No último dia 24 de junho, VivaBem apresentou a segunda edição do Ageless Talks, uma série de painéis e entrevistas sobre a geração 45+. Idealizado por Silvia Ruiz, jornalista e autora da coluna Ageless, o evento contou com a participação de celebridades, atletas, especialistas e formadores de opinião, que trouxeram reflexões sobre suas próprias vivências e como envelhecer hoje em dia é completamente diferente do que era para as gerações anteriores.

Embora a pandemia tenha "roubado" quase dois anos em expectativa de vida dos brasileiros, retornando ao patamar de 2013, conforme pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA); aqueles que passaram dos 45, 50 ou 60 anos consistem hoje em um público relevante e que, até 2030, será maioria no país.

São homens e mulheres que seguem ativos em suas atividades econômicas, se conscientizaram que o estilo de vida determinará a forma como envelhecerão e que consomem, namoram e não se deixam reduzir à idade cronológica.

O debate acontece ainda em um momento mais que pertinente, já que a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou que a partir de janeiro de 2022 oficializará a velhice como doença pela Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).

Mundialmente usado por profissionais da saúde, o código CID é utilizado para determinar e classificar doenças. Não obstante às críticas técnicas, a decisão etarista do órgão corre completamente na contramão das tendências de comportamento observadas mundialmente por quem é "ageless" —ou seja, sem idade, porque desafia os clichês da maturidade.

Envelhecer hoje em dia é muito diferente do que era há duas décadas, um reflexo claro de um estilo de vida e atitude mais saudáveis adotados pelos novos maduros e também de uma mudança de comportamento.

Em 2017, numa pesquisa da SuperHuman que analisou o conceito de meia-idade a partir de entrevistas com mais de 500 mulheres com mais de 40 anos, dois terços delas afirmaram acreditar estar no auge da vida. Outras cerca de 67% consideraram ser mais confiantes na idade atual do que há dez anos.

Em uma entrevista especial para o evento, a atriz Mônica Martelli, 53, sintetizou o que parece ser o estado de espírito majoritário entre os novos maduros.

"Não voltaria nunca aos meus 30 anos", afirmou ela, que vive há dois anos uma nova história de amor "apaixonada como adolescente", sente a libido mais forte hoje do que há dez anos, tenta levar numa boa os efeitos da menopausa e segue em alta na carreira.

Há desafios e temores característicos de cada idade. Mas, como Mônica, mulheres e homens desta faixa etária já não se deixam paralisar por eles.

Essa é, portanto, uma geração que dá sinais muito claros: querem viver melhor enquanto caminham rumo à velhice. Para Silvia Ruiz, 51, a mídia, as marcas e a sociedade já começaram a entender. "Estamos aqui e estamos para jogo", afirmou a jornalista, antes de anunciar o primeiro painel da programação: "Etarismo, preconceito que afeta a saúde".

Cris Guerra, mediadora da conversa, comentou como constatou, ao chegar aos 50 anos, que nada ou muito pouco tinha mudado. "Cheguei a meio século de vida e não mudei minhas roupas, meus planos e meus sonhos", disse a comunicadora.

Ainda que hoje o número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil já seja superior ao de crianças com até 9 anos de idade, são raras as pessoas mais maduras que não tenham sentido em algum momento o peso do etarismo (preconceito com a idade). Quando não dos outros, nas próprias palavras, ao se pegar dizendo a si mesmo: "Será que ainda tenho idade para isso?".

Para Alexandre Silva, doutor em saúde pública, especialista em envelhecimento e colunista de VivaBem, as perguntas a se fazer são outras. "Tudo o que fizermos ao longo da vida determinará como envelheceremos. É uma construção", ponderou o fisioterapeuta.

Por isso, a jornalista Carla Vilhena, 53, que há um ano e meio assinou com a CNN depois de dois anos afastada da televisão, disse que a maturidade precisa ser celebrada. "Só envelhece quem não morre. É maravilhoso estar aqui e ainda contribuir para a sociedade."

Eles e elas transam sim. Contudo, sexo na maturidade ainda é tabu, já que uma vida sexual plena e ativa é quase sempre relacionada à juventude. O preconceito alarmou o Ministério da Saúde quando, em 2018, o Boletim Epidemiológico do órgão apontou que este era um dos fatores cruciais para o aumento da incidência do vírus HIV entre os mais velhos. No entanto, especialistas garantem que enquanto houver vida e desejo, haverá sexualidade.

Atuando há mais de 30 anos nesta seara, o psiquiatra Jairo Bouer, que também é colunista de VivaBem, lembra que um dos principais equívocos quando chega a idade é associar libido com questões biológicas. Quando, na realidade, ela está ligada a muitos outros estímulos.

Vale também para casais que estão juntos há muito tempo, como é o caso da apresentadora Adriane Galisteu, casada há mais de uma década.

Adriana considera ainda que a cumplicidade dos bons relacionamentos longos pode ajudar a trazer criatividade para a vida a dois com uso de brinquedos eróticos, por exemplo, e pela liberdade de se falar mais sobre fantasias. "Neste capítulo, a maturidade ajuda demais", diz ela.

Publicada há cerca de um ano, a pesquisa Wellness & Beleza Prateada revelou que o público feminino 60+ deseja que as marcas possam unir a estética contemporânea e atrativa ao conforto e usabilidade, levando em consideração as demandas específicas de seus corpos.

