandes oportunidades de futuro.

Antenada na tendência, a roteirista Lícia Manzo abriu caminho na dramaturgia para uma representação mais contemporânea da geração da qual ela mesma faz parte aos 56 anos. Com a personagem Rebeca, a ex-modelo interpretada por Andréa Beltrão na novela "Um Lugar ao Sol", da Globo, Lícia levou para a tela os tantos conflitos que mulheres como ela enfrentam quando chegam ali pelo meio da vida, só que muito vivas.

"A geração anterior à nossa foi muito cruel com as mulheres, por falta de oportunidades e pela ideia severa de que mulher deveria viver para a casa", disse a autora, que reconhece na própria vivência muitos dos dilemas e comportamentos que fizeram da personagem o ponto mais alto da história.

Para Denise Fraga, também no elenco de "Um Lugar ao Sol", talvez tenha finalmente chegado a era em que "a maturidade é encarada como prêmio pela pele mais seca e as rugas".

A maturidade é o prêmio pela pele mais seca e as rugas. A percepção de um ciclo.

Denise Fraga, atriz

A geração anterior à nossa foi muito cruel com a mulher, por falta de oportunidades e pela ideia severa de que ela deveria viver para a casa.

Lícia Manzo, roteirista

Confira o painel 3 na íntegra

Quem se interessa por maturidade, mas ainda não conhece o geriatra e ativista Bill Thomas, pode dar um Google agora. Entre tantas reflexões muito contemporâneas acerca da maturidade, uma das mais célebres é a que ele chama de "tirania do ainda". Em uma explicação simplista, é sobre como usamos com certa frequência a palavra "ainda" ao exaltar pessoas mais velhas.

Pois bem, mesmo ao chegar aos 50, ainda há muita vida, muitas possibilidades e o que não deveria haver são tantos rótulos. Aliás, para quem vive esta idade, ela vem sendo tratada como a adolescência da maturidade.

Com conflitos, mudanças hormonais, corpo diferente e tudo o que a primeira adolescência vivida trouxe também. Há mais sinais e algum peso para as mulheres, como bem lembra a atriz e cantora Isabel Fillardis.

"A menopausa é difícil, tudo muda. Mas dá para conviver bem e ter qualidade de vida", conta ela, que enfrentou dificuldades sobretudo para encontrar um tempo para si e suas necessidades, sendo mãe de três filhos e uma mulher atravessando essa transição.

E, claro, a conta chega para homens também: "A história que você constrói vem com obrigações e compromissos", ponderou o ator Murilo Rosa, sob o ponto de vista do próprio processo.

A menopausa é difícil, tudo muda. Mas dá para conviver bem e ter qualidade de vida.

Isabel Fillardis, atriz e cantora

A história que você constrói vem com obrigações e compromissos.

Murilo Rosa, ator

Confira o painel 4 na íntegra

A ideia do antienvelhecimento está mesmo com os dias contados. Ou completamente ultrapassada. Porém, no combo da busca por envelhecer melhor, não podem faltar os exercícios. É a prática regular de esportes que, conforme o gerontólogo e doutor em saúde pública Alexandre da Silva, vai determinar ao longo da vida a forma como envelhecemos. "E é para todo mundo, cada um com seu objetivo", como pontuou a triatleta Fernanda Keller.

Sim, longevidade está ligada ao fato de se manter em movimento. Na ciência, a chamada Teoria dos Avós Ativos explica como a prática de exercícios físicos realoca a energia que não estava acumulada onde ela se faz necessária no organismo. E, assim como qualidade de vida na maturidade está relacionada ao se exercitar, o sedentarismo é o par perfeito para o desenvolvimento de doenças e a redução de expectativa de vida.

Para o ex-nadador Fernando Scherer, o Xuxa, além de um ofício, o esporte foi, por muito tempo, uma questão de saúde mental. "Hoje, tenho muito mais consciência no esporte do que quando atleta. Já não é uma questão de potência e resultado, mas de bem-estar", contou o medalhista olímpico.

A atriz e apresentadora Didi Wagner concordou: "Nossa vida é movimento para tudo, seja procurando propósito ou o nosso bem-estar, saúde mental e física".

A gente tem que cuidar do nosso corpo físico, onde nossa alma mora. O esporte é para todo mundo, cada um com seu objetivo.

Fernanda Keller, triatleta

Hoje tenho muito mais consciência no esporte que quando atleta. Já não é uma questão de potência e resultado, mas de bem-estar.

Fernando Scherer, ex-nadador

Nossa vida é movimento para tudo, seja procurando propósito ou o nosso bem-estar, saúde mental e física.

Didi Wagner, atriz e apresentadora

Confira o painel 5 na íntegra

Diego Lopes/Divulgação

"A vida é recomeço. E os dias são mais cheios, porque não tememos mais o vazio"

(Fabrício Carpinejar, escritor, durante speech de encerramento do evento)

Confira a íntegra do encerramento com Fabrício Carpinejar

Ageless Talks 2022 é um encontro da geração que passou dos 45 anos e que vem revolucionando o significado de envelhecer. As pessoas não querem apenas viver mais, buscam uma vida plena e com potência. Querem aprender coisas novas, viajar, cuidar da saúde do corpo e da mente e aproveitar o melhor do sexo.

Nesta terceira edição, o evento teve patrocínio de Genera, Vitasay e O Boticário. A jornalista e colunista de VivaBem Silvia Ruiz, idealizadora e curadora do Ageless Talks, apresentou o encontro deste ano, que teve produção e apoio na curadoria das jornalistas Diana Cortez e Bárbara Therrie e roteiro e cobertura de Lia Rizzo.

O evento está disponível na íntegra no canal do UOL no YouTube. Os melhores momentos da cobertura estão no Twitter de VivaBem.

Relembre as outras edições

Ageless Talks 2020

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Ageless Talks 2021

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