O levantamento apontou ainda que, embora 83% achem a beleza importante e 80% consumam cosméticos, 90% destas mulheres não se sentem representadas na comunicação das marcas de cosméticos.

Esse talvez seja um indício do porquê quando se fala na ditadura da beleza e da juventude, muitas mulheres tenham encontrado uma forma de lidar com essas imposições sociais pelo caminho do autoconhecimento e aceitação.

Algumas enfrentam enormes desafios, como foi o caso de Cláudia Liz, 52, uma das mais famosas top models brasileiras, que aos 27 anos decidiu passar por uma lipoaspiração motivada por um comentário a respeito de sua aparência. Por conta de uma complicação prévia ao procedimento, quase abreviou precocemente a carreira e a vida.

Atriz e modelo famosa nos anos 1980 e 1990, Mônica Moura voltou a modelar há alguns meses, aos 54 anos, por incentivo do filho e alimentada pela própria confiança.

Além da beleza madura, contou a seu favor a autoconfiança que cultivou ao longo da vida mesmo em momentos mais difíceis.

"Acredito na busca por se conhecer. Isso é que faz a pessoa bela em todas as fases", afirmou, apoiada pela maquiadora Fabi Gomes, moderadora da conversa sobre "Ditadura da Juventude x Ditadura da Aceitação" e para quem aprender a não se importar com a opinião alheia é um caminho trilhado com o tempo.

A população 50+ movimenta mais de R$ 1,8 trilhão, sendo a fatia com maior poder aquisitivo entre as gerações. Além de consumir, esses homens e mulheres querem seguir ativos no mercado de trabalho, produzindo, sem nenhuma pressa em se aposentar, ainda que o mercado tenda a fechar as portas para profissionais mais velhos.

No Brasil, é urgente que o preconceito contra os mais velhos nesta esfera seja repensado. Conforme pesquisa da PWC, 57% da força de trabalho brasileira terá mais de 45 anos até 2040.

É no ambiente corporativo que as dificuldades parecem maiores e predominante. Sobram, assim, dois caminhos, o do empreendedorismo —trilhado por muita gente madura neste cenário de pandemia— e o da reinvenção, criando formas de oferecer o mesmo trabalho por meios diferentes ou apostando em áreas ainda pouco exploradas.

Cantora e compositora, Teresa Cristina, o grande fenômeno musical do ano pandêmico, se jogou nas lives quando a angústia pelo contexto em que vivíamos tomou conta. "Passei a cantar nas lives para fugir da depressão", conta.

A cantoria começava pontualmente às 22h. Celular apoiado na mesa de sua casa na zona norte do Rio, frasco de álcool gel no cenário, histórias e repertório para homenagear outros grandes nomes, sobretudo do samba.

Foi assim que Teresa passou a "aglomerar" milhares de pessoas que, como ela, buscavam algum conforto. E aos 52 anos, privada de estar nos palcos, ganhou público e o primeiro grande patrocínio da carreira.

Já a criadora de conteúdo digital Consuelo Blocker, 55, pioneira entres as influencers brasileiras maduras, criou há uma década um blog para falar sobre seu estilo de vida. Ainda que sem querer, cavou para si um espaço antes dominado por meninas jovens, sem muito a contar, mas cheias de roupas bonitas para ostentar.

No repertório de Consuelo entravam assuntos leves como viagens e moda, mas também relatos das dificuldades pós-divórcio ou a maternidade com filhos crescidos. Anos mais tarde, focou o conteúdo no Instagram, onde desde então tem a companhia de seu público fiel (que só cresce), em uma rede social que pouco enxergava o público maduro.

Para Marcelo Tas, jornalista e apresentador, que atualmente também ministra aulas de comunicação em ambientes digitais, o etarismo precisa entrar na pauta do preconceito com o mesmo peso que outras formas de discriminação.

Em quase qualquer idade movimentar-se deveria ser hábito. Na maturidade, porém, precisa ser encarado como regra. Conforme o IBGE, em 2060 o Brasil terá um quarto da população na terceira idade, o que equivale a 58,2 milhões de pessoas.

E com isso, deve haver um aumento das doenças crônico-degenerativas mais comuns com a proximidade da velhice. Por isso a prática de exercícios deve ser encarada como um investimento a longo prazo, que determinará a qualidade do seu envelhecimento.

Personal trainer de muitas celebridades, entre as quais a apresentadora Adriane Galisteu, Marcio Lui atenta para um aspecto fundamental: "É preciso respeitar os limites do corpo".

Não há obrigatoriedade de práticas específicas e até caminhar com o cachorro ou se movimentar dentro de casa já traz benefícios. A atividade física ainda proporciona bem-estar psicológico e social, sendo associada à diminuição do risco de doenças como demência.

Silvia Poppovic nunca se incomodou por estar acima do peso considerado adequado. No entanto, reconhece que após eliminar quase 50 kg (com ajuda de cirurgia bariátrica) e incorporar uma rotina de exercícios, a apresentadora passou a se sentir mais ágil e, por consequência, mais elegante e feminina.

Já Otaviano Costa, que chegou a jogar vôlei profissionalmente, encara a prática de atividades físicas como desafio diário, uma forma de não desanimar ou sentir preguiça.

E nunca é tarde para começar. Idealmente, o foco deve ser na manutenção da capacidade funcional —um dos fatores que mais contribuem para melhor qualidade de vida do idoso—, com treinamento que trabalhe a força muscular, a flexibilidade e estimule o sistema cardiorrespiratório, a coordenação motora e o equilíbrio